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Pra mim, a pior tese que existe na vida, é quando você fala pra sí mesma "será que tô apaixonada?" e por fim, olhando pro Marcelo, a última coisa que posso dizer é isso. Aos meus 31 anos estou acaba, agora posso dizer, tanto fisicamente quando sentimentalmente, estou um nojo, aos pés de um cara que mal me enxerga, que quando me enxerga é sinal que ele esbarrou em mim sem querer pela casa.

Marina, um amor, gentileza em pessoa, foi bom conhecê-la. Ela parece ser dona de uma família incrível, onde o marido adora crianças e cachorros. Enquanto Marcelo, gosta de putas e vadias, e a única criança que esse cafajeste consegue gostar é do filho dos outros. Quando fiquei grávida, a última coisa que ele fez foi apoiar a nossa decisão de deixar um herdeiro, por azar meu e sorte da criança, eu perdi o neném e agradeço por ele não ter nascido, não com esse homem. Se é que dá pra chamá-lo assim.

Os dias foram ficando curtos quando eu preferia beber e dormir. O álcool me acalmava, se é que me entende. Por longos segundos eu preferia estar morando em uma casa enorme com 48 gatos do que com ele! Já que meu mundo girava em torno dessa casa e do cafajeste, eu nunca tinha o que fazer, acabava que eu despertava meus próprios dons.

Aprendi a tocar piano, violino e a fazer minha janta sozinha. Dispensei todas as empregadas, o que deixou a casa pior ainda. Essa manhã passei o dia na piscina, ao lado havia um jardim que eu mesma zelava. Deitei-me de biquíni na cadeira e fiquei por tomar Sol durante longas horas.

Ouvi o portão da garagem se abrir e estranhei quando vi Marcelo chegar mais cedo. O motivo, ainda não sei e nem vou perguntar. Provavelmente deve ter entrado e não me viu naquela cena melancólica diante do piano e me gritou pelos sete canto da casa, não respondi e nem iria, deixarei ele me achar. Foi quando, afoito, ele apareceu na porta.

- Mulher minha me responde quando eu chamo! - fitou o olhar em mim, eu dei uma gargalhada e aquilo parecia ter deixado o clima pior.

- Acho que não sou mais sua... - me levantei e tirei os óculos. Redirecionei o olhar pra ele.

- Desde quando teve essa idéia de merda? - veio até mim com passos arrogantes, como sempre.

- Você não vê mais graça em mim, Marcelo. Não me toca, não fala que me ama... Não sou sua, paramos de ser um do outro faz tempo. - prendi os lábios e me redirecionei pra dentro da casa. Marcelo, consegue estragar tudo, até um dia que poderia ser comum se ele não me atrapalhasse.

Tranquei-me dentro do quarto, bati a porta que fez eco pela casa inteira, me sentei na cama e respirei fundo. Depois de muitos anos voltei a me admirar, encarei Marcelo e da pior forma, rindo e zombando da cara dele, rindo de perto e não dando ipobe pro show dele. Eu podia bater palma pra mim nesse exato momento, a não ser, por não tirar a ideia de que eu estava perdendo ele. Eu podia sim ficar pra ver o show e lutar por ele, mas eu cansei, quero alguém que fiquei ao meu alcance, se ele não está nunca, não sou eu que o perdi... E sim ele que me perdeu.

Marcelo era sim um cara bonito, atraente, consegue o quer só na conversa, uma pessoa manipuladora e totalmente sexy, mas ele tem um erro enorme, ele não dá valor as coisas. Ele esquece, simples e fácil, acho que pra ele o pior erro deve ter sido se casar comigo. Deve ter sido isso. Eu não vejo assim, eu coloquei a aliança no meu dedo e jurei amor eterno, quer dizer, até quando for necessário, até quando durar.

Vesti uma calça jeans e uma blusa larga de manga, um cinto grande dando uma bela vista aos meus quadris, um salto de palha antigo e sai do quarto. Dei de cara com Marcelo que me encarava.

- Me deixou do lado de fora do quarto... - murmurou calmo, estranhei.

- Desculpa. - sai do quarto e olhei pros olhos dele, depois pro pescoço. Poderia me entregar agora mas voltei pro presente. Abri a porta e o encarei. - Agora você pode entrar. Estou saindo. - virei as costas e fui andando.

- Vai pra onde?! - ele gritou da porta do quarto.

- Vou pensar, Marcelo... Pensar!

- Também vou sair!

- Ótimo! - disse por cima e em alto tom, continuei meu caminho e ainda fui no carro dele!

Cantei os pneus saindo da garagem, liguei meu lado sapatão e aumentei o som em Ana Carolina. Eu não tinha a mínima idéia de onde ou pra onde eu queria ir, eu só fui. Era horário de almoço e resolvi parar no Brigitte's, um restaurante do Leblon, lá era bom e bastante aconchegante, meu primeiro encontro com Marcelo foi ali, mas esquece, eu não vim aqui pra lembrar dele!

Pedi o almoço e depois de terminar, levantei pra ir no banheiro, entrei na cabine do vaso sanitário, em seguida sai lavando as mãos e me olhando no espelho. Por não me achar mais grandes coisas, eu ainda tinha um rosto bonito, tirei da bolsa um batom e passei nos lábios.

- Que boca linda em Joana... - o sussurro me alcançou e gelei. Virei-me e sorri, era Marina.

- Marina?! - dei algumas risadas, eu estava feliz em vê-la, seja lá de qual modo for. - Que bom te encontrar de novo... - abracei ela pelo pescoço, enquanto ela, me agarrou pela cintura.

- Bom te ver também, Jô. - beijou perto da minha orelha devagar e com total delicadeza. Eu me afastei mas continuei sorrindo. - E o seu joelho... Como está?

- Melhor impossível! Foi só um susto... - ela sorriu novamente, ela me olhava e sorria intensamente e sem fim. Tentei esconder o rosto e enfiei novamente o batom na bolsa.

- Tá sozinha?

- Então, eu sai um pouco pra esvaziar a mente... - engoli seco a saliva. - E você?! - olhei pra ela ansiosa pela resposta, querendo saber da maravilhosa vida que ela pode ter.

- Eu tô com uma ex... - ela cruzou os braços e encostou na porta.

- Uma ex? - devo ter feito uma péssima cara.

- Isso mesmo... E não será incomodo algum se você se sentar com a gente.

- Ah, Marina... Não vai dar. Eu fiquei de ir em um teatro com uma amiga ver uma peça que eu não sei o nome. - menti.

- Tudo bem! - ela sorriu novamente, o que já estava me deixando aflita. - Que tal você me dar seu número? Eu te ligo qualquer dia... - balancei a cabeça positivamente.

Trocamos nossos números e tentei não estranhar o fato dela ser lésbica. Era uma ótima pessoa... Um encanto de mulher, menos uma pra lista de Marcelo, ela realmente poderia ser minha amiga, além do mais, eu poderia sair mais de casa e encontrar menos o Marcelo!

Fui pra casa e já se passava das cinco da tarde, me deparei com a garagem faltando um dos carros. Estacionei normalmente, não me assustava mais não vê-lo em casa. Entrei na sala e vi o celular dele em cima da estante ao lado de um jarro de flores. Assustada, foi assim que fiquei. Marcelo nunca cometeria o erro de deixar isso aqui, ainda mais assim, onde todos possam ver. Contei até dez pra não pegá-lo e ler tudo e futricar até as últimas pastas, mas, enfiei na minha cabeça que eu não tinha que tomar conta do que já não era mais meu.

Passei direito, atravessei a sala, no final do corredor parei e de susto deixei a bolsa cair no chão, foi quando escutei o som do celular dele tocar. Corri de salto, igual uma lesada, até a sala, pisei no enorme tapete peludo e catei o celular.

- Alô?!

- A vida faz mais sentido quando você está com a pessoa certa! - foi uma voz sexy e sedutora, eu quis morrer. Melhor, quis matá-lo por aquilo, se bem que agora pouco me importa.

- O Marcelo não está! - continuei com a voz firme.

- E você... Quem é? - fechei os olhos, mordi o indicador mas mantive a serenidade.

- A amante dele... E você? - consegui ouvir uma risada e por fim, a vadia, desligou.

Ontem senti amor, hoje é ódio, amanhã... pena.

FELIZES PRA SEMPRE?Onde histórias criam vida. Descubra agora