É aqui que eu lhes conto uma história, minha história. A história de meu primeiro e único amor, que sucumbido em desejo todos dias e noites, sonhando com seus olhos e toques. Inalando seu cheiro que me preenchem de memórias e, nossa, que memórias!
Eu era sonhador que lutava contra todos os olhares e reprovações daqueles que diminuam e me julgavam com seus olhos. "Maquiagem não é para homem", diziam, "Isso é coisa de mulherzinha". Bem, desde pequeno sempre gostei desses "produtos femininos", para mim eram mágicos. Podiam transformar pessoas, realizar sonhos e fantasias. Você pode ser uma bruxa, um elfo ou até mesmo trocar de gênero. É encantador, como um conto de fadas, o feitiço da Cinderela. Só precisava passar aqueles produtos e pronto. Lembro-me de quando pequeno roubava as maquiagens de minha mãe e na primeira passada de batom eu sentia que podia ser quem eu quisesse, sentia o enorme poder da maquiagem.
Nunca desejei me transformar em alguém, em ser outra pessoa. Nem todos sabem se maquiar, então às vezes, é preciso de alguém que entenda, como uma fada madrinha. Bem, eu queria ser essa fada madrinha, poder realizar sonhos e fantasias. "Desejo ser um sapo" eu com minha varinha, quero dizer, meu pincel mágico posso fazer isso acontecer. "Uma sereia" também posso. Era o que eu mais sonhava. Mas como disse, para muitos maquiagem era coisa de mulher. Eu, como homem, não podia fazer isso. "Você quer virar gay?" era a pergunta que eu mais ouvia e a mais idiota de todas. Não quero virar nada, se eu for ou não for isso não fazia diferença. Fazer maquiagem não me tornava magicamente gay.
Minha adolescência foi bem conturbada, como de qualquer jovem que luta contra a desaprovação daqueles em sua volta, em relação aos seus sonhos e a si. As escondidas eu juntava todas minhas forças e esperanças para realizar esse sonho e assim que vi a brecha, me joguei com tudo. Formado no ensino médio, entrei na faculdade mais longe possível de casa, comecei a fazer empregos avulsos com propósito de me sustentar. Meu apartamento podia ser o menor e o pior de todos, mas nada era pior do que viver sem poder ser eu mesmo. Passei por muitos momentos difíceis, até quase ficar sem teto para morar. Quando me vi, estava largando a faculdade e trabalhando para pagar minhas contas e sobreviver, meus sonhos já não existiam mais. Aquilo me comia por dentro, era como se o meu "eu" estava esvaindo bem diante dos meus olhos e eu não pudesse fazer nada. Foi então que certa noite minha vida mudou.
Triste e desmotivado, as vezes me via com um copo nas mãos e olhar vazio. E certa noite, andando pelas ruas, pernas cambaleando, me sinto atraído por um estabelecimento. Um cheiro doce como maçã do amor, risadas calorosas e músicas alá anos 60. Homens e mulheres de várias idades sentados em mesas e balcões trocando risadas em conversas amigáveis. Seja lá que pub eu havia entrado, mas era o primeiro lugar de noitada onde não havia gente bêbeda discutindo, paquerando ou até coisas piores. Meus olhos admiram o local com várias plantas e luzes rosadas, da forma mais aconchegante de todas. Tapetes vermelhos felpudos, que abriam caminho para um tremendo palco. Cortinas rosas com glitter, no qual brilhavam como estrelas num céu cor de rosa. Óbvio que com minha mente nas nuvens, meu corpo automaticamente se dirigiu ao balcão e quando dei por mim, tinha em mãos um copo de Kentucky Kiss. Era o copo de Kentucky Kiss mais bonito que tinha visto, ou talvez eu só estivesse bêbado demais.
Minha mente esvaía cada vez mais, até que as luzes do pub se apagaram, dando destaque aos holofotes do palco galáctico. Entre as cortinas saí uma alta e bela mulher de cabelo cor de algodão doce, usando um longo vestido prateado e um enorme cachecol de pluma branca que caia sobre seus largos ombros. O público grita seu nome: "Big Cat! Big Cat!" enquanto ela desfila graciosamente até o centro do palco e dá uma atrevida piscadela seguindo de uma grande gargalhada mostrando seus lindos e alinhados dentes brancos. O silêncio então prevalece e sua grossa e calorosa voz ganha rumo no ambiente. "Meus olhos me traíram?" logo pensei, aquela extravagante e bela mulher era na verdade um homem. Minha garganta seca e daquele momento esqueço do delicioso copo de Kentucky Kiss que antes me deliciava com vontade, já que na minha frente estava o que precisava. Um sonho real e por mais dos grandes detalhes ali presentes, o que tornava tudo mais real, era a sua maquiagem. Foi naquela noite, que ao vivo vi uma drag queen e por mais que tivesse visto várias na tv ou na internet, ter uma cara a cara é muito diferente. Óbvio que me apaixonei por aquele mundo. A magia de uma maquiagem que pode dar forças aquele sonho de virar quem elas desejam ser, eu queria poder fazer parte. Diversas vezes voltei naquele pub e de tanta insistir, consegui um emprego como maquiador do local.
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Realizador de sonhos - Oneshot
FanfictionKirishima é um jovem sonhador que acredita que maquiagem podem mudar vidas e realizar sonhos. E com seu enorme amor por esse mundo de realização de sonhos decide que fará parte dessas tão mágicas transformações e ajudará pessoas a realizarem sonhos...