Capítulo sem título 2

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25 de junho de 2016, 3:30 da madrugada, Bergen, Noruega. 4 crianças segurando Stian para não empurrar Anya escada abaixo. Estava havendo uma luta corporal entre ambos. Quando ela finalmente estava segura, ele correu as escadas abaixo e continuava dizendo que não ia embora, ela desceu junto com os 4 adolescentes e a discussão continuou:

— Vai embora da minha casa! Eu não quero você aqui! Sai daqui! Eu vou chamar a polícia.

Vidros espalhados por toda a casa, espelhos quebrados, objetos de enfeites quebrados pelo chão! Os quatro adolescentes eram Safira, Viliam, Sebastian e um primo de Sebastian, no caso, sobrinho de Stian. Então ele se rendeu com as mãos pra cima, falou para todos se acalmarem que ele ia embora, as crianças ficaram distraídas, sentadas no pé da escada enquanto ele se vestia, pegou algumas coisas dela e pôs dentro da jaqueta dele, ela viu, então foi pra lá, pro hall onde estavam todas as jaquetas e sapatos na saída da casa, ela pôs o braço atravessado na porta, e falou que ele não podia ir embora levando as chaves da casa, e do carro dela.

Ele bem calmo, bem tranquilo, voz baixa, falou : calma, não grita, eu vou lhe devolver, só estou calcando os sapatos. E ela baixou a retaguarda, ele terminou de se vestir lentamente, olhou pros meninos distraídos conversando sobre o inacreditável, aquela briga horrível que tinha acabado de acontecer, então ele fechou os punhos e deu um murro violento, de cheio, com toda a forca no meio da sobrancelha direita dela, e ela caiu do lado de fora da casa no asfalto.

Bateu a cabeça e ficou desnorteada. Enquanto ele partiu pra cima dela e os adolescentes correram pra tirar ele de cima dela. O filho de Stian chorava, tentando arrastar Anya para dentro de casa desesperado vendo-a sangrar, pedindo pra ela deixar ele limpar o ferimento dela, a filha dela chorava, todos choravam, menos Stian.

A gritaria foi tão alta, tão estrondeante que todos os vizinhos saíram de suas casas para fora para ver o que estava acontecendo. Ela pedia para alguém ligar para a ambulância e para a polícia, os vizinhos então ligaram, a filha dela ligou, e aquela cena de fim de semana terminou com o carro da polícia lá, ambulância e o conselho tutelar. Todos passaram o resto da noite no hospital...

Nos dias que se passavam a vida de Anya era muito corrida, depoimentos na polícia de Fyllingsdalen, consultas com uma firma de advogados, depoimentos no conselho tutelar local de Loddefjord, e sessões no consultório de psicologia controlado pelos órgãos de defesa da família e de adolescentes na Noruega, Bergen.

Além de tudo ela tinha que estudar para obter notas boas no seu segundo ano de enfermagem, dar aulas de zumba numa academia popular no meio do centro de Bergen, e trabalhar num asilo para poder continuar mantendo a casa e os estudos. Tudo isso sem surtar.

Ela desenvolveu uma maneira de se autoajudar baseada em empowerment, resiliência: " encontrar forca em você mesmo para continuar". Ela não queria ter tempo para chorar, não queria ter tempo para ter tempo de sofrer ou pensar, ela preencheu seu tempo de um modo que estaria sempre com a mente ocupada.

Então ela resolveu arrumar uma maneira de se distrair e fazer de conta que tudo estava bem, ela sempre usava esse tipo de tática, refúgio psicológico para poder aguentar a pressão e tudo mais que vinha com ela.

A cabeça dela era como o fantástico mundo de Bob, como ela mesmo sempre dizia para as amigas. Ela gostava de imaginar cenas, de imagina: e se.. via as pessoas ao seu redor, os lugares e ela imaginava coisas acontecendo como se fossem de verdade, como se fossem um filme passando na cabeça dela. Assim ela criava seu próprio mundo, sua bolha segura, a realidade era outra, bem diferente, quando ela não gostava do que ouvia, do que via, ela fazia de conta que o que tinha acontecido ou que tinha sido dito era diferente.

Filhinho de papaiOnde histórias criam vida. Descubra agora