Capítulo 1
Carta ao leitor
Eu tinha quatorze anos e ainda acreditava que o amor vencia o ódio, e que tínhamos de amar nossos inimigos, era tudo flores. Demorou bastante para eu perceber que o mundo não era só flores, desenhos, notas dez, brincadeiras e tudo isso, eu não sabia, e nem queria saber, de quão o mundo pode ser cruel. Eu queria crescer e ser como minha tia, livre, independente, feliz, porque para mim o mundo adulto era o melhor, o mais bonito e perfeito dos mundos. Mas hoje, com dezesseis, acho que nem dessa idade eu passo. Mas como poderia saber? Ninguém me deu um spoiler da minha vida não, mas se tivessem me dado… eu teria desistido.
Não se pergunte o porquê disso tudo tudo, eu te conto, afinal, é minha história. Bom, tudo começou quando eu tinha 12 anos e tinha acabado de mudar de escola, eu demorei para fazer amizades mas quando eu fiz se tornaram meu porto seguro. Contava tudo a elas, as considerava irmãs, dois anos se passaram e uma delas se mostrou diferente, e começou a fazer a cabeças das outras. Eu fingi não estar vendo por pura inocência, pensei ser brincadeira, eu nem imagino o que falavam de mim sem eu estar por perto.
Tinha um menino Rafael, ele dizia gostar de uma delas e ela também dizia gostar dele, então eu pensei em ser cupido de ambos, mas eu não sabia que iriam entender mal. A que se mostrou diferente, Heliana seu nome, achou que eu estava dando em cima dele e contou a história toda errada, eu queria ajudar mas sai como vilã da história. Tive de escolher entre os dois. Quem escolhi? A meu caro leitor, eu já não te falei que era inocente? Eu pensei que conseguiria mentir, pois de certa forma tinha me apegado a ambos, então pensei "eu posso ser amiga dele pela internet, e ser amiga dela na realidade, certo!?" errado! Eu não sabia mentir, e como está óbvio foi tudo por água abaixo. Eu perdi minha amiga, e ele também. Mas ele era o menos importante.
Eu tentei, e me culpei, por muito tempo ainda… era estranho… estar no mesmo lugar que elas, olhar elas rindo e sendo felizes sem mim, era um tanto quanto torturante. Eu não sabia que era tão dependente delas, tão dependente de amizades e que eu só tinha outros colegas por causa delas, eu literalmente era a D.U.F.F. (desengonçada, útil, feia, e fofa). Eu era usada por terceiros e nem percebia, eu pensava ser feliz, eu pensava ter as melhores amigas, eu pensava que estava dentre um mar de rosas porque era tudo muito bonito.
Eu não sabia que perdê-las seria tão deprimente e solitário. Eu não tinha amor próprio nem sabia o que era isso, eu era mais apegada a elas do que eu pensava ser independente, e ter muitos amigos mas eu não tinha. Eu demorei bastante tempo pra sair dessa de "eu sou a culpada", "eu ainda dependendo delas", "elas eram e são meus portos seguros", até eu mesmo falar que não precisava delas e estava muito bem sozinha. Afinal, eu não precisava, não é? Elas queriam que eu fosse para longe, e eu também queria, então porque eu não sentia que isso não era verdade? Eu também não sei, mas martelar isso só me fará mal.
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Depois disso eu fiquei a beira de um abismo, não sabia se me deixava cair ou me segurava em algo, eu estava sozinha afinal! Ninguém me guiou para uma direção, eu tive que me encontrar. Nesse tempo em que estive só, fertilizei minha imaginação, eu criei um mundinho meu enquanto não fazia amigos, e acredite ou não, isso demorou pra caramba. No meu mundinho, eu tinha amigos e uma família perfeita, mas a história nunca se repetia e nem se repete. Eu criei esse mundo para fugir do que é real, para disfarçar todo o real sofrimento e tristeza que eu guardava em mim, e de mim. Eu passei um bom tempo nele, e nesse tempo ainda eram historinhas bobas, e romances perfeitos.
Então esse tempo, que passei comigo e no meu mundo. Serviu pra duas coisas, me amar e descobrir o'que era o amor próprio e me odiar e me sentir fraca. Eu também não aguentei a solidão então comecei a criar "várias eu 's", uma delas é tão real que a chamei de Fabiana, ela está comigo até hoje e eu realmente a considero uma amiga, mesmo sendo só uma versão de mim. Uma versão mais madura. Uma versão com mais ego, com mais força de vontade, com mais autoestima, uma versão melhor de mim.
Sempre ficamos no pátio da escola vendo quem ia e vinha, sempre só, sempre nós. É um pouco louco e paranóico e anormal, mas eu estava só e para mim ela é real. A escola não era da mais grandes mas também não era pequena, era média, era o suficiente, ficávamos perto da cantina onde tinha quatro bancos formando um quadrado e no espaço que sobrara dentre este quadrado, havia uma árvore, pequena, não era o suficiente para tampar o sol mas para mim era bom e confortável, era um lugar quase que ignorado por todos, ninguém me via ali, ou fingia não ver ficávamos hora olhando o nada, hora olhando o tudo. Sem amigos, colegas, ou coisa do tipo, quando não estávamos conversando eu estava no meu mundo imaginando o romance perfeito, e amizades perfeitas.
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Carta Para Letícia...
Non-FictionUma garota que aprende na marra que a dor é necessária, mas não eterna.