Capítulo 1

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Daniella apertou as rédeas com uma mão e com a outra utilizou o chicote, para que Preciosa aumentasse a velocidade. O fim da pista de treino se aproximava, mas a garota não queria parar de correr. Ela adorava a sensação do vento batendo no rosto, o som dos cascos indo de encontro ao chão de areia e deixando um rastro de poeira em seu encalço. Mas o que Daniella mais gostava ao correr com um cavalo era a sensação de adrenalina percorrendo suas veias. Não era qualquer pessoa que podia entender a emoção que cavalgar proporcionava. E, quando se tratava do turfe, este sentimento duplicava.

Ela amava as corridas de cavalos, e sabia que a palavra-chave para este amor era a velocidade. Daniella tinha consciência de que, com uma paixão assim, poderia ter se interessado por qualquer outra atividade ou esporte, contudo, seu amor pelos animais foi o que selou essa escolha. Isto, e o fato de viver em uma Fazenda e Haras — com seus tios de consideração, um jóquei aposentado, e uma professora de Biologia —, é claro.

— Quarenta segundos, Daniella — seu tio falou animado, vindo ao seu encontro. — Está melhor do que ontem. — Ele sorriu, orgulhoso.

Alberto Fernandes, ou Tio Alberto — como Daniella o chamava —, era um homem alto, de mais de 50 anos, que fora jóquei a maior parte da vida, mas interrompera a brilhante carreira para se dedicar à família. As constantes viagens, para participar de corridas de cavalos, estavam desgastando seu casamento, e isso não era algo que ele quisesse para sua vida. Por isso deixou de participar ativamente, para ficar apenas nos bastidores. Hoje, tio Alberto era apenas treinador de cavalos, e podia fazer isso no seu Haras.

— Mas ainda preciso melhorar, se eu quiser ganhar o Clássico Antônio Carlos Amorim — disse ela, com um tom de voz derrotado, enquanto descia de sua Appaloosa.

A corrida aconteceria em algumas semanas no Hipódromo da Gávea, no Rio de Janeiro, e era destinada a éguas de três anos ou mais de idade.

— Eu não acredito que estou ouvindo você falar isso! Onde está a minha Dani, que não tem medo de um desafio?

— Tio Alberto, você viu o nome das outras competidoras? — Dani perguntou, exasperada. — Três são Puro-Sangue Inglês e já venceram outras corridas antes. Preciosa e eu ficamos em penúltimo lugar da última vez que corremos no Jockey Club Brasileiro!

— Doce menina — Alberto passou um braço por seus ombros, enquanto seguiam caminhando para o estábulo —, você tem ideia de como foi vitoriosa por ter chegado lá? E você nem conseguiu treinar tanto quanto gostaria, por causa da faculdade. O simples fato de não ter chegado em último, mostra o quanto tem potencial, só precisa desenvolvê-lo. E não é justamente isso que estamos fazendo, nessas férias?

— É só que eu me sinto um pouco insegura. — Ela suspirou. — Eu sonho em ser uma grande joqueta um dia, mas e se eu nunca conseguir? E se sempre houver alguma coisa que me impeça de atingir todo o potencial necessário?

— Eu não posso garantir que será fácil, até porque você sabe que não é — ele respondeu, abrindo as duas partes da porta da baia para que Dani pudesse alojar Preciosa. — Mas saiba que ninguém exercerá pressão para que você seja perfeita. Participe porque gosta, sinta a emoção de correr, e, quando menos esperar, você estará chegando em primeiro.

Daniella sorriu. Tio Alberto tinha essa capacidade de passar uma sensação de paz e tranquilidade para quem estivesse ao seu redor, e essa era uma das características que ela mais gostava nele. Em momentos como aquele, sentia como se ele fosse seu pai, a figura que deveria lhe transmitir segurança e amor que Dani perdera prematuramente anos atrás.

Desafiando Regras [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora