Minhas pernas estavam doloridas, depois de literalmente um dia inteiro sentada num banco de carro, observando a igreja. Não que o automóvel de Maxon fosse desconfortável, mas, claramente não era um lugar apto para se passar horas e horas.
A noite já havia tomado o céu azulado para si, quando finalmente colocamos os pés em terra firme. Um suspiro aliviado escapou de minha boca, deleitando-se com a sensação única de esticar meu corpo. Meus companheiros não pareciam tão diferentes de mim, enquanto se espreguiçavam, satisfeitos.
— Eu e Ramona chegaremos o perímetro. — disse Maxon, puxando a namorada pela mão. — Ah, sempre quis falar isso... Parece que estamos fazendo algo importante. — o moreno abriu um sorriso sarcástico, iluminado somente pela lua, e pelos poucos postes que haviam perto.
— Não parece, idiota. — Ramona deu uma cotovelada consideravelmente forte em seu peito. — Nós estamos.
— Eu e Caliban veremos o quão perto podemos chegar desse belo edifício de ritos religiosos. — segurei a mão do loiro, de uma forma tão despretensiosa, que só notei depois de sentir seu calor roçando em minha mão.
Maxon balançou a cabeça, revezando o seu olhar entre meu rosto e a mão de Caliban na minha, antes de se despedir com um sorriso insinuador, acompanhado pela sucúbu. Imediatamente soltei o rapaz, desejando apagar a idiotice que tinha feito da minha mente.
— Por que soltou, princesa? — ele questionou. — Eu gostei.
— Não deveria.
Nós começamos uma caminhada lenta até o monumento religioso, com uma boa distância nos separando. A igreja estava vazia, depois de um longo dia de cultos e visitas turísticas.
O príncipe de barro fitou meu rosto, com um sorriso leve nos lábios avermelhados, enquanto me estudava. Ah, ele estava surpreendentemente mais bonito, vestindo as roupas emprestadas de seu irmão. A calça rasgada e a jaqueta de couro pareciam ter sido feitas em suas proporções, exatamente para ele.
— Pensei que humanos gostassem de demonstrações de carinho.
— Estou começando a achar que você realmente tem um manual, Caliban. — eu ri, provocando-o. — Só não sei porque se importou em aprendê-lo.
— Sei que você não é uma humana. — enquanto ele falava, o ar gélido do ambiente se transformava em fumaça. — Mas viveu muito tempo como uma, certo?
— Por anos, mas... — uma barreira invisível acertou meu corpo, me fazendo recuar. Então esse era o limite, dez metros afastados da igreja. — Não sei aonde você quer chegar com isso. — cruzei os braços.
— Nem eu, princesa. — ele coçou a nuca, evitando me olhar quando admitiu : — Mas, estranhamente, algo me faz querer que você goste de mim. — quando o loiro voltou a me olhar, esticou a mão, como se estivesse prestes a tocar em meu rosto.
E isso teria acontecido, caso Ramona e Maxon não aparecessem, correndo de forma desesperada em nossa direção. Seus semblantes exibiam uma constante alternância entre temor e diversão.
Eternos jovens e rebeldes.
Não foi preciso de muito tempo para que nos alcançassem.
— O que diabos está acontecendo? — Caliban se antecipou ao questionar.
— Olhe para o céu, querido. — Ramona ordenou, seguindo o próprio comando também. Dois pontinhos cintilantes pareciam se aproximar cada vez mais. — São malditos anjos.
Eles despencavam do céu, como meteoros, iluminando desde a igreja até a floresta localizada pelas redondezas. Coloquei as mãos entreabertas na frente de meu rosto, tentando não ficar desnorteada com a claridade.
Ramona adquiriu uma posição defensiva, com duas enormes asas saltando para fora de si, três vezes maiores do que ela. Não pareciam ser feitas de penas, mas da mais pura escuridão. Seus olhos cinzas aniquilaram o tom castanho, brilhando, como se desafiassem os seres acima a serem melhores do que ela.
Caliban gesticulou, fazendo com que aparecessem duas espadas longas e pontiagudas, uma em cada mão. Ele as girou tão facilmente, que os anjos pareciam crianças em comparação ao temível príncipe do inferno.
Maxon simplesmente exalou sombras para fora do corpo, se cobrindo por completo. E quando elas desapareceram... Não era mais um rapaz, era uma besta, sem dúvidas maior do que todos nós juntos. Suas pupilas afiadas, no meio das auréolas vermelhas, se voltaram para a namorada, como se para manter a sanidade. A súcubo acariciou brevemente a pelagem no pescoço de Maxon.E então, quando as duas figuras angelicais pousaram em nossa frente, eu soube que era minha vez.
Um chamado estrondoso ecoou por todo o meu ser, convocando tudo o que eu tinha, chamando-os para brincar do lado de fora. Fogo, trevas e perversidade entrelaçados, pulsando loucamente em minhas veias.
Ah, os seres angelicais estavam muito, muito ferrados.
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𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨
FantasyO vazio achou uma brecha na vida de Sabrina no exato momento em que ela abdicou do "Spellman" em seu nome, no exato momento em que ela deixou de ser dócil e amável, no exato momento em que... Ela se tornou ela mesma. E, cuidar do inferno estava l...