Capítulo 6 - Mia

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Quando menos se espera o presente é sempre atacado pelo passado. As memórias de uma época feliz, passam continuamente pela minha cabeça. Todos os momentos em que apenas soltei uma simples risada, ou mesmo até aqueles em que as lágrimas me assombraram. Tento compreender que tudo faz parte de um momento que tenciono guardar com carinho, mas ao mesmo tempo com rancor. Eu preciso de seguir com o presente e afastar todas estas memórias do passado que começam a querer encarar-me outra vez, demasiado. Tento ser forte todas as vezes em que o meu coração mostra que não o sou. Esforço-me mais uma vez para não deixar este assunto me atingir, mas agora está fora de questão. As lágrimas percorrem a minha face, e já sei que não existe mais nada que possa fazer. O meu coração parece que diminuiu, como se partes dele fossem constantemente arrancadas. Sinto um aperto no mesmo, como se alguém estivesse a tentar rebentá-lo à força toda. E mais uma vez, desabo em lágrimas. Os meus olhos dizem tudo aquilo que não consigo dizer em palavras, tudo aquilo que tenho guardado dentro de mim. Todas as palavras que tenciono guardar, são ditas, mas através do liquido transparente que me sai desesperadamente dos olhos.

Imagens daqueles tempos passam-me vagamente pela cabeça, mas em grande quantidade e eu lembro-me do jeito que costumava sorrir, do jeito que costumava lidar com as coisas. Era sempre tudo mais fácil. Agora, sinto-me perdida outra vez. Só o facto de o passado ter voltado a aparecer outra na minha vida, é como se parte da minha felicidade tivesse desaparecido e desta vez não tinha ninguém para me amparar se eu caísse novamente. Não tinha nem mãe, nem pai ao meu lado. Não tinha Clare, nem Pat, nem Ty para me fazerem rir. Não tinha Diogo para me dar todo o carinho que preciso.

Passavam 4 dias desde que me reencontrei com os rapazes novamente. Desde esse dia, apenas me tenho encontrado com o Michael e talvez ele seja a minha salvação. A única pessoa que provavelmente me poderá ajudar. Estou instalada no mesmo hotel que eles, mas nunca me cruzei com o Calum, felizmente. Vi-o apenas mais uma vez quando saí de um café no meu primeiro dia, mas ignorei-o, não consegui olhar para ele, fiquei completamente nervosa e decidi seguir com o meu caminho, de qualquer das formas, era uma mera coincidência, provavelmente ele veio comer alguma coisa como eu.

Quanto ao arranjar uma casa apenas minha, já começei a tratar das papeladas. Claro que tive ajuda do Michael, o Paul teve de ir trabalhar noutro local e o Mikey ofereceu-se logo. Escolhi uma casa mesmo perto da BModels, não é muito grande, mas é o suficiente para mim. Fica num prédio com condomínio fechado e fica apenas no 2°andar, ou seja, não preciso assim de muito esforço a subir escadas, até porque também tem elevador.

O antigo dono do apartamento pediu-me apenas alguns dias para acabar de retirar algumas coisas que ainda tinham ficado por lá, e isso significava que durante esse tempo eu ficaria no hotel.

Agarro-me a uma almofada que está a enfeitar a cama e ligo o meu computador. Abro o skype e vejo se alguém está online, mas sem sorte. Às vezes esqueço-me da diferença de horários, esqueço-me que não estou mais em Portugal, eles provavelmente devem estar todos a trabalhar.

Deito-me então, na esperança que o dia amanhã corra bem e durmo por longas horas até ser acordada pelo toque do meu despertador.

Visto-me rapidamente e depois de passar um pouco de maquiagem, agarro no meu computador e saio do quarto do hotel. Carrego no botão do elevador e entro quando as portas deste se abram e vou então em direção à saida do hotel. Acabo por passar num café qualquer e tomar rápidamente o meu pequeno-almoço e apresso-me a ir apanhar o metro para o trabalho. Saio do metro, que hoje está completamente a esbarrotar e tento encaminhar-me para a BModels, mas sou enterrompida por um grupo de raparigas que aparentavam ter mais o menos a minha idade.

"Ah... Olá... Tu és a Mia?" uma das raparigas pergunta-me e eu fico admirada pelo facto de ela saber o meu nome.

"Sou sim, mas porquê? Quem são vocês?" pergunto um pouco receosa.

Re(encontra-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora