Lila era uma garota comum de 16 anos. Com pais normais, um namorado e muitos amigos com os quais ela poderia contar. Nada fora do normal. "Mas por que esse era o conceito de normal? Por que ser comum, ser igual as outras pessoas era considerado normal?" Era isso que ela se perguntava todos os dias quando acordava para ir para escola.
Ela sabia que ser "diferente" a faria ser rejeitada, ridicularizada e oprimida, pois aquela sociedade em que vivia era preconceituosa e intolerante, sendo assim, seu grande segredo nunca poderia ser revelado. Ela tinha medo.
Ela temia pelo o que aquele segredo poderia fazer com ela e se condenava por ser daquele jeito, por ser "diferente". Seus amigos a abandonariam, seu namorado sentiria repulsa e sua família, bom, ela não gostava de pensar na reação deles por que isso a entristecia. Eles eram uma família bem conservadora, assim como todos naquele lugar onde vivia.
Então um dia ela conheceu alguém, alguém como ela, diferente. Seu nome era Maya, ela era uma aluna nova na escola. Porém, Maya, ao contrário de Lila, não tinha medo. Ela não se importava com que os outros falavam, ela não tinha medo de ser ela mesma. Ser única.
"Ser eu mesma, vai contra tudo o que meus pais me ensinaram e tudo o que a sociedade impõe, então por que eu deveria fazer isso? " Era o que ela dizia a Maya, e a menina sempre a respondia da mesma forma "Se você viver seguindo os padrões, nunca será feliz de verdade".
Maya estava certa e Lila sabia disso, mas como sempre, seu medo a controlava. E quando a menina começou a nutrir sentimentos pela amiga, o medo só cresceu. Ela se sentia confusa e perdida, ela não podia ser ela mesma pois não queria decepcionar sua família, mas aquilo a corroía por dentro. Para ela, era como se seus sentimentos estivessem presos dentro de uma gaiola e ela queria liberta-los. Mas não podia.
E Maya, ciente da emoção de Lila, a incentivou. Começou com uma demonstração de afeto simples como um abraço apertado seguido de um beijo na bochecha. Depois, uma troca de olhares que ambas sabiam o que significava, e quem estava ao redor, se prestasse bem atenção, poderia perceber a química entre as meninas.
E assim se seguiu, até que veio o primeiro beijo. Aquele dia foi marcante para Lila pois foi a primeira vez que ela se sentiu bem sendo quem era. Maya havia lhe convidado para ir ao cinema, era o que garotas "normais" faziam com as amigas. E quando o filme acabou, elas foram ao banheiro que convenientemente estava vazio. Maya deu o primeiro passo, segurou a menina pela cintura, colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e a beijou. Lila correspondeu com o coração saltitando, aquele momento foi único. Foi mágico. Foi extasiante.
Foi o começo.
Foi o começo para um romance secreto, estilo Romeu e Julieta, mas com duas Julietas e sem nenhum Romeu. Elas se encontravam escondidas, namoravam um pouco e depois voltavam para casa como se nada tivesse acontecido. E foi assim por dias, até que tudo desmoronou.
Um vídeo.
Um único vídeo onde mostrava as duas garotas juntas e de mãos dadas. Aquele foi o motivo para todo o caos que se seguiu. Todos olhavam para as duas com nojo e ódio, e sempre diziam "Como duas meninas podem se envolver daquela maneira? Que repulsivo". E por isso, Lila faltou a escola na manhã seguinte.
Ela chorou, mas não havia mais lágrimas. Então gritou, mas não havia mais fôlego. Ela odiava aquele vídeo. Odiava quem tinha gravado. E acima de tudo, se odiava. Se odiava por ter sido descuidada, por ter se rendido aos seus desejos, por ter revelado seu segredo. Ela era lésbica e agora todos sabiam.
Seu namorado, hostil e intolerante, quis tirar satisfações. Ele não podia aceitar o fato de sua namorada ter o traído, ainda mais com uma garota. Então ele foi até a casa de Lila, os pais da menina não estavam, eles não conseguiam ficar perto da filha. Lila atendeu a porta com certa relutância. O menino, com brutalidade, a levou até o quarto e a jogou na cama. Ele começou a gritar, desferiu palavras baixas e preconceituosas. Lila apenas chorava.
"Vou te transformar em uma mulher de verdade" foi o que ele disse depois de tirar o cinto de sua calça. Ela tentou fugir, mas ele era biologicamente mais forte. Ela tentou gritar, mas ele a calou com um soco em seu rosto. E quanto mais tentava escapar daquela situação dolorosa e constrangedora, mais apanhava do garoto. E ele, satisfazendo seu desejo sádico, mantinham um sorriso de prazer no rosto.
O que foram minutos, se pareceram horas. Lila se sentia fraca, suja e humilhada. E mesmo não estando tão consciente, ela ainda sentia a dor. Seu corpo era um brinquedo nas mãos do garoto, e ele logo a jogaria fora. O sangue que escorria em suas mãos ásperas, fez com que ele tivesse a sensação de missão cumprida, e quando se sentiu satisfeito, largou a menina e ajeitou sua roupa.
Ele a observou por um bom tempo, esperando que ela o agradecesse, mas nada aconteceu. Lila mantinha os olhos fechados, não se mexia, nem chorava ou gemia pela dor. Ela não respirava. O garoto a chamou pelo nome, e nada. A cutucou, e nada. Checou sua pulsação, e nada. O desespero cresceu dentro de seu peito, e sem saber o que fazer, ele apenas saiu correndo da casa, deixando o corpo sem vida da garota para trás.
Lila foi uma garota comum de 16 anos. Com um pais conservadores, um namorado agressivo e preconceituoso e muitos amigos com os quais ela nunca pode contar. Ela sabia que ser "diferente" a faria ser rejeitada, ridicularizada e oprimida, e ela foi. Lila morreu por ser ela mesma, por ser diferente.
Por apenas amar.
Um fim trágico para uma garota que só queria ser feliz.