Grande passo

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· Perspectiva de Gizelly

Reviver seu passado, não era algo que gostava de fazer. Tinha passado por um longo período turbulento e temperado com a rebeldia da imaturidade. Gizelly sabia que era algo inevitável, ainda mais depois desse reencontro inesperado com alguém que foi muito importante em seu processo de mudança.

Mas para criar um relacionamento solido como desejava ao lado de Rafaella, sabia que não deveria existir nenhuma reserva entre elas.

Já tinham passado por muita coisa em um curto espaço de tempo. Sentia que o que elas tinham ainda era algo muito frágil, preste a ser rompido por um simples sopro. Responder a pergunta que Rafaella acabou de lhe fazer, a colocava em uma situação desconfortável, mas ela não poderia esconder seu passado, não com a Luiza por perto.

- Para mim, foi uma supressa descobrir que ela era a outra investidora. Luiza fez parte da minha vida em um período que ainda era muito complicado para mim. Estávamos na faculdade quando nos conhecemos, eu não era alguém fácil de se lidar, Rafa. – Gizelly começou a falar.

Notando que Rafaella permaneceu em silêncio ao seu lado a observando, ela continuou.

- Quando o meu pai foi assassinado eu não passava de uma garotinha, no começo não entendia o motivo dele demorar tanto a voltar para casa. Lembro, mesmo quando ele estava fora, ele fazia de tudo para se manter presente em meus dias. Quando ele estava eu costumava ficar grudada nele. Eu o via como um herói. Os dias foram passando e minha saudade aumentando, eu comecei a ter ataques de fúria na mesa de jantar. – Ela fez uma pequena pausa para olhar para Rafaella, que continuava sentada ao seu lado em silêncio.

Soltando umas das mãos, Rafaella levou até o rosto de Gizelly fazendo carinho na lateral. O toque fez com que Gizelly sentisse uma descarga elétrica a fazendo, seus ombros deu uma leve relaxada.

De olhos fechados e recebendo a caricia de Rafaella, ela continuou.

- Eu não suportava que me tocassem, eu queria o meu pai de volta e ninguém nunca contava o que tinha acontecido com ele. Quando completei 7 anos, fiquei sabendo o que realmente tinha acontecido com ele, minha mãe me contou com a ajuda de uma psicóloga. O tempo foi passando e o meu comportamento só foi se agravando. Quando cheguei na adolescência passei fugir escondida para festa e fazer viagens sem a permissão da minha mãe. Na maior parte do tempo ela nunca sabia onde me encontrar e nem como, isto a deixava louca. Eu não sei como, mas sempre conseguir me sair bem na escola, então quando cheguei na faculdade não foi um problema. – Gizelly parou de falar e começou a encarar as taças em sua frente.

Gizelly tentava manter distante o desconforto que aquela conversa estava lhe causando, ela sabia que precisava fazer com que Rafaella realmente a conhecesse, e este estava sendo mais um grande passo na relação entre as duas. Ela sabia que o que sentia por Rafaella não era passageiro, não se comparava a nada o que já sentirá um dia por alguém. O que ela teve com Luiza era algo complexo.

- Foi ai que ela entrou em sua vida? – Disse Rafaella, a incentivando a continuar.

Ela deu um suspiro e continuou.

- Sim, mais ou menos. Eu passei por um monte de especialistas, fui diagnosticada com malaxofobia. Levaram um tempo até chegarem a esta conclusão, mas foi isto que disseram. Falaram que o fato de ter passado muito tempo sem saber noticias do meu pai me causou um estresse muito grande para a minha idade e ao se junta com o trauma da noticia do seu assassinato ajudou a desencadear. Eu nunca tinha me relacionado intimamente com ninguém, até conhecer Luiza. Ela foi a primeira pessoa capaz de quebrar o meu medo irracional de criar intimidades nas relações, porém eu ainda não era capaz de criar laços emocionais, não como ela desejava ter.

- Então ela foi a primeira mulher com quem você fez amor? – Perguntou Rafaella, num tom tímido, sentindo um pontada de ciúmes.

Gizelly volta a encara-la e a puxar para os seus braços em um abraço de lado. Antes de continua ela deposita um beijo na têmpora de Rafaella.

- Sim, ela foi a primeira pessoa que eu me sentir atraída. A conheci em uma dessas festas universitária, ela estava acompanhada de um rapaz. Pensei que era o seu namorado, mas depois fiquei sabendo que ela era do tipo que não curtia esse tipo de relação. Foi o que me fez ter coragem para me aproximar, mas as coisas não saíram como eu esperava. O babaca me falou algo, não me lembro ao certo o quê, mas fez com que eu tivesse um ataque de fúria e partisse para cima dele, mas fui impedida por ela, que me segurou e me tirou da festa evitando que eu levasse uma surra do cara que tinha quase o dobro do meu tamanho. Depois desse dia ficamos mais próximas e passamos a ter uma relação sexual casual, assim ela nomeou. Eu não levava a terapia e os encontros com a psicóloga a serio, até que ela passou a me acompanhar e a me ajudar a manter fora de confusão. Ela me fez ver as coisas de uma nova perspectiva. Aprendi que ao ter controle de quem entrava ou não em minha vida eu não precisaria lidar com toda a tralha do meu passado. Passei a ver as interações casuais de inicio como uma válvula de escape, depois se tornou o que eu era e como eu via os relacionamentos. Eu passei a acreditar que só assim eu me manteria segura, que não precisava de toda aquela bagagem de manter um relacionamento fixo com alguém que poderia abalar tudo o que eu tinha conseguido construir. – Admitiu Gizelly.

Ela sabia que era muita coisa para Rafaella assimilar, mas não queria voltar a falar sobre aquele assunto. Precisava falar tudo o que a fez chegar até aqui de forma clara, para que não deixasse nenhuma margem de duvidas.

Rafaella tinha mudado sua visão das coisas, assim como Luiza um dia tinha feito, mas agora era diferente. Era algo em que aprendeu a viver a amar, ter alguém com quem dividir a rotina, alguém que poderia dividir o presente e o futuro.

Não era novidade que Rafaella a fez querer mais, querer uma troca mais intima e duradoura para si.

- Você sente a falta dela? – Perguntou Rafaella.

Gizelly que ainda a mantinha em sues braços, sentiu que o corpo dela ficar tenso ao fazer aquela pergunta. Gizelly sabia que depois do jantar e de tudo o que estava contando, que Rafaella estava se sentindo insegura com a presença de Luiza em sua vida. Assim como no jantar, queria conforta-la e mostrar que nada mudaria entre elas.

A virou novamente, para que pudesse olhar nos seus olhos.

- Eu entendo sua preocupação, mas ela é uma preocupação boba e desnecessária. Não vou mentir que não sentir algo ao reencontra-la, mas acredito que não tenha passado da surpresa do momento. Eu não estou arrependida de te colocar em minha vida, nada e nem ninguém vai fazer com que eu desista de você. Você foi a melhor coisa que acontece em toda a minha vida. Mesmo que eu tenha entrado atropelando tudo nesse relacionamento, eu não me arrependo de nada. E pra falar a verdade, só me arrependo de não ter te beijado logo no primeiro dia em que te vi. Lembro como se fosse hoje, você entrando em minha sala para a entrevista. Naquele momento eu queria te agarrar e nunca mais te deixar sair. Em acreditar que não seria eu a fazer aquela seletiva. – Disse Gizelly, com um brilho no olhar ao se recordar do primeiro encontro entre as duas.

- Você não me respondeu, você ainda sente? – Insistiu Rafaella.

Isso fez com que Gizelly caísse na gargalhada, fazendo o clima ficar mais leve.

- Mesmo depois de tudo o que abracei de ti dizer, você ainda acha que eu sinto a falta dela? – Perguntou Gizelly – Eu estou amando esse seu lado ciumento.

- Eu só não quero perder o que acabamos de erguer, eu vou ser sincera contigo. Tenho medo que ela seja mais importante do que você pensa.- Disse Rafaella, num tom frágil.

- Eu não sinto falta, tenha certeza do que digo. Ela é passado, você é meu presente e se depender de mim, meu futuro mais lindo. Falando em presente, estou louca para desembrulhar o meu. – Disse Gizelly em um sorriso repleto de desejo e expectativas para Rafaella. 

Era vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora