CONTOS DE SUSPENSE SENSUAIS

Capítulo VIII: CHAMA DO CASTIGO ETERNO

URIEL, A MANDO DO ARCANJO MIGUEL, DESTRUIU SODOMA E GOMORRA ..., MAS, AINDA HAVIA ESPERANÇA!

Em pé no planalto, Uriel observava planície por onde se estendia a cidade de Gomorra; com a espada desembainhada pendendo em uma das mãos, pingando o sangue de pecadores, ele observava o exército de Querubins, promovendo o rescaldo impiedoso dos ainda sobreviventes; com suas lanças de fogo, eles queimavam os corpos até se tornarem cinzas, atirando seus espíritos em direção ao fogo eterno do submundo, eliminando, definitivamente, todos os pecadores da cidade.

Uriel estava tão repleto de fúria que sequer percebeu a aproximação de Ishtar; ela tocou sua mão suavemente; ele voltou o olhar para ela e fitou o rosto sempre sereno que esboçava um tímido sorriso. "Aplaque tua fúria, Arcanjo ..., o que está feito, está feito!", disse ela com tom assertivo. Uriel nada disse, e muito menos escondeu o ódio que ardia em seu olhar. "Ainda não acabou! Falta Sodoma!", ele disse, afinal, rangendo os dentes.

Ishtar apertou a mão do arcanjo e tentou buscar nele alguma centelha de bom senso; entretanto, ela sabia que isso era impossível ..., Uriel estava cego pelo ódio e sua determinação, naquele momento, era por fim às duas cidades pecadoras que deviam arder até que nada restasse, nem mesmo, cinzas! Ishtar sabia muito bem que o arcanjo era o "Fogo de Deus", e que sua ira não conhecia limites, principalmente, depois do tudo que acontecera naqueles antros de pecado ..., em sua mente, ainda estavam vívidas as imagens de abuso contra anjos mensageiros, e apenas o fogo seria capaz de purificar toda a maldade que existia naquelas cidades.

(Tempos atuais): Gabriela corria esbaforida pelas ruas, temendo atrasar-se para as aulas de seu curso de enfermagem; todos que a conheciam viam nela a materialização divina na terra; com seu rostinho angelical, seu sorriso sempre acolhedor e seu olhar repleto de ternura, Gabi, como era mais conhecida, não recuava diante de um desafio, sempre pronta a enfrentá-lo com suas melhores armas: a compreensão e a solidariedade. Por tudo isso, não existia, na terra, alguém que pudesse não gostar dela.

A única coisa que afligia sua alma, era um pesadelo recorrente, que todas as noites invadia seu espírito, enchendo-a de medo e dor. Neste pesadelo, ela estava caminhando por ruas escuras e frias em uma cidade desconhecida; caminhava a esmo, sem saber para onde ir, nem mesmo porque prosseguir. Em dado momento, ela se via perseguida por dois homens de roupas negras, com um ar soturno e olhar ameaçador, que surgia brilhando como fogo de dentro dos capuzes deles; ela tentava fugir, mas, por mais que fizesse, eles permaneciam em seu encalço ..., em dado instante, ela acaba em um beco, sem saída, e ao olhar para trás vê os seus perseguidores tornarem-se enormes sombras que parecem querer devorá-la ..., ela solta um grita primal e ..., acorda!

Gabi já fizera de tudo, desde o chá milagroso de sua tia Elvira, até sessões de psicoterapia e hipnoterapia, porém, nada disso surtira o efeito desejado de fazer com que o pesadelo desaparecesse! E com o passar do tempo, ou melhor, com o passar dos anos, Gabi desenvolvera uma capacidade de acordar quando tinha início seu suplício noturno, não tornando a dormir; compensava essa deficiência com cochilos diários, devidamente programados para não interferirem em sua rotina.

Por volta dessa época, ela conheceu David, um estudante de filosofia, que tornou-se um amigo muito íntimo, evoluindo para um namoro informal; Gabi adorava o jeito, as vezes divertido, as vezes sábio e erudito de David; ele morava sozinho em um loft na área velha da cidade, e algumas vezes Gabi passava a noite com ele, sempre tomando o cuidado de não revelar a ele seu pequeno drama pessoal; todavia, por mais que ela tentasse, David acabou por perceber o que se passava com ela, oferecendo-se como ouvinte.

Após alguma resistência, Gabi acabou confidenciando a ele sobre seu pesadelo; David ficou muito preocupado e perguntou se ela já procurara alguma ajuda; Gabi contou-lhe que se valera de todos os recursos conhecidos disponíveis, mas, infelizmente, nenhum deles fora capaz de atenuar seu sofrimento. Muito preocupado com ela, David sugeriu a chamada "experiência de quase morte"; a jovem nunca ouvira falar sobre o assunto, e seu parceiro, contou-lhe do que se tratava.