Prólogo

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"Baby, serei seu predador essa noite
Te caçarei, te comerei viva
Como animais, animais, como animais-mais
Talvez você pense que pode se esconder
Mas eu consigo sentir seu cheiro de longe
Como animais, animais, como animais-mais
Baby, eu sou..."- Animals, Maroon 5

12 anos antes...

-Não! Papai, por favor!- Grito, apavorada, o medo me corroendo enquanto corro em pleno pulmões. Senti que meu coração iria saltar pela garganta a cada passo que eu dava. Nunca, em toda a minha vida, senti tanto medo; medo de morrer e ser esquecida, largada e abandonada como uma qualquer.

Correndo aleatoriamente pela escuridão de Jacutinga,descalça e vestindo apenas um simples vestido de pano velho que mamãe tinha me feito à alguns anos atrás, levemente apertado pelo tempo, não consegui pensar em nada além de correr. Fugir. Até as pernas, nuas, doerem, queimarem, assim como meu coração naquele momento.

-Volta aqui, sua vadiazinha!

Quase cai com a voz atrás de mim, chegando cada vez mais perto, acobertada pelas infinidades de árvores que me cercavam. Com uma força tirada do fundo da minha alma, tentei correr mais rápido, pouco me importando com os espinhos dolorosos em meus pés, ou com o frio eletrizante que me cobria, deixando tudo ainda mais apavorante. A respiração abafada, entrecortada, difícil, frenética, veloz, dolorida.

-Não faça malcriação, caralho! Você sabe que o papai fica com muita raiva quando você não me obedece.

Meu rosto completamente molhado com a quantidade absurda de lágrimas que insistiam em sair pelos meus olhos, geladas, pelo vento forte que me cortava,punia, me machucava e me lembrava do pesadelo em que me encontrara.

Tomei um susto quando tropeçei em alguma coisa e fui brutalmente de encontro com o chão de terra, molhada. Senti de imediato um gosto metálico na boca, o gosto azedo que eu rapidamente me acostumei a sentir diariamente, o sangue era como um mar de tristeza em minha boca,sempre presente. Ainda no chão, sem forças para me levantar,cuspi, tentando tirar o gosto ruim da boca. Tentei me levantar, mas os braços finos eram incapazes de fazer o serviço, me deixando no chão, toda suja e largada.

-Peguei você!- A voz grave rompeu na noitada , fazendo-me tremer, suar, mesmo no frio. A boca já se preparava para gritar e os olhos estavam tão arregalados que, naquele momento, sentia que podiam pular a qualquer momento.

O ar me faltou ao sentir as grandes mãos em meus cabelos. A dor acusada pelos fios radicalmente arrancados da cabeça nem se compara com o medo escaldante que sentia dele. Meu pai. Meu protetor. Meu porto seguro . Meu herói, que agora faz papel de vilão no final do filme.

-Papai, eu imploro, pare com isso!

O rosto ardeu com o grotesco tapa no lado direito do rosto, fazendo-me uivar alto, e novamente sentindo o gosto de sangue fresco na língua.

-Cala a porra da boca! Quem você pensa que é para me dar ordens, hein? Você é uma putinha desgraçada, assim como sua mãe, aquela vadia. Você nunca me ouve, não entende!Burra! Burra! Devia eu mesmo ter arrancado você da barriga de sua mãe, quando tive a chance. -Gritou em meu rosto, cuspindo. A raiva incompreensível saindo por suas duras palavras. Senti seu cheiro podre. Cheiro de bebida que eu já estava acostumada."Whiskey puro é o melhor" como dizia ele. O cheiro enjoativo me fez tampar a boca as pressas.

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