Psychotic Unconsciousness

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Bunker de Kimball, San Francisco

18:31 p.m.

Mariá de Alcântara

A dor de cabeça se faz presente antes mesmo que a consciência me tome por completo. Apesar do latejar constante na minha têmpora direita, sentia um relaxamento incomum nos membros. Drogas. Abro os olhos lentamente estranhando a pouca luz, fico quieta e analiso tudo ao redor me forçando a lembrar do que tinha acontecido. Com certeza estou sob o poder de alguém que não é Mark Zill... ele prefere coleira à algema. Há algo entrando por um acesso em minha veia, soro com drogas... o detalhe é se são lícitas ou ilícitas. Estou deitada em um colchão de ar, no chão. O lugar é limpo e pouco iluminado, vejo uma figura alta e musculosa sentada atrás de uma escrivaninha, na parede em frente a que estou rente. Gemo ao tentar lembrar quem ele é, o que chama a sua atenção.

-Está acordada?

Ele se levantou fazendo um barulho horrível, o que me fez encolher. Forcei a vista e o cérebro, preciso pensar. Pela sua postura, roupas, a arma reluzente na cintura e a forma com que a porta orgulhosa e despreocupadamente, é policial. Não sei se rio ou choro quando essa porta policial senta-se ao lado do colchão e analisa meu corpo, com cara de preocupação. Não pude conter o riso de escárnio, que não sustentei pois os machucados rasgaram mais um pouco.

-Sou Kimball Cho, do FBI. Apertaria sua mão, mas não quero que se mova. Quero cuidar dos seus ferimentos, mas esperei que acordasse para pedir permissão... acho que já te tocaram a força demais...

Arqueei as sobrancelhas e o encarei. Não encontrei mentiras em seu olhar, mas ainda assim não confio nem um pingo nesse tal Kimball.

-O que está injetando em mim, Kimball?

-Morfina, soro e Diazepam. Teu nome é? Perguntou enquanto mostrava as embalagens vazias e aplicava Sulfato de Rifamicina em meus cortes.

-Mariá de Alcântara. Mas não me chamam assim há anos, sou Rose. Como as centenas de escravas de Mark Zill.

Ele mastigou meu nome, como todos os americanos. Sou brasileira, mas não vou falar nada que não seja necessário para garantir a minha sobrevivência.

-Tem quantos anos?

-Não faço a mínima idéia. Que ano estamos?

Kimball se assustou com a minha pergunta e largou o rolo de ataduras, percebi que relutava em mexer nas minhas coxas.

-Hoje é 25 de fevereiro de 2015.

Arregalei os olhos.

-Faço 18 dia 08 de março...

Estávamos os dois em choque e um celular me tira do sufoco. Preciso processar tudo isso, minha cabeça roda e sinto enjoos terríveis. Foco na minha respiração enquanto Cho se afasta em direção à porta. Não consigo conter os tremores, meu coração palpita e o desespero pinta pontos em minha visão. Tem muitas coisas erradas. Ele vai vir atrás de mim, são quase 10 anos de escravidão. Não consigo encarar meu corpo, está desfigurado. Eu estou desfigurada. Quem sou? Viro a cabeça em direção a porta, surtando internamente. Uma mulher entra e corre até as aparelhagens presas no meu corpo. Ela fala e eu não escuto, estou tremendo violentamente e quero arrancar essas agulhas de mim. Vou morrer. Preciso morrer. Ele vai matá-los. Grito palavras vagas, as quais permeam: Burrice, ele vai me matar, quero morrer. A inconsciência me abraça em um sono inquieto e assustador.

Bunker de Kimball, San Francisco

19:41 p.m.

Kimball Cho

Não conseguia tirar os olhos dela. Desde que Lisbon tirou o seu vestido e percebemos as extensões dos ferimentos externos estou preso a essa visão apavorante. Jane vomitou, e percebo as lágrimas de Teresa que caem nos longos cabelos sujos de Mariá.

-ok, Cho, precisamos dar um banho nessa garota.

Assenti e começamos a operação, levamos ela e os aparelhos médicos até a banheira. Jane se retirou assim que as últimas peças de roupa foram removidas. Me ocupei em limpar com cuidado cada madeixa suja de sangue, terra e sabe-se lá o que mais.

-Precisamos pegar esse cara. Lisbon fala sussurrando, mas sua voz carrega um ódio que só a vi reservar a Lorelai, Red John e suspeitos de estupro. Percebo que há algo mais, não que costelas quebradas não sejam impactantes, mas o jeito abalado de Teresa vê algo que não sei se quero.

-sinais de violência sexual? perguntei aplicando condicionador e enrolando o cabelo sedoso e recentemente limpo.

-praticamente mutilação.

O corpo pálido e extremamente magro se agita em um espasmo de pesadelos e alucinações, enquanto a enxaguamos pela última vez. A tatuagem abominava mais que qualquer laceração. Do início do pescoço ao topo dos seios, o sobrenome Zill foi gravado na carne da pequena, e pelo meu palpite ela foi feita logo que Mark a capturou.

-Precisamos remover isso. Falei sem saber a quem. Negaria a todos menos a minha própria consciência que estamos perdidos. Ela é só a ponta do iceberg, com certeza sabe mais que anos inteiros de investigações dos melhores do FBI, mas mesmo assim, é justo, é correto fazê-la reviver cada momento?

Senti o abraço leve de Teresa e me permiti relaxar uns três segundos.

-Deixe-a escolher, é o certo.

-Peguei uma roupa na mala. Jane atirou as peças no meu colo e a vestimos, lingerie branca, blusa de gola preta e um short confortável de algodão. Roupas pegadas às pressas por Lisbon e que ficaram ligeiramente grandes nela.

-Está gelada Cho. Eu não trouxe mais nada...

Rapidamente peguei uma camisa minha e comecei a vesti-la. Nesse exato momento, Mariá piscou os olhos verdes lentamente e me encarou. Senti sua respiração no meu rosto, estávamos próximos demais. Ela pendeu a cabeça no meu ombro e falou com a voz rouca:

-frio, fome e dor de cabeça Kimball.

Rescue of The Future - The MentalistOnde histórias criam vida. Descubra agora