Capítulo Úncio ~Revisado

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Quando você era bem pequeno, gostava de caçar borboletas no jardim. Você se lembra disso? Você corria atrás delas feito um louco, mas se alguma ousasse voar para cima de você, imediatamente você se escondia atrás de mim, choramingando agachado. Era fofo e engraçado. Mesmo que elas te assustassem as vezes, você continuava perseguindo-as. Você adorava elas. Me pergunto se agora que minha garganta é rasgada por um jardim inteiro, minhas borboletas o atraírão também. Eu estou sufocando.

Semana passada eu tossi por quase meia hora seguida. Mal conseguia respirar, e sempre que fazia alguma força acabava com uma pétala presa na garganta. Essa manhã foi uma flor inteira. É bonito, no geral, por que sem todo o sangue elas são flores lindas. Tão cheias de vida que mal posso acreditar que realmente saíram de mim. Com toda a tristeza que tenho aqui dentro, você não acha maravilhoso que eu consiga colocar para fora um jardim inteiro?

Mas não se preocupe, apesar de tudo, eu estou bem. Não estou frustrado, nem posso culpar a ninguém. Só por que você não me ama do jeito que eu queria, não quer dizer que não te amei com tudo que pude. Quantas borboletas você acha que seríam atraídas pelo meu jardim?

Notei que sempre que lembro de você, uma flor desabrocha na minha garganta. É incomodo, para ser sincero, por que embora seja bonito, me machuca. Isso não te lembra um pouco o amor? É lindo e machuca. Acho que é triste e contraditório, mas de qualquer maneira para cada lembrança há uma flor diferente. Quando me lembro da nossa infância e das borboletas, desabrocha uma jasmim, gosto delas por que, apesar do cheiro forte de ferro que vem junto com meu sangue, elas têm um perfume tão doce quanto o seu. Quando me lembro de suas piadas, desabrocham violetas, acho que elas são tão tristes e deprimentes quanto as suas piadas, eu precisava te dizer isso antes de morrer. Desculpa.

Quando me lembro do teu corpo, desabrocham rosas. Ah, elas são tão lindas. Se misturam nos tons de carmesim ao meu sangue e se transformam no oceano vermelho, feito inteiro de você. Perfeito. Acho que ser inatingível se torna surreal. Veja, eu posso criar um oceano colorido com tudo que sinto por você. Bonito, não é? Eu não me lembro exatamente como isso começou. Na primeira vez que você me disse não, eu senti falta de ar. Na segunda, eu tossi. Na terceira, sufoquei.

E agora parece que não sou mais capaz de respirar sem que meu coração e pulmão desembestem a cultivar flores de todos os tipos. Eu procurei um médico, ele disse que eu vou morrer. Bem, Não foi exatamente isso que ele disse, mas morrer é minha única opção para acabar com esse jardim que existe dentro de mim, ou eu teria que fazer uma cirurgia, mas se a fizer,  não vou sentir mais nada. Não vou ter mais nenhuma lembrança. Que piada não é mesmo?

Aquele médico definitivamente, não batia bem da cabeça. Acha que só por que é doutor pode me dizer uma coisa dessas? Do que vale viver se não vou mais te amar? Eu vou morrer afinal. E então não haverá mais um jardim dentro de mim. Haverá apenas eu dentro de mim jardim. É uma bela maneira de morrer não acha? Meu amor vai desabrochar por todos os lados e vai se eternizar em cada flor.

Acho que dessa maneira, as borboletas virão e enfim, você também.

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Olá olá 🥕
demorou alguns dia pra escrever porque me faltou criatividade.
Foi minha primeira escrita aqui! Espero que tenham gostado!

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