Capítulo 10 - Certo
"O óbvio é a verdade mais difícil de enxergar." – Clarice Lispector.
A situação estava honestamente complicada para o meu lado.
Sehun era muito duro na queda. Ele havia colocado na cabeça que a palavra "nós" nunca mais seria usada para nos classificar e andava mais arisco do que costumava ser, sempre tomando cuidado para que não acabássemos trocando um olhar mais longo ou ficando próximos demais. O que não queria dizer que ele havia deixado de se preocupar comigo, me buscar na escola, me levar às consultas ou me ajudar quando eu tinha algum mal estar.
Mas queria dizer que isso dificultava muito meu trabalho de redimir todos os meus erros e tentar tê-lo de volta.
Alguns dias eu insistia muito, tentando criar situações sem que ele percebesse ou me aproximando dele em todas as chances que apareciam, mas em outros eu só... Ficava cansado demais de tentar, me limitando ao dever de casa e aos estudos para as provas que estavam se aproximando rápido demais.
Minha vida escolar andava um inferno e naquele dia em especial - durante a aula de educação física – acabaram descobrindo a bendita verdade: que eu estava grávido. Não era para ter acontecido ainda, principalmente por causa da minha barriga toda compacta que eu me esforçava para esconder embaixo do casaco de inverno, mas um idiota ouviu enquanto eu explicava aos sussurros porque não podia participar do treino de futebol para o professor.
Pronto, o dia que tinha tudo para dar certo virou um mar de sussurros, deboches e olhares cheios de julgamento. Riram de mim, não tanto por estar grávido, mas por ter sido estúpido o suficiente pra deixar isso acontecer. Riram de mim por gostar de garotos.
E, claro, disseram que o pai tinha de ser Chanyeol, que apesar de todos os deboches continuou impassível como sempre havia sido, conseguindo prever o momento em que eu iria cair no choro para me tirar da frente das pessoas, entrando às pressas comigo no vestiário masculino e me abraçando dentro de um dos boxes até que eu conseguisse parar de soluçar.
"Agora todo mundo acha que eu estou esperando um filho seu, Chanyeol." Foi a única coisa idiota que eu pensei em dizer quando consegui parar de salgar o peito do Park.
"E daí? Não é vergonha nenhuma pra mim que aquele bando de retardados achem que eu engravidei meu melhor amigo." Ele respondeu sem nem pensar sobre o assunto, mas aquilo me afetou de uma maneira muito intensa. Eu poderia até ter cometido um milhão de erros, poderia ter sido irresponsável, ter uma vida que aos olhos do mundo estava perdida, entretanto ninguém jamais poderia dizer que eu não tinha a melhor pessoa da face da terra para chamar de amigo.
Naquele momento, Chanyeol foi a única coisa que me impediu de voltar para casa odiando minha vida. Não dava para odiar uma vida na qual ele existisse.
Eu tinha sorte.
Só estava passando por um momento ruim.
O que não me impedia de estar com os olhos vermelhos enquanto estudava álgebra, tentando transformar todo aquele inferno de ano escolar em algo útil para que eu não tivesse de refazer aquele período. Porque eu até podia ser um bom aluno, mas só era bom porque estudava muito para isso.
"Você montou a matriz errado." Quase pulei da cadeira quando ouvi a voz de Sehun tão perto de mim. Eu nem tinha ouvido ele entrando no apartamento, que dirá percebido que ele estava olhando meus exercícios por cima do meu ombro. "Moleque, você está pegando os números errados, compara com o seu livro. Presta atenção." Vi a mão de dedos finos apontando o que eu estava escrevendo e o que havia no livro aberto ao meu lado... Eu tinha copiado números de três exercícios diferentes.
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Antagonismo
Fanfiction[SeBaek] Sehun era preto no branco, era um pilar inabalável no meio do caos; era tintas, tatuagens e uma marca à ferro em minha pele. Ele era neve e o significado literal do bater das asas de uma borboleta numa teoria clichê. Ele era tudo, na parte...