Destino marcado - COMPLETO

Capítulo quarenta e quatro

Pedro

Eu estava me sentindo quase como uma leoa pairando sobre o seu filhote para proteger contra tudo em relação a Malu. Talvez eu devesse dizer leão? Não, não acho.

Não sou pai ainda e estou longe de entender como funciona o senso de responsabilidade, proteção e amor para com um filho. Todavia, admiro extremamente a figura materna. Penso que nada iguala a força, dedicação e amor de uma mãe.

Os meus pais eram maravilhosos, mas a minha mãe parecia ter vindo com a capacidade total para saber de tudo, resolver quaisquer questões e ainda ter toda a sutileza e delicadeza em cada detalhe. Quando a perdi, minha avó, mesmo tendo uma criação completamente diferente, mais severa, sempre soube qual era a coisa certa a ser feita e sua palavra ou conselho sempre foi lei em minha vida.

Todas essas elucubrações são porque, desde que a bomba explodiu com o Mauricio passando mal, segurei na Malu e não quis largar mais. Só me afastei por alguns minutos por necessitar resolver a questão da Luciana. Mas, mesmo assim, busquei pelo Bento, uma das pessoas depois dos pais dela que confiaria a sua vida sem piscar os olhos por saber que só lhe deseja o melhor sempre.

Ao chegarmos em casa, preparei um banho de banheira para a Malu e a deixei sozinha para preparar um lanche. Ainda parei uns instantes no quarto, caso ela precisasse de alguma coisa.

Ela está esgotada. Não é para menos, eu sei, mas me dói que isso esteja acontecendo e que eu seja culpado de alguma forma. Foi por minha causa que tivemos nossa briga quando a Luciana me beijou na festa e isso foi propagado na mídia; foi por meio da minha empresa, das decisões que tomei para afastar àquela desqualificada que o pai dela foi atingido, ela teve que dar mais duro ainda para aguentar a carga emocional do dia e ainda trabalhar para caramba no trailer.

Retiro os frios da geladeira; pego o pacote de pão; suco e iogurte para ela escolher; bolo; geleia; biscoitos e saio arrumando do meu jeito, bem sem noção na mesa. Coloco a sanduicheira perto. Meus dotes culinários não vão muito além do que um misto quente.

Deveria ter pego algo do trailer, mas, com o movimento gigante de hoje, nem ia dar. Acabou tudo, praticamente.

Entro na cozinha novamente para buscar os copos. Quando estendo meu corpo para pegar no armário de cima da pia, sinto dois braços rodearem a minha cintura.

— Poderia ter relaxado mais na banheira. — Aponto, deixando os copos na pia e me virando para encará-la. Seu rosto parece um pouco mais descansado do que antes. Isso me alivia, consideravelmente.

— Se eu relaxasse mais um pouco, teria pego no sono lá mesmo. — Diz sorrindo.

— Imaginando isso que deixei aquela almofadinha embaixo da sua cabeça. — Eu disse que estava no modo cuidador e protetor. — Você fica muito melhor nessa camisa do que eu. — Aliso seu corpo sobre a minha camisa que está vestindo como se fosse uma camisola.

— Não lembrei de deixar roupa de dormir por aqui.

— Possivelmente, porque sempre dormimos pelados. — Sussurro em seu ouvido como se fosse um grande segredo.

— Culpa sua.

— Assumo total responsabilidade. — Ela tenta esconder um bocejo, mas não perco. — Sei que está esgotada, mas precisa comer alguma coisa antes de dormir.

— Sem coragem para isso. — Faz bico e me aproveito disso para beijá-la.

Venho aproveitando todas as oportunidades desde que chegamos ao apartamento. Um fim de semana longe dela faz com que tenhamos muitos beijos de compensação a pagar, ou talvez tudo isso seja apenas uma desculpa esfarrapada para encobrir a realidade que é quase humanamente possível estar perto dela e ficar sem tocá-la de alguma forma.