DANÇANDO ENTRELINHAS

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27 de Julho de 1975, Saltburn-by-the-sea

-Sua mãe está te procurando, Kate. Ela disse q...

-Certo, certo. -Sirius interrompeu mal humorado- Precisavam gritar como malucas?

Erin revirou os olhos e direcionou uma ofensa ao rapaz. Kate suspirou, quando Sandrine explodiu em empolgação.

-Lorde Voldemort está aqui!

Katherine segurou nas grades da varanda com uma das mãos enquanto encarava algum ponto atrás das três meninas (que agora falavam sem parar, empolgadas). Kate não ouvia nada, completamente transtornada. Ela engoliu em seco, não conseguia se mover.

"Ok, Kate. Você sabia que ele viria, Sandrine te disse na carta, você quem decidiu vir, foi você mesma quem quis se meter nesse problemão, agora terá de encarar!"

A menina respirou fundo e ergueu os olhos.

-Meninas. -Ela chamou, dotando a voz de um tom natural e impassível- Avisem a minha mãe que estarei lá em um minuto.

Sandrine quis perguntar porque não ir agora e Laghoire sentiu um ímpeto de provocar a garota.

-Garotas, -Erin interrompeu- Se nossa amiga pede para irmos, nós vamos.

A filha do meio dos Rosier olhou para o chale lilás caído em uma das espreguiçadeiras da varanda e as luvas que eram arrastadas pela brisa por todo o chão escuro de madeira. Então olhou para Sirius e Kate. Katherine parecia consternada, mas Erin não achou aquilo suspeito. Pelo contrário, considerou a reação a menina compreensível em vista do fato de que havia sido flagrada tão próxima de um garoto com uma fama não muito boa.

-Recomponha-se, querida. Te esperamos lá dentro. Vamos, meninas.

As outras duas obedeceram apesar dos protestos e o grupo se afastou.

Sirius se voltou para Kate e encontrou a menina apoiada com ambas as mãos sobre a sacada, com os olhos focados em um ponto indefinido do céu noturno e a mandíbula tensa. Ela nem sequer parecia notar que ele ainda estava lá. Ele, que havia acompanhando a observação implícita de Erin Rosier sobre os dois, percebeu partes do traje da garota espalhadas pelo lugar. Se afastou para pegar as luvas, que corriam dele, arrastadas pelo vento e seguiu em direção ao chale acomodado em uma das peças de mobília.

Katherine se matinha parada, muito embora, Sirius tenha notado que fechara os olhos. Todo o corpo dela parecia tremer, como se estivesse com frio, apesar da temperatura agradável naquela noite de verão. Kate tentava acalmar a própria respiração enquanto as pálpebras fechadas pulsavam em nervosismo.

Ele se preocupou, sem entender muito bem o porquê. Os dois não haviam sido muito gentis um com o outro a alguns minutos atrás. Eles não eram amigos. Na verdade, Kate parecia ter uma forte opinião negativa sobre ele. Sirius chamou pelo nome dela. Ela não respondeu.

Sirius pegou o chale e, com ambas as mãos, o colocou sobre os ombros dela, cobrindo a pele exposta de suas costas. Ele tentou arrumar o tecido sobre ela da melhor forma possível, segurando as laterais dos braços dela, para que a peça não delicada não saísse voando.

-Kate. Kate, você está bem? Quer que eu chame alguém?

A menina abriu os olhos e se virou para ele, fazendo que não rapidamente com a cabeça. Ela encarou os nós dos dedos totalmente brancos devido a força que aplicava sobre a grade na qual se segurava. Num ímpeto, desprendeu-se dalí e abraçou a si mesma, repuxando o chale que ameaçava voar com o vento e se deixou apoiar de costas na sacada. Ela bufou e encarou o teto. Que droga, ele não deveria tê-la visto daquela maneira. Como ela iria explicar aquilo, ele com certeza iria lhe perguntar.

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