Por favor, corte o fio

Liberdade, Amor e Vida

Existe uma lenda chamada Akai Ito: O fio vermelho do destino. Segundo a lenda, almas não foram feitas para ficarem sozinhas. Portanto, com o mesmo material que constitui as almas, é forjado pela própria realidade um fio vermelho invisível que une as pessoas que estão predestinadas a ficarem juntas, independentemente do tempo, lugar ou circunstância. Esse fio pode esticar ou emaranhar, mas nem mesmo o poder soberano da morte pode destruí-lo.

Entretanto, ninguém sabe dizer ao certo onde essa lenda começou. A história mais aceita é a que é protagonizada por dois jovens, Rineway e Elliot, séculos atrás. Os dois moravam em um pequeno vilarejo, afastado de toda e qualquer civilização. Conheciam-se desde pequenos, eram inseparáveis, uma linda amizade que com o florescer do tempo, virou um amor puro e singelo.

Contudo, uma tribo nômade guerreira apareceu pelas redondezas. O chefe do vilarejo, temendo a quantidade expressiva de mortos que um confronto geraria, optou por uma aliança de paz. Ofereceu a moça mais bela do vilarejo para se casar com o filho do chefe da tribo.

Ocorre, contudo, que a moça mais bela do vilarejo era Rineway. E a jovem, mais apaixonada por Elliot que em qualquer outro momento de sua vida, decide que os dois precisariam tomar uma atitude que impedisse o casamento arranjado: iriam se casar antes.

Então, no dia anterior ao do acordo de paz, Rineway e Elliot foram para as cavernas próximas ao vilarejo, e lá segundo os rituais de seus antepassados, amarram um pequeno fio em seus dedos, simbolizando a união do dois, e por fim, com um beijo, o casamento estava concretizado.

No dia seguinte, o chefe do vilarejo, ao perceber o pequeno fio amarrado no dedo dos dois, se encheu de fúria. Incapaz de quebrar a união feita pelos ritos sagrados, o chefe condenou Rineway e Elliot a morte.

Os dois amantes, por fim, morreram um do lado do outro. E a lenda conta ainda que no fim de tudo, já não havia fio branco; o que unia o casal era um belo fio vermelho, que representava o sangue derramado naquela noite, mas também o amor de dois jovens que preferiram morrer juntos ao viverem separados.

Essa é a lenda. Particularmente, eu acho uma história bem bonita para se contar para as novas gerações, isso se você não considerar a ingenuidade dos jovens. E nem me refiro aos que irão ouvir a história, mas sim dos jovens da lenda.

Porque sejamos sincero, eles foram bem idiotas. Mas antes que você me odeie por difamar uma lenda tão antiga, peço que se acalme.

Lenda são histórias complexas, o tempo é um veneno mortal que atua sobre elas. Desta forma, podem ter muitas coisas em suas histórias preferidas que sequer passaram perto de existir. Mas especificamente sobre o Akai Ito, a lenda de Rineway e Elliot tem muitos problemas. Fato esse tão concreto que, embora ainda seja a versão mais famosa, muitos preferem desconsidera-la. Pois sejamos sinceros, a ideia de morte por amor é complicada demais para a mente de adolescentes, e eu avisei Shakespeare sobre isso.

Mas além de qualquer outro problema que eu pudesse apontar na história do fio vermelho do destino, o que mais me incomoda é um extremamente subjetivo e pessoal: ninguém sabe o que ocorre depois do final. Eu sei que você deve estar pensando que é irracional minha revolta por não saber o que ocorre após uma história com final concreto, e ainda mais um final que envolve a morte dos protagonistas.