-Talvez, mas ainda estou com uma pequena dúvida. _Disse, sem me afastar por completo, sentindo a ponta do nariz frio dela no meu.
Ela arqueou uma das sobrancelhas perfeitamente desenhadas e colocou as mãos no meu pescoço outra vez, me puxando para outro beijo. Naquele momento sentia a paixão correr tão forte dentro da gente, sendo capaz até de nos fazer esquecer de tudo.
Eu sabia o que queria, mas precisava saber o que ela estava sentindo e se estava pronta para os próximos acontecimentos.
-Nós... vamos mesmo fazer isso? _Perguntei, com a respiração descompassada, descontente em ter que me afastar alguns centímetros para olhá-la nos olhos. -Quero dizer, é o que você quer?
-Você faz tantas perguntas... não consigo ser mais clara que isso! _Respondeu, tirando a jaqueta e jogando para o lado.
Diante da resposta satisfatória dela eu não tive mais dúvidas. Ela me queria tanto quanto eu a queria. Observei-a diante da luz amarelada que vinha da lareira, a alça de seu vestido azul estava caída sobre os ombros pálidos, quase como um convite, e decidi que não hesitaria mais nenhum segundo.
Antes que ela pudesse se dar conta, eu já estava me livrando de seu vestido, e olhando-a mais uma vez não conseguia imaginar que fosse capaz de existir cena mais linda que aquela.
-Você é tão linda. _Sussurrei, analisando cada pedacinho mágico do corpo dela.
-Eu sei! _Ela respondeu, com um sorriso convencido e me puxando de volta para si.
No momento em que minha boca alcançou seu pescoço, e senti as mãos dela nas minhas costas puxando minha blusa para cima, perdi toda a capacidade de raciocinar e apenas mergulhei no êxtase que corria pelo meu corpo.
Quando abri os olhos o sol já tinha raiado, iluminando o dia lá fora, enquanto Catarina estava ali nos meus braços, iluminando toda a minha vida. Não quis me mexer para não acordá-la, então simplesmente fiquei ali fitando o teto do chale, me sentindo o homem mais feliz do mundo. Não demorou para que Catarina despertasse, observei ela se virar para mim e fazer uma careta, me fazendo sorrir.
-Eu nunca dormi tão mal e tão bem ao mesmo tempo em toda a minha vida. _Murmurou.
-Definitivamente o chão de madeira não deve chegar aos pés do seu colchão importado.
-E o que é pior, essa casa tem 3 quartos maravilhosos e nós preferimos fazer de tudo e mais um pouco nesse chão frio e duro. _Disse, me fazendo rir.
-Podemos dizer que foi uma primeira experiência rústica, faz o meu estilo. _Falei, me inclinando para beijar a ponta do nariz dela. -Vou no banheiro e depois posso ver se sobrou alguma coisa de ontem para comermos no café da manhã.
-Não vai... ainda está cedo, vamos ficar aqui nesse torturador de coluna mais um pouco. _Falou, dando tapinhas no chão.
Sem poder negar um pedido daqueles, deitei e a abracei o mais perto que pude, e ela envolveu minha cintura com os braços, era como se mesmo depois da noite que tivemos, não fosse o suficiente, não queria me afastar dela nem por mais um segundo. Poderia ficar ali para sempre, sentindo o cheiro de chiclete de seu cabelo ruivo, a pele fria e macia, o peito colado no meu, me fazendo sentir até mesmo seus batimentos descompassados.
Acredito que adormecemos outra vez naquele abraço e acordei com a barriga de Catarina roncando, ou tinha sido a minha? não sei dizer. Como não tinha sobrado nada além de biscoitos amanteigados da noite de ontem, pedimos comida, e enquanto Catarina tomava um banho eu arrumei a mesa do quintal para nosso almoço.
-Eu poderia ficar naquela banheira por mais mil anos se fosse possível. _Ela disse, puxando uma cadeira e se sentando. -Qual é o meu?
-Esse sem graça cheio de saladas. _Respondi, enchendo o copo dela com suco. -Conseguiu entrar em contato com alguém da sua casa?
-Não, o sinal aqui é bem ruim, consegui só mandar uma mensagem para Louise mas antes que a resposta chegasse o 4g parou de funcionar outra vez. E meu pai entrou em contato com você?
-Não faço ideia, meu sinal também não é dos melhores aqui, pensei em depois do almoço andarmos pelas redondezas atrás de um ponto melhor de sinal.
-Pode ser... você acha que meu pai conseguiu alguma confissão do meu tio ou de algum dos caras que trabalham para ele? _Perguntou, com a fisionomia preocupada.
-Se tudo tiver saído como o planejado, acredito que sim, talvez possamos voltar para Blumenau amanhã mesmo.
-Mas você não acha que ele deveria ter mandado alguma notícia ontem então?
-Pode ser que sim, mas provavelmente estava ocupado tentando arrancar informações seja de quem fosse.
-Ainda é difícil acreditar que meu próprio tio tentou matar o meu pai e quer fazer o mesmo comigo.
-A ambição dele ultrapassa todos os limites, mas eu não entendo essa obsessão pela presidência, se seu pai é o irmão mais velho, é justo que ele...
-Aí é que está o problema, tio Félix é o mais velho, mas pelo o pouco que sei meu avô nunca confiou nele para administrar a empresa, eles não se davam muito bem.
-Faz sentido agora, seu avô fez bem em mantê-lo longe.
-Mas ele acabou criando um monstro.
-Não acho, provavelmente ele já conhecia a personalidade do seu tio e sabia que se desse mais poder a ele poderia arruinar a vida de todos vocês.
Catarina apenas concordou, enquanto colocava mais uma garfada de couve na boca. Nesse momento meu celular começou a tremer e tocar, Catarina que estava mais próxima o pegou e olhou o visor, imaginando que fosse ligação do pai, mas não era. O alarme que eu tinha colocado para me lembrar da entrevista na faculdade. Era hoje. Eu havia me esquecido completamente.
-Entrevista na faculdade? _Ela indagou, me entregando o celular.
-Ah não é nada demais. _Murmurei, dando de ombros.
-Como nada demais? que entrevista é essa? nem sabia que estava tentando entrar na faculdade...
-Estávamos sem nos falar se lembra? mas eu não estava atrás de faculdade ainda, queria me preocupar com isso depois que arranjasse outro emprego, mas então entraram em contato comigo e me ofereceram uma bolsa.
-Miguel, isso é o máximo! _Falou, animada, soltando o garfo na mesa. -Mas... esse alarme significa que a entrevista era hoje?
-Meio que sim.
-Cacete Miguel, como você fala isso nessa tranquilidade?! o que estamos fazendo aqui? você deveria estar lá! _Disse, levantando da cadeira.
-Eu deveria estar exatamente onde estou agora, então senta aí e se acalma.
-Não, você não vai perder uma oportunidade dessas por minha causa! _Protestou.
-E você pretende fazer o quê? se tiver um jatinho particular por aqui me fala que eu entro nele agora mesmo. _Falei, rindo, mas ela não riu de volta, pelo contrário, ainda me encarava com uma expressão chocada e ansiosa.
-Não tem graça... _Murmurou, e de repente sua expressão mudou, ela parecia estar prestes a...
-Você está chorando? _Indaguei, me levantando e indo até ela.
-Não é justo... você lutou muito pra conseguir uma chance como essa para vir uma patricinha como eu e tirar ela de você!
-Ei! _Me aproximei ainda mais, pegando suas mãos e as apertando junto as minhas. -Não é culpa sua, na verdade é um absurdo que você ache que uma faculdade valha mais do que a sua vida! Eu sempre corri atrás e continuarei correndo, não é como se eu estivesse jogando todas as minhas oportunidades fora faltando essa entrevista, terão outras.
-Eu sei que você é capaz de conseguir muito mais, mas mesmo assim me sinto mal por ter se sacrificado assim...
-Você é tudo o que me importa no momento, já é?
Ela abriu um sorriso fraco, que derreteu meu coração.
-Já é. _Sussurrou, me abraçando.
Depois de terminarmos de comer, descansamos por alguns minutos na varanda, em certo momento observei Catarina olhar o balanço no gramado e sorrir.
-Vem, vamos ver se esse balanço que vocês construíram é seguro mesmo. _Disse, pegando a mão dela e a puxando.
-Nós acabamos de comer!
-Ah só pode estar de brincadeira, você chama aquela saladinha que tu forrou o estômago de comida?!
-Se eu vomitar vai ser em cima de você! _Ela disse, já sentando no balanço.
A empurrei uma vez, outra vez, e na terceira vez ela já estava indo até o alto, sua risada me soava como uma música dessas que a gente deixa no replay e que não quer deixar de escutar nem por um minuto.
-Mais alto! _Ela gritou, os cabelos ruivos se rebelando no rosto dela.
-Se voar daí eu não sei onde encontraremos um pronto socorro por aqui! _Falei, rindo.
Ficamos vivendo como crianças por uma eternidade, quando eu desci do balanço Catarina sacodia os braços, doloridos de tanto me empurrar.
-Quando foi que ficou tão calor aqui? _Reclamou, olhando o céu, que estava claro e apesar de não ter sol, o mormaço já era o suficiente para nos fazer suar. -Sabe do que eu preciso agora? um banho geladinho na jacuzzi!
Enquanto ela prendia os cabelos em um coque, ouvi o barulho da cachoeira ao longe. Desde que soube da existência dela não consegui parar de pensar na possibilidade e dar um mergulho. De todos os luxos daquela família definitivamente ter um quintal com acesso direto a uma cachoeira era o melhor dos luxos para mim.
-Eu tenho uma ideia melhor, vem comigo! _Falei, segurando sua mão mais uma vez e quase a arrastando.
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Aquela jaqueta de couro
RomanceCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...