Bang Chan
- Você trabalha aqui? - perguntei.
Min Li não parecia querer responder, uma vez que já estava óbvio.
- Então, 'tô começando a cogitar aquele papo de destino - ela disse, novamente aquele sorriso carregado de sarcasmo estampando seu rosto.
Revirei os olhos em gozação, me posicionando também no balcão de atendimento. O silêncio foi se instalando e logo minha presença parecia incômoda.
- Quanto tempo até abrir? - perguntei.
- Já abriu.
Claro que a resposta foi curta e grossa, não era de se esperar algo simpático. Talvez Min Li não esqueça meus comentários sobre ela ser uma diva, 'pra falar a verdade eu até me sinto culpado, ela provavelmente teve seus motivos para fugir e aquilo não era da minha conta.
O clima persistiu durante todo o expediente, ela trocava poucas palavras comigo, enquanto eu tentava chegar perto. Quando todos os jogos acabaram, reconheci apenas Seungmin, Li, Jisung e Hyunjin, o último não parecia adaptado ao ambiente.
- Vocês terminaram? Já vão embora? - perguntei ao Hwang.
- Acabeu, eu vim fazer um teste e adivinha, a partir de hoje carrego as toalhas suadas do Seungmin.
É, talvez seja por isso a feição descontente. Jisung nos informou que Li e Seungmin ficariam treinando até tarde, e todos nós poderíamos ir embora. Mas, por alguma razão, Min Li já não estava lá.
A sorveteria se encontrava trancada e minha mochila do lado de fora, apontando que era hora de resolver aquilo. Caminhei apressadamente até alcançar a garota, ela não pareceu se abalar, continuou com passos calmos.
- Podemos conversar? - perguntei, sem receber resposta.
Agora com a cabeça baixa, seus pés se moveram mais rapidamente, mas ela não estava com medo, então seria...
- Min Li, acho que temos coisas pendentes - avisei.
- Impossível - ela respondeu, a voz mais ríspida que o habitual.
- Na verdade, eu acho que você também sente isso. Por que está fugindo? - falei mais alto dessa vez.
E então ela parou de andar ainda de costas para mim, seu corpo foi virando lentamente, e por alguns segundos minha cabeça gritou que eu deveria correr para o mais distante possível.
- Sabe, no começo me incomodou só um pouco, mas agora eu sinto que vou explodir de raiva - ela foi despejando as palavras de forma grosseira, mas eu não me importei.
- Como assim?
- Eu não sou uma diva, Chan, só tive um momento de fraqueza. Da mesma forma que você teria se um mal pressentimento ocupasse tudo na sua frente, ao ponto de ficar cego.
Céus, ela não tinha pulmão? Como tantas palavras saíram tão rapidamente, inacreditável!
- Você fugiu do show por causa de um mal pressentimento?
Não, com certeza não.
- Sim, com certeza sim.
Ela é mais estranha do que eu pensei.
- Mas você não lida com esse tipo de coisa direto? Se apresentar em público trás inseguranças.
- Não é insegurança, e só acontece com uma pessoa. Tipo quando você sonha com alguém e essa pessoa aparece, parece loucura e... - Nem sequer deixei Min Li terminar.
- Não é e nem parece loucura, pode acontecer com qualquer um! Acontece com você?!
Talvez eu tenha me empolgado um pouco, afinal, encontrei alguém que pode ser como eu.
Min Li se recolheu um pouco antes de abrir a boca para responder, seus ombros e sobrancelhas estavam tensos.
- Depende, você 'tá falando de sonhar ou outra coisa?
Será que ela tinha medo de falar?
- Sonhar com alguém e encontrar a pessoa. Acontece com você também?
Silêncio, acho que exagerei, ela não respondia e seu rosto demonstrava apreensão.
- Só um pouquinho...
- Não acredito! Achei que eu fosse o único, ou que tinha enlouquecido de vez!
- Sério? Nossa! eu também achei que 'tava louca.
A expressão apreensiva foi sumindo, aos poucos dando lugar ao sorriso empolgado. Logo já estávamos caminhando juntos, sem perceber trocamos de assunto várias vezes, no fim ela não era uma diva.
Descobri que ela queria pintar o cabelo de vermelho mas erraram sua tintura, que ela ama bolinhos de arroz, tipo, 'pra caramba, e até que tinha uma escova de dentes verde. Entretanto, eu já sabia, nos meus sonhos ela sempre usava algo verde, comia bolinhos de arroz e também me lembro de pintar seu cabelo de vermelho, manchei minhas mãos naquele sonho e a tinta teria demorado alguns meses a sair.
Quando me dei conta já estávamos na porta do prédio dela, os fios negros se misturavam com os róseos, uma das mais lindas visões que já tive.
- Min Li, me desculpa?
Arrisquei, baixinho e inseguro, recebendo um encolher de ombros vindo de Min Li. Não quebramos o contato visual, eu o faria até que ela respondesse, era sim ou não.
- Mas você já sabe que eu não sou daquele jeito - provavelmente confusa, ela tentava me explicar alguma coisa que eu não me importei em entender.
- Te julguei mal, somos mais parecidos do que eu imaginei, devo um pedido de desculpas.
- Não precisa, nós não vamos ser amigos nem nada do tipo. Certo?
Como é? Não vamos ser amigos? Ela enlouqueceu!
- Como assim? Tipo, tivemos um momento, certamente isso foi um momento.
- Que momento?
Encarei, analisei, estudei cada traço de sua expressão maldosa, aquele sorriso desentendido era cruel.
- Eu e você! Acabamos de descobrir que sonhamos com alguém, achei que seria bom...
- Ficarmos juntos? - juntou as sobrancelhas em dúvida ou talvez implicância.
- Só 'pra não ficar doido, sabe...é complicado.
Novamente o silêncio, maldito silencio, me trazia a sensação de que ela iria dar as costas.
E foi isso que ela fez.
- Ok, talvez não seja mesmo uma boa idéia. De qualquer forma, vou ali comer um cachorro quente e se você precisar me liga...ou não, você pode chamar seus vizinhos e...
- Você vai aonde? - ela perguntou, seu corpo travando completamente. Será que ela gostava tanto assim de cachorro quente?
- Na lojinha de cachorro quente.
Mesmo enquanto respondia continuei andando, não é como se ela fosse me dar bola ou algo assim.
E foi aí que a coisa ficou esquisita, quando senti olhares em mim, meus pés tocaram o asfalto da rua e uma luz forte iluminou meu rosto, pequenas mãos postas em mim empurravam meu corpo para frente. Um barulho irritante estourava meus ouvidos, apito ou algo assim, senti sangue em contato com a pele, cheiro de sangue e borracha. Fui ficando tonto pela luz forte e enjoado pelo cheiro forte, uma situação desagradável. Então, por um breve momento minha visão ficou menos turva.
Dizem que na hora do desespero enxergamos impossibilidades, por isso torci para que Min Li não estivesse realmente caída no chão. Mas havia sangue no chão, e eu não possuía nem um mínimo arranhão.
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Equalize - Bang Chan
FanfictionEqualizar - uniformizar, igualar. Ter alguém em seus sonhos pode significar uma imensidão de coisas, como que você estará encrencado caso a encontre comprando bolinhos de arroz. Mas sonhar implica em pensar, seus pensamentos instintivamente voam par...