Cap. 3 - Vizinhos

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"— Não posso fixar a hora ou o lugar. Isto já foi há muito tempo. Eu já estava no meio e ainda não sabia que tinha começado." (Orgulho e preconceito - Jane Austen)

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Jackson PoV

- Andrew! Andrew! Tá em casa?

Eu cheguei da faculdade muito cansado. Fazia alguns dias que eu não via o Andrew, meu grande amigo e com quem eu dividia o apartamento. Isso não era algo preocupante, já que tínhamos uma rotina bem pesada, mas eu sempre sinto falta do meu grande amigo. 

Foi então que eu o escutei responder em voz alta:

- Estou aqui, Jackson.

Andei um pouco mais e me deparei com Andrew sentado à mesa da cozinha, a cara enfiada em um grande livro, o notebook aberto, extremamente concentrado. Ele não mudava. O bom e velho Andrew, dedicado e responsável acima de tudo. Eu balancei a cabeça, sorri e disse:

- Até que enfim está em casa! Você está bem, cara?

- Estou sim. Tive que voltar, minhas roupas acabaram.

Eu sacudi novamente a cabeça:

- Eu não sei porque insiste em ficar virando as noites nos plantões e dormindo naqueles quartinhos de alojamento tão apertados.

Andrew respondeu sem tirar os olhos de um artigo que estava aberto em seu notebook:

- Jackson, eu quero ver se consigo eliminar umas duas disciplinas de práticas durante a residência. Mas pra isso eu preciso me sacrificar. Quanto mais tempo eu passar no Hospital, mais rápido eu consigo terminar a residência...

- E...?

Ele levantou a cabeça e olhou nos meus olhos, sério:

- E ir embora daqui.

Eu fechei os olhos e suspirei. Desde o início da faculdade, Andrew tinha uma ideia fixa de ir embora de Seattle para trabalhar em outro lugar. E eu sabia o porquê. Eu achava bobagem, mas nem adiantava discutir com ele. Ele era um bom homem, um amigo excelente e fiel. Nós nos conhecíamos desde a infância e passamos por várias coisas juntos. Andrew e eu dividíamos o apartamento desde o início do curso e nunca nos desgrudamos. Sabíamos os segredos um do outro e nos respeitávamos muito.

Enquanto eu era mais sociável, Andrew era a introspecção em pessoa. Meio sisudo, cara mais fechada, todos tinham um certo receio de se aproximar dele. Até mesmo a mulherada que caíam aos pés dele, sentiam-se um pouco intimidadas e, antes de se aproximar dele, vinham falar comigo antes para que eu pudesse preparar o terreno. Já ele era discreto, tinha os rolos dele, mas não se abria muito sobre isso. Na verdade, o Andrew era tão responsável e dedicado aos estudos da Medicina, que eu nunca soube de algum grande amor na vida dele. Ele falava pouco, se abria mais quando bebia além da conta, mas eu sempre respeitei o jeito dele.

Entretanto, mesmo sendo mais sociável do que o Andrew, eu sempre fui meio ingênuo e um pouco tímido, especialmente nos assuntos do coração. Era Andrew que sempre me alertava sobre certas malícias da vida e geralmente ele sempre estava certo. Eu sempre o escutava. Ele era mais racional, pé no chão, experiente, passou por várias coisas. Mas, apesar disso, eu achava que ele precisava relaxar mais, ser menos preocupado com as coisas, tirar um tempo para ele mesmo. Eu o entendia, ele carregava um fardo pesado sobre ombros, um fardo que só ele podia carregar, mas eu achava também que isso não poderia impedi-lo de viver.

Sentindo falta dos nossos papos, eu disse ele sorrindo:

- Ok, cara, tudo bem. Mas larga esses livros e esse computador um pouco e venha aqui, vamos conversar.

QUANDO FALA O CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora