É você ou nada.

19 1 0
                                    

Uma camada de massa, uma de molho, presunto, queijo, pouco queijo porque eu não gosto, e repete o processo. Estou repetindo a receita de lasanha em minha mente desde que eu e Esther começamos os preparativos para o jantar de hoje, é a única coisa que permito que passe pela minha mente. Evitei Pedro o dia todo e nem precisei fazer muito esforço porque acho que ele também está me evitando, estamos evitando uns aos outros na verdade, a noticia repentina de que eu vou embora não abalou só a mim. Vi Esther chorando enquanto saía do banheiro, mas não falamos sobre, ninguém ousou tocar no assunto. É Natal, vamos sentar todos na mesma e fingir que não temos nenhum grande problema, quando na verdade tudo está uma bagunça. A relação com a minha mãe foi para o buraco, não tenho ideia de como eu e Pedro vamos ficar, não sei se sobreviveremos a isso, e eu decepcionei meu pai, me sinto a pior filha do mundo.
''Precisa de mais molho, querida?''
''O quê?''
''Molho.''
''Ah, é...Não, não precisa.''
Esse foi nosso maior diálogo o dia todo, o clima está frio.
''Você já falou com Pedro sobre isso?''
Esther está tentando melhorar o clima, ela está sempre se esforçando para que as coisas melhorem.
''Não. Não tem o que dizer, eu vou embora, ela vai ficar, simples assim.''
''Você poderia vir aos finais de semana, sua mãe não vai te proibir disso.''
''Não sei se nós sobrevivemos a isso, Esther, é outro Estado, uma coisa completamente diferente do que eu planejei.''
''As coisas nem sempre saem do jeito que a gente planeja, o que não significa que não possamos adaptar as coisas, dar um jeito de resolver a situação. O que vocês têm é especial.''
Suas palavras tocam meu coração por inteiro. Lágrimas escorrem. Deixo a panela em cima da pia e faço o que posso para enxugar as lágrimas e continuar o dia.
Continue a nadar, Sarah. É o que minha consciência me diz.
Vem aqui, querida. Me acomodo em seus braços e deixo a dor esvair. Mas o medo fica, o medo do futuro, de não ter ideia do que irá acontecer, se eu irei perdê-lo, meu Deus, como dói só de pensar em perdê-lo. Aqui, aconchegada nos braços de Esther, com a pouca religiosidade que possuo, peço para Deus que ele não o tire de mim, que o futuro não nos separe. Minha mãe sempre disse que esse tipo de coisa a gente não pede pra Deus, mas sempre ouvi dizer que Ele escuta, então peço com todo o meu coração. Não estou preparada para perdê-lo.
''Eu gostaria de poder fazer algo a respeito, querida. Mas nada está em minhas mãos, não há nada que eu possa fazer, e eu me intrometer só pioraria as coisas com a sua mãe.''
''Eu sei, é que tenho medo de perdê-lo, Esther.''
"Olhe para mim.''
Eu olho em seus olhos de jabuticaba, são escuros o suficiente para que eu me veja neles, uma imagem angustiante, a minha angústia, é o que vejo.
''Você não vai perdê-lo só pelo fato de ir embora por um tempo, vocês podem conversar pelo celular. Entendeu?''
''Sim.''
Ela tira as mãos do meu rosto e me acaricia, sinto um beijo carinhoso na testa, eu realmente não sei o que faria se não tivesse ela em minha vida nesse momento.
''Agora vai subir descansar que eu termino, temos um Natal para comemorar.''
Concordo e subo as escadas, vou sentir falta de cada detalhe, da decoração estranha, dos quadros coloridos, do movimento, sei que não vou ficar em São Paulo por muito tempo, é só até minha mãe acalmar e quem sabe volto antes das férias acabarem. Já me decidi, vou ficar. Vou voltar pra São Paulo, acalmar minha mãe e vou voltar para terminar a escola aqui, há ótimas faculdades para eu cursar aqui e as escolas também são ótimas. Meu lugar agora é aqui.
Abro a porta e sem dúvidas a coisa que mais sentirei saudades será essa: Pedro deitado em minha cama. Abro um sorriso ao vê-lo deitado nessa cama, tenho tantas lembranças dessa cama, desse quarto, tenho lembranças como ele em cada canto dessa casa. Cada detalhe dele faz meu coração bater mais forte. A forma como ele joga o cabelo para o lado direito sempre, a forma como ele não liga para o que veste mas tudo cai bem nele, seus olhos incrivelmente azuis, cada olhar em que sou perita em decifrar, cada mínimo detalhe de Pedro invade meu coração com a maior intensidade possível, é disso que se trata, de um sentimento intenso e indescritível, não quero ficar longe desse garoto nem por um segundo e meu corpo dói só de pensar.
''Estava te esperando.'' Ele sorri, seu sorriso é avassalador e me desaba.
''Estava ajudando Esther na cozinha.''
Fecho a porta e sento ao seu lado na cama, observando cada mínimo detalhe seu.
''E que maravilha feita por você eu vou comer hoje?''
Ele me acaricia com a ponta dos dedos, um carinho leve e sutil, não sei porquê, mas sinto como se fosse o último.
''Fiz uma lasanha, você vai amar.''
''Vou, é?''
''Vai.''
''Estou com medo de que isso nos afete, Pedro.''
''Não vai.''
Ele gesticula para que eu deite ao seu lado.
''Mas pode ser que eu não consiga voltar mais nas férias, já estão acabando, e aí você tem faculdade e ainda nem decidiu onde vai estudar, ou seja, pode nem ser no Rio, e eu preciso terminar a escola em São Paulo.''
''Não se preocupe.''
Ele acaricia meus cabelos e olha em meus olhos, da forma mais serena possível.
''Shh, você está cansada, descanse.''
''Mas eu...''
''Não se preocupe, Sarah, descanse.''
Ele beija minha testa e acalmo meu coração, sua presença faz com que eu me sinta segura e amada, é o meu lugar preferido no mundo, seus braços. Não importa o que aconteça agora, estou em seus braços e isso basta para mim.
Durmo como um anjo, confortável e me sentindo segura.
Não tenho noção do tempo, não sei por quanto tempo dormi, se foram minutos ou horas, mas para mim pareceram dias, meses, uma eternidade. Uma eternidade no colo dele, sentindo seu carinho em meus cabelos, em meu rosto, sentindo seu amor. Sentindo o porto seguro, o meu porto seguro, em seu colo. Uma eternidade poderia ter passado, eu teria ficado.
Quando abro os olhos me deparo com sua face. Não é sempre que ele fica, na maioria das vezes eu durmo e ele não está quando acordo. Mas não hoje, hoje ele ficou, exatamente do mesmo jeito que ele estava quando dormi, acariciando meus cabelos e minha face, minhas bochechas, seu olhar penetrante e seu carinho, é tudo o que sinto agora, carinho.
''Te amo, Pedro.''
''Eu amo você, Sarah.''
''Promete que isso não vai nos afetar.'' Preciso que ele prometa que isso não vai nos afastar.
Alguém bate na porta.
''Sarah, comprei um presentinho para você.'' É Esther.
Levanto para abrir a porta e sair do colo de Pedro é um sacrifício.
''Comprei para você usar quando tiver alguma outra festa que queira ir.'' Ela me entrega uma sacola.
''Obrigada, Esther, não precisava, você sabe disso.''
''Vou sentir sua falta querida.''
''Eu também Esther, muito.''
Ela me abraça calmamente, em um sentimentalismo evidente, gostamos muito uma da outra.
Fecho a porta e coloco a sacola em cima da cama, agradeço por Esther ter me dado tantos presentes, mas este não me anima tanto, saber que são meus últimos dias aqui me entristece, e não há nada que eu possa fazer a respeito.
Deito em seu colo, quero aproveitar ao máximo nossos últimos dias dormindo juntos, não sei quando faremos isso de novo.
''Você já decidiu para qual faculdade vai?''
Não me lembro dele ter me contado seus planos de faculdade.
''Ainda não decidi nada. E você, quais são seus planos para o ano que vem?''
''Eu tinha realmente pensado em ficar, mas não acho que minha mãe vá deixar isso acontecer. No entanto, vou tentar o máximo que eu puder, quem sabe ela concorda.''
''Você tinha decidido ficar?'' Ele acaricia meus cabelos que estão soltos ao longo de seu colo.
''Sim.''
''E por que não me disse nada?''
'''Porque agora não adiante mais, nem se eu implorasse minha mãe concordaria.''
''Mas você pensou em deixar todos os seus planos em São Paulo e vir ficar comigo?''
''Sim.''
Ele não responde, mas sinto a forma com que sua respiração se eleva, o silêncio dolorido de sua voz. Uma lágrima escorre em meus cabelos, posso senti-la.
''Por que está chorando?''
Seus olhos estão azuis e molhados, os meus oceanos estão se desaguando.
''Eu te amo Sarah, por favor não se esqueça.''
''Não irei.''
Sorrimos. Esse sorriso basta.
''Preciso tomar banho e me vestir para ficar sentada no sofá da sala.''
''É um saco, como se todo mundo estivesse feliz.''
''Pois é. Mas preciso me arrumar mesmo assim.''
''Não vou deixar você sair do meu colo agora que estamos confortáveis.''
Ergo minha sobrancelha direita, sei que ele ama.
''Se erguer essa sobrancelha para mim mais uma vez não sairá nem do quarto hoje.''
Dou-lhe um beijo, um beijo longo e intenso, poderia ficar a noite toda aqui, em seu colo sentindo seus lábios. Suas mãos acariciam meu corpo todo, e cada parte dele deseja ser tocada e acariciada por ele.
''Podemos não sair do quarto hoje?'' Ele me pede com a cara de cachorrinho molhado mais fofa que já vi.
''Não, mas você pode me acompanhar em um banho bem quentinho.''
''Hummm, pode ser.''
''Você diz como se não estivesse louco para fazer isso.''
''Eu estou, Sarah. Pode apostar que estou.''
Amo sua expressão séria, me arrepia por inteira, ele controla todas as minhas reações, se ele decidir que eu sinta, então sentirei.
Ele me pega no colo.
''Pedro, desse jeito vamos os dois para o chão.'' Rio, um riso gostoso que me distrai dos meus problemas do momento.
''Não vou deixar você cair nunca.''
Ele apoia meu corpo na parede enquanto me sustenta com seus braços e eu entrelaço minhas pernas em seu quadril, não importa onde estamos, ele sempre me conforta.
Sinto seu beijo molhado e cheio de sentimentos, ele precisa disso, nós precisamos disso, e eu vou dar o que ele precisa.
Sua língua se entrelaça na minha para um beijo perfeito, seus lábios sentem os meus, sinto seu gosto, seu coração, suas vontades, eu o sinto por completo.
Sinto suas mãos subindo por minhas pernas, eu quero mais, sempre desejo mais quando se trata dele. Suas mãos sobem até encontrarem meus seios, acariciando-os, me causando todo o tipo de arrepios e sensações, eu o quero, muito mais agora, mais e mais a cada parte do meu corpo que ele toca. Seus carinhos não param e eu desejo que eles sejam eternos, sinto sua mão entrelaçar meus cabelos e se firmando na raiz, puxando levemente, meu Deus, ele me deixa louca.
Permito que ele me leve a loucura, sou levada ao sétimo céu por ele, sentindo tudo o que consigo, todo o prazer que ele me proporciona. Sinto meu corpo em chamas, ardendo em prazer.
Abro minha gaveta e tento decidir qual langerie uso hoje, não tenho tantas assim, mas comprei algumas e gostaria de usar alguma hoje.
''Indecisa?'' Ele se aproxima com a toalha enrolada quase abaixo de sua cintura, posso ver seu corpo perfeito e tentador.
''Sim.''
''Posso ajudar?''
''Na...''
Penso em falar não, é claro, mas são nossos últimos momentos juntos por um bom tempo, depois disso nos veremos apenas por chamadas de vídeo, acho que não há problema em deixa-lo me dar uma ajudinha.
''Pode.''
Sua cara é de surpresa, ele também esperava que eu dissesse não.
''Tudo bem, vamos ver.''
Ele para diante da minha gaveta de langeries e olha atentamente, observando cada detalhe.
''Ual, gostaria de ver você vestindo todos esses, eu babaria.''
''Pedro.'' Eu o repreendo, não sei porquê, acho que é força do hábito, na verdade também gostaria que ele me visse com todas essas peças.
Ele ignora minha repreensão como sempre, está ocupado demais observando minhas langeries.
''Essa.'' Ele pega uma e me mostra, a minha preferida também, uma preta, valoriza o meu corpo como nenhuma outra.
''Tudo bem.''
Pego e vou ao banheiro para que eu possa me trocar.
''Deixa eu ver você se vestindo, ela deve ficar linda em você.'' Ele me pede
Um pedido que me deixa envergonhada, mas já fiz tantas coisas com ele que me encorajo a fazer mais essa.
Tiro a toalha levemente do meu corpo, ficando exposta, mas não é assim que me sinto, ele me olha com admiração e isso me fez sentir segurança. Penteio meu cabelo, assim, da forma que vim ao mundo e coloco devagar a langerie que ele escolheu, ele não desvia o olhar por um segundo, cada parte do meu corpo é devorada por seus olhos, mas ele me admira, me olha com carinho e ternura, me sinto confortável para fazer qualquer coisa em sua frente.
''Você é linda, Sarah, nunca deixe ninguém dizer o contrário.''
''Não deixarei, com tanto que seus olhos estejam sempre aqui para me observar.''
Ele sorri e me beija, intensamente e com todo o amor que sente nesse momento.
Vou deixar você se trocar.
Visto meu vestido rosa pastel, achei perfeito para o Natal, um curto comportado, adequado para ocasião, e tem uma cor leve, perfeito para hoje, me sinto impecável.
Passo meu hidratante, perfume e um leve gloss, estou pronta para a guerra agora.
Ouço batidas na porta, paro os cachos que estou fazendo e apoio o baby liss na cômoda. São os dois, os meninos que amo, meu irmão e seu melhor amigo, meu amor.
''Vocês não conseguem ficar um minuto sem mim, não é? Não sei como vão sobreviver quando eu não estiver aqui.''
''Relaxa, Sarah, vou levar ele pra várias festinhas, não precisa se preocupar.'' Meu irmão tem uma pequena tentativa de me deixar com ciúmes.
''A Laura já ouviu isso?'' Eu o olho com sarcasmo.
''Se ela estivesse aqui diria que sarcasmo não combina com você.''
''Eu sei, não combina mesmo, ela é que é ótima nisso. Falando nela, onde é que ela está?''
''Terminando se se arrumar.''
''E o que vocês querem?'' Sorrio.
''Que nos ajude com essa gravata.'' Ele aponta para sua gravata e para a de Pedro, incrivelmente desajeitada.
''Mais uma tentativa falha e vou de camiseta e calça.''
''Esther teria um infarto.''
''Vem você primeiro Enrico.''
Ele fica em minha frente e arrumo sua gravata da melhor forma que consigo.
''Vou sentir sua falta. Sei que você vai vir aos finais de semana e nas próximas férias, mas não vai ser a mesma coisa.''
''Eu sei, também vou sentir sua falta.''
''Cuide da Laura por mim, ela gosta de você e precisa de alguém que coloque juízo na cabeça dela.''
''Vou cuidar, também gosto muito dela, muito mesmo, quero ser uma pessoa melhor para ela, alguém que ela sinta orgulho de namorar.''
''Ela sente e eu também sinto por ser sua irmã, eu não poderia ter um irmão melhor.''
''Agora vem você Pedro.''
Eu o observo por completo, ele usa uma camisa preta e uma gravata cinza, está perfeito, cada detalhe e cada parte do tecido que cobre seu corpo cai nele como uma luva.
''O que? Não ficou bom, não é? Eu deveria ter vestido uma camiseta mesmo, essas coisas não ficam bem em mim.'' Ele diz como se fosse possível algo não ficar bem em seu corpo.
''Você está lindo, como sempre está.''
Ele me da um beijo na testa.
''Posso falar com você?''
Ele me olha seriamente, sei que ele realmente precisa dizer algo.
''Claro.'' Olho para Enrico na esperança de que ele entenda que precisa nos dar um tempo.
''Vou deixar os pombinhos a sós.''
E ele entende, é claro.
Ele pega em minhas mãos e me olha nos olhos, sei quando sua expressão me mostra que ele está desconfortável.
''Olha, por favor, tente manter a cabeça aberta e entender o que eu vou te dizer. Sei que agora as coisas serão diferentes, nos veremos pelo celular ou nos finais de semana que você vier, então é possível que você encontre alguém que esteja lá para você.''
''Pedro, não faz isso.'' Eu o interrompo, não quero ouvir o que ele tem a dizer, não quero nem cogitar essa possibilidade.
''Eu preciso dizer, por favor, me dói, mas eu preciso ser realista, nós precisamos. Eu não vou estar ao seu lado, e se você encontrar alguém que esteja eu quero que saiba que está tudo bem, não precisa se sentir culpada.''
Eu solto suas mãos e coloco as minhas em seu rosto.
''Nós vamos nos falar por celular e por chamada de vídeo todos os dias, você vai me contar como foi seu dia na faculdade e eu vou contar como foi o meu em meu ultimo ano da escola, vamos contar os dias para nos vermos e vamos ficar juntos aos finais de semana que eu puder vir, podemos dar um jeito e não, não há outra pessoa que eu queira ao meu lado, não há outro alguém, se você não estiver, ninguém estará, não há ninguém para mim lá. Entendeu?''
''Sim.''
Eu o beijo, um beijo doce e calmo.
''Te amo.''
''Te amo.''

InefávelOnde histórias criam vida. Descubra agora