REGRETS | hopekook

• capítulo único

Pressionei os olhos com a ponta dos dedos, tentando reduzir a ardência neles pelo cansaço acumulado, antes de olhar para o relógio no canto da tela do notebook. Dez horas da noite. 

Não era mais novidade para mim ficar no escritório até altas horas, não porque estivesse lotado de trabalho, mas sim porque cada hora a mais gasta ali, significava menos tempo no completo inferno que se tornou minha própria casa. 

Meu celular já havia tocado sinalizando mensagens de diversas pessoas, para os mais variados assuntos, mas nenhuma sequer vinda dele. 

Nenhum sinal de vida, nem de preocupação, de nada. Dele, eu tinha apenas o silêncio. 

Era dessa forma que estávamos nos tratando há mais de um mês, depois de seis anos de casamento, onde todo e qualquer momento era preenchido por sua risada doce e gostosa, eu não sabia mais o que era o ouvir. 

Isso acabava comigo mais do que qualquer grito que ele pudesse dar. Seu silêncio me sufocava porque sempre fui dependente de sua voz.

— Hoseok? — a voz de Yejin soou vinda da porta entreaberta — O que está fazendo aqui ainda? 

— Apenas adiantando algumas coisas para não acumular, mas já estou finalizando. 

— Certo. Vá logo, é capaz de Jungkook aparecer aqui e te arrastar 'pra fora já já. 

Não, ele não vai.

— É verdade, Yen... Já estou indo, não se preocupe. 

Yejin sempre quase vira noites dentro desse lugar, mas pelo motivo real de ter muito trabalho, já que é responsável por toda a organização financeira da empresa. É sempre a pessoa que apaga a última luz ao sair, mas nos últimos tempos tem deixado essa função para mim, e sei que tem todas as suas desconfianças do que pode estar acontecendo, mas é reservada o suficiente para apenas me oferecer um sorriso calmo e um olhar compreensivo, fingindo acreditar no que digo. 

Depois de se despedir, logo deixei de ouvir o barulho de seus saltos batendo contra o mármore do piso quando o som do elevador bem ao fundo se fez presente, sinalizando que mais uma vez, eu estava sozinho. 

Eu não sabia como havia deixado a situação chegar aquele ponto, como meu casamento saiu de meu controle daquela forma, mas era somente nisso em que pensava enquanto guiava meu carro pelas ruas já um tanto mais vazias da cidade.

Já eram onze e meia quando estacionei em minha vaga no condomínio em que tínhamos comprado nosso primeiro apartamento há menos de dois anos. Lembro da felicidade que estávamos quando finalmente pegamos aquela chave depois de tantos anos economizando e planejando para termos nosso tão esperado lar, sem ter que viver nervosos com aluguel.

Decoramos cada parte daquele lugar com tanta devoção, como se cada detalhe valesse uma vida, e de fato valia, duas, na verdade. Lembro da sensação de calor e conforto que invadia meu peito toda vez que eu cruzava pela porta do apartamento e sentia o cheiro da comida que meu marido insistia em preparar, mesmo depois de um dia cansativo de trabalho.

A lembrança viva de fechar a porta com todo cuidado para não fazer barulho, e caminhar com calma até estar atrás dele, o abraçando pela cintura e sempre ouvir seu grito de surpresa, seguido de uma repreensão brincalhona e sua risada que eu venerava, enquanto eu distribuía todos os beijos possíveis por seu pescoço. 

Muito diferente da minha atual realidade, já que assim que destranquei a porta, sem fazer questão do silêncio de surpresa de antes, muito menos sentindo o cheiro de comida vindo da cozinha, encontro a casa em um escuro total, denunciando que não estava sozinho apenas pelo som distante a abafado da televisão ligada em nosso quarto.