Quando és criança, o tempo não tem limites e os dias são intermináveis. Tens todo o tempo do mundo. Como se o tivesses nas tuas mãos e pudesses brincar com ele e na inocência, desconheces que um dia toda essa magia acaba. Tudo é efémero e a felicidade interminável, alimentada pela inocência é muito mais frágil do que possas imaginar.
Tinha nove anos quando algo dentro de mim mudou e fui invadido por um desejo enorme de procurar alguma coisa. Como por exemplo: mais razões para ser feliz, porque repentinamente tudo parecia tão pouco diante daquilo que ainda podia encontrar. Era uma sensação complexa de explicar e os meus pais pensaram que fosse o meu desejo de viajar e por isso, levaram-me aos mais diversos locais no mundo. Posso dizer que fui muito afortunado por ter visto as mais belas paisagens, sendo tão jovem e a cada momento de felicidade, julguei que estivesse mais próximo de encontrar aquilo que procurava. Mais tarde, descobri que não procurava uma paisagem, local ou objeto, mas sim alguém.
Ele apareceu na nossa vizinhança e na primeira vez que nos cruzámos a caminho da escola, perguntei se queria vir comigo de bicicleta, visto que me parecia cansado mesmo que fosse tão cedo pela manhã. Pensei que assim como eu, jogasse jogos até tarde e por isso, estava tão cansado.
Não foi fácil, mesmo com a reticência, timidez e desconfiança consegui convencê-lo a aceitar a minha companhia. Nos primeiros tempos a pé e depois na minha bicicleta.
Não estávamos na mesma turma na escola, mas fiz questão de convidá-lo para o meu círculo de amigos a cada intervalo e também durante as refeições. Ele não comia muito, mas dizia estar satisfeito. Soube mais tarde que não praticava desporto e disseram-me que sofria de uma asma grave e daí que ficasse sentado nas bancadas, enquanto os colegas corriam e faziam os mais diversos exercícios.
Não sei ao certo porquê, mas desde que o conheci, senti alguma espécie de ligação. Como se fosse certo tê-lo ao meu lado, conversar, rir e convidá-lo para passar tempo na minha casa para ver filmes ou a jogar algum jogo. Os nossos pais estavam radiantes pela nossa amizade, embora eu nunca entendesse muito bem por que razão não me convidavam para a casa dele.
Não dei importância e continuei a apreciar cada sorriso, cada palavra e cada momento ao seu lado.
- Eren?
- Vou sair, mãe. – Anunciei já com a porta aberta, mas a minha mãe chamou-me novamente.
- Se vais ver o Levi, devias esperar uns dias. – Disse com um sorriso forçado.
- Dias?
- Ele está no hospital. Sabes que tem uma saúde frágil.
Quase um ano depois de nos conhecermos, era a primeira vez que o visitava no hospital e infelizmente, pela expressão abatida da mãe dele, descobri que aquelas visitas eram mais regulares do que alguma vez imaginei. Porém, apesar das olheiras pronunciadas, pele bem pálida e os lábios cortados, ele sorriu e agradeceu a minha visita. Disse-me que era apenas um mau dia de asma.
A inocência calou as minhas perguntas e segurei a mão dele, prometendo que assim que estivesse melhor, o levaria até ao oceano. Afinal, em poucos dias seria o meu aniversário e tendo em conta, as temperaturas e sol primaveris, prometi-lhe um bronzeado novo.
Ele riu.
- Bonito, não é?
- Hum, hum. – Assentiu, sentado ao meu lado no areal e encostou a cabeça ao meu ombro.
- Estás cansado? Eu sei que foi uma viagem longa.
- Um pouco, mas não te preocupes. Daqui a nada já estarei melhor. – Disse calmamente.
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Tempo Limitado
FanfictionTantos sinais e eu não liguei a nenhum. Inocência é uma bênção ou um castigo?