Já se tinham se passado duas horas desde que saímos do apartamento de Gatto e Vic. Havíamos voltado para a fábrica abandonada e fizemos um arsenal pequeno: água, barrinhas de energia e armas para ambos.
Dentre a primeira hora, Amanda havia me mandado as plantas atualizadas do hospício, contando com passagens de funcionários, segurança e níveis subterrâneos. Então, nossa primeira hora foi passada estudando e revisando a planta, até memoriza-la.
No começo da segunda hora, Nanda havia encontrado todos os níveis de energia do prédio abandonado. Pelo o que vimos, os picos de energia começaram no início desse mês, o que significa que começaram esse plano exatamente quando chegamos em Bloody Rise. Eles estavam esperando por nós.
Apesar do consumo de energia ser consideravelmente grande, não havia sinais de uso de câmeras ou energia extra. Eles apenas haviam ligado todas as luzes do edifício.
Também era um fato que não havia mudanças internas no hospício, então podíamos ficar tranquilos sobre a planta que havíamos decorado.
Minha melhor amiga tinha ido até um passo a mais, ao ponto que tentou se conectar as antigas câmeras ou até mesmo o sistema do prédio, mas foi inútil. Todos eles estavam ou desligados ou quebrados ou off-line.
Ainda assim, agradeci a ela por todo o trabalho duro. Eu precisava me focar em um plano bom e rápido, com o mínimo de chances de dar errado.
Como sempre, antes de desligar Nanda revisou que me amava e que se eu precisasse de qualquer coisa eu devia chama-la imediatamente. Não sei o que eu seria sem ela.
Desliguei o meu celular e me sentei em frente a planta mais uma vez, observando cada parede, cada detalhe, contemplando cada variável e possibilidade.
Isso nos trouxe até a terceira hora. Matthew e eu não havíamos conversado mais do que o necessário desde que saímos do apartamento dos irmão. Trocamos poucas palavras só para nos entendermos e de resto nada mais.
Para ser sincera, nós tínhamos uma sincronia muito boa! Mal nos comunicávamos, mas ainda assim sabíamos exatamente o que o outro queria dizer e fazer, apenas com as nossas ações. Apenas uma pessoa é assim comigo, Amanda. E só por que passamos mais de metade a nossas vidas juntas.
Mas a nossa sincronia não importava. Não quando a tensão crescente abafava o ar da fábrica abandonada.
Meu nervosismo massivo por querer um plano que não machuque nenhum dos meus colegas e a preocupação constante de Matthew com os seus irmãos que, Deus sabe lá o que estão sofrendo, invadia o ar.
Mas era a sede de sangue implícita que dava ao ar um tom macabro. A ansiedade por cortar a garganta de qualquer que seja o desgraçado que sequestrou pessoas tão importantes tanto para nós quanto para Bloody.
Nossa primeira missão de verdade como estagiários... Era o que esperávamos? Nem de perto! Mas com certeza a coisa mais emocionante que nos aconteceria esse mês.
Apenas acordei dos meus planos quando algo gelado e molhado tocou minha bochecha, me assustando um pouco.
Virei na direção do objeto e encontrei o loiro de pé, me entregando uma garrafinha de água gelada. Olhei para ele um pouco confusa, mas grata pela interação.
- É melhor você beber a água invés de ficar me olhando, princesa - ele disse, me entregando a água e sentando do meu lado - Nós dois vamos morrer desidratados pela quantidade de café, açúcar e energético que tomamos se não bebermos água.
Ele brincou, tomando um bom gole da própria garrafinha. Eu o imitei, agradecida pelo refresco simples, porém necessário.
- Então - ele retomou, após ter matado quase metade da sua garrafinha - Você já tem um plano?
Assenti, ainda bebendo água antes de começar a falar.
- Aqui - apontei para as plantas do hospício - Aqui e aqui. Esses são os possíveis lugares onde Vic pode estar. Agora, aqui, aqui e aqui, são boas opções para onde Gatto está.
- Eles estão separados? - ele me perguntou, tomando mais um gole de água.
- Nós estamos lidando com um possível profissional. Mesmo um zé ninguém saberia o perigo de deixar dois irmãos altamente treinados no mesmo quarto. Eles mal precisam de palavras para se comunicar!
Matthew emitiu um grunhindo de concordância. Ele, mais do que ninguém, sabia da capacidade dos gêmeos. O loiro fez um movimento com a mão para que eu continuasse, sem descolar a boca da garrafa.
Ele realmente estava com sede...
- Aqui e aqui, são pontos cegos para qualquer um então... - eu continuei explicando cada detalhe do meu plano.
Cada variável e possibilidade que me passou a cabeça durante o meu planejamento. Matthew não tirava os olhos de mim, escutando atentamente e fazendo perguntas somente quando necessário.
Finalmente, meu celular tocou com um alarme pré-programado. As nossas três horas acabaram.
Nós nos levantamos, pegamos nossas mochilas e fomos. Com as cabeças erguidas e confiantes, apesar de um medo constante sobrecarregar nossos corações. O caminho inteiro foi silencioso.
Um silencio necessário para que cada um de nós repassasse o plano e as estratégias da própria maneira.
Não estávamos mais em um treinamento. Não tínhamos mais uma margem de erro aceitável. Qualquer erro poderia custar nossas vidas agora e isso nos assombrava.
Um grande peso repousava em nossos ombros, mas não podíamos nos deixar levar por conta disso.
Nós chegamos na entrada do edifício rapidamente. Muito rápido pro meu gosto...
Nunca fui uma pessoa insegura das minhas habilidades, mas agora na hora do perigo, uma das horas mais importantes da minha vida, eu não consigo deixar de imaginar se de alguma forma eu irei... vacilar.
Talvez se Chloe tivesse me respondido eu tivesse mais segurança, ou talvez se Nanda estivesse comigo nesse momento.
Mas eu não consigo deixar de imaginar se de alguma forma eu possa atrapalhar as coisas. Será que deixar as coisas com Bloody seria uma ideia melhor?
Antes que meus pensamentos me consumissem, um leve aperto na minha mão me trouxe de volta a realidade. Era Matthew, que parecia tão nervoso quanto eu.
Mas ainda assim ele transparecia estar calmo e confiante. Mesmo quando eram seus irmãos dentro daquele labirinto sombrio, mesmo quando não sabíamos a condição que qualquer um dos dois se encontrava ou se eles sequer estavam lá mesmo, ele estava calmo.
E ainda por cima, estava me acalmando. Que patético. Eu sou Amélia Stones! Uma possível futura assassina e uma fria calculista. Não preciso que me acalmem!
Ainda assim, apertei a mão de Matthew em resposta. Como se aquilo ajudasse em qualquer coisa além de reconforto. Mas ajudava...
Parecia que nossas energias se misturavam e anulavam, acalmando e restaurando nossas confianças. Não só um no outro, mas também em nós mesmos!
- Nós entramos juntos e saímos juntos - ele repetiu, apertando um pouco mais minha mão para enfatizar sua fala - Mas quando sairmos teremos Gatto e Vic conosco!
Apenas assenti para suas palavras, as gravando o mais perto possível do que eu chamava de coração.
E então, juntos e de mãos dadas, entramos no hospício. Prontos para resgatar nossos tutores!
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A Verdadeira História de Uma Assassina
ActieEm uma realidade distante, onde você é livre para escolher o seu futuro, a jovem Amélia Stones entra na sua faculdade dos sonhos. Para a infelicidade da família, ela escolheu a carreira de assassina profissional. Com uma inteligência sem igual e uma...