Inusitados

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_Antoniete posso falar com você um instante? Disse Dona Márcia, quando terminei de dar a aula de  Nathaniel.
_Sim. Falei prontamente.
_ Queria te agradecer devidamente por ter me ajudado aquele dia, se não fosse por você eu teria feito bobagem e afastado meu filho de mim. Eu não sei como não havia percebido que podia contar com você, tenho sofrido tanto sozinha durante tanto tempo. Desabafou ela, emocionada.
_ Não se preocupe Dona Márcia, eu sei o quanto a senhora trabalha e não tinha como confiar em uma pessoa que mal conhece. Falei tentando animá-la.
_ O trabalho é meu escudo, só Deus sabe o quanto tenho chorado em frente ao computador. Disse ela. _ Depois daquele dia que quase perdi meu filho, percebi que tenho que viver melhor por ele. Continuou.
_ Nunca é tarde para valorizarmos o que realmente é precioso. Falei.
_ Preciso voltar a viver também, Antoniete, depois que aquele homem fez toda aquela sujeira em minha vida, eu praticamente desisti de mim, estava sendo um vegetal, não sei por onde andam as que se diziam amigas, e meu coração se fechou totalmente para outro homem. Disse ela melancólica.
_Fico feliz que reconheça tudo agora, Dona Márcia. Falei
_Um amigo me convidou a uma exposição de artes, sábado no centro. E quero convidá-la a ir comigo, já que tenho dois ingressos. Nathaniel pediu-me para ir passar o dia na casa de um amigo e eu confiei, deixei.  Disse ela.
_ Oh! Que bom, fico muito grata pelo convite, claro que vou, amo Artes. Falei sorrindo.
***
Cheguei ao décimo terceiro e Marlene, disse que Ana estava com o pai no quarto, estavam desenhando.
Eu a acompanhei e ela bateu na porta.
_ Seu Davi a Professora chegou. Disse.
_ Antoniete! Gritou Ana. Vem desenhar com a gente.
_ Olá! Só se você fizer um desenho bem bonito para mim, mas que tal só depois de a gente ler uma historinha?! Falei colocando a cabeça na porta do quarto, cumprimentei senhor Davi friamente quase sem olhá-lo. Tinha medo de encará-lo e ele descobrir o que eu sabia.
A garotinha incentivada pelo pai, saiu comigo e ele continuou no quarto.

Durante  toda a aula não saiu de lá. O que foi melhor para mim. Quando terminei, despedi-me dela e pedi que ela o chamasse para fechar a porta já que ela não sabia.
Ele veio, com a cara de sono, de bermuda sem blusa.
_ Você já vai? Perguntou ele.
_ Sim a aula terminou. Falei olhando os livros.
_ Que pena! Ana gosta muito de sua companhia e eu também. Disse ele dirigindo-se à porta.
_ O senhor é muito gentil, fiquei feliz de vê-lo brincando com ela.
_ Foi por causa do que disse uma certa professora sutilmente persuasiva . Disse ele sorrindo.
... Aí meu Deus me perdoe por isso, mas eu beijaria esse homem agora mesmo.
_Tenho que ir. Falei.
_ Sabe aquela pizzaria que você me viu tocar? Perguntou.
_ Sim. Respondi.
_ Quer ir comigo no domingo?
Aquele convite foi muito inusitado, e agora o que devo responder?
_ Acho... Que sim. Falei insegura.
_ Tudo bem então, nós vemos domingo. Disse ele.
... É sério que aceitei?! Cuidado, cuidado, cuidado, mesmo que você saiba que a mulher dele está o traindo, ninguém sabe que eles estão separados.
***
O pensamento era o mesmo durante todo o percurso no ônibus até em casa. Só foi interrompido por uma mensagem inusitada.

Minha doce Antoniete, estou ansioso para que o fim de semana chegue e você possa me dar o prazer da sua companhia novamente. Passarei para buscá-la no sábado a noite.

Beijos Kalleb.

Eu espero de verdade engatar um relacionamento com Kalleb, assim não corro risco de fazer bobagem. Respondi a mensagem concordando, estava muito feliz.
***
O sábado havia chegado e só agora eu percebi que meu fim de semana será bem completo.

_ Bom dia Dona Márcia, nos encontramos na rua da farmácia, perto de casa. Falei logo que entrei no carro.
_ Bom dia Antoniete, pode me chamar de Márcia. Disse ela com uma voz alegre e morta de chique, eu nunca a havia visto tão arrumada, óculos escuros, jeans colado e blusa de seda, o cabelo curto estava esvoaçante e o batom vermelho se destacava. A elogiei, ela sorriu e retribuiu.
Eu também estava de jeans, batinha cavada  e salto médio.

O centro de artes era magnífico, a arquitetura, as esculturas, era o meu mundo. Muitos homens mulheres subiam os degraus conversando, gesticulando ou olhando os panfletos que recebiam logo que chegavam.
Um jato frio do ar-condicionado na porta nos aliviava do calor de fora.
Muitas vozes, vestes, cores, se misturavam na entrada principal, seguimos por um corredor e no meio deste já nos deparamos com alguns  trabalhos de Victor Torres o artista que estava expondo aquele dia.
_ Olá querida Márcia que bom que veio. Falou uma das conhecidas dela. Márcia me apresentou e a jovem comentou que Victor ficaria muito feliz ao vê-la.
Nesse momento quase desmaiei, não sabia que o amigo que a tinha convidado era o próprio Victor Torres o maior nome da fotografia nacionalmente.
Ela sorriu diante de minha alegria ao saber disso.

O nome da exposição era Vox.
Mostrava belas, expressivas e intrigantes fotos de pessoas que mesmo em silêncio falavam tudo.
Andamos entre os corredores, paramos na frente dos quadros, conversamos e sorrimos juntas, era possível está nascendo uma amizade entre nós.

Entre tantas pessoas ali, um rosto me chamou atenção ao longe, achei que seria impossível, mas ao me aproximar tive a certeza que era a bela de cabelos longos, corpo esbelto e sorriso fácil a namorada de Arthur.
... Como era o nome dela mesmo? No dia em que nos apresentou ignorei isso, na verdade acho que não quis saber mesmo.

Olhando um pouco mais atrás, quem diria Arthur com uma taça de champanhe, olhava para uma foto. ... Até parece que entende alguma coisa, se eu não o conhecesse poderia me enganar.

Virei-me e fiz de conta que não os vi. Estava bem demais para algo me atrapalhar. A mesma jovem que nos cumprimentou na chegada disse algo no ouvido de Márcia que virou -se, disse que voltava logo e a acompanhou.
Eu Continuei a caminhar observando as obras e no fim de um corredor:
_ Antoniete?!
_ Arthur?!.

Por muito tempo tudo o que eu queria era um momento assim, ele perto de mim, dizendo meu nome, pedindo desculpas por tudo e me beijando, mas agora com ele aqui, já não sei se ainda existe algo daquele tempo.
Ele me falou que estava acompanhando a Carla, era esse o nome. Eu falei que vim com uma amiga, pouco tempo depois, Márcia se aproximou, os apresentei e Victor Torres começou um discurso sobre a exposição.
Durante todo o tempo, Carla estava sempre cercada de amigas e amigos além de um senhor e uma senhora que possivelmente fossem seus pais, enquanto Arthur, era acompanhado por sua taça de champanhe.
No fim da exposição, tiramos, Márcia e eu uma foto com Victor.

No carro ela comentou sobre Arthur, disse que era muito bonito e que parecia interessado em mim, já que não parava de me olhar enquanto Victor falava.

Falei que não percebi. E comentei que havia percebido que Victor estava interessado nela, já que, em três das palavras que dizia duas era olhando para ela. Ela disse que não percebeu.

_ Nós somos ótimas em paquerar. Disse ela ironicamente e sorrimos.

Um aMor Fora Do padRãoOnde histórias criam vida. Descubra agora