When our truth is burned from history
By those who figured justice in fond memory, witness me
Like fire weeping from a cedar tree
Know that my love would burn with me
We'll live eternally[Better Love, Hozier]
Lily Evans Potter era, sim, como Petúnia Evans, sua irmã mais velha, nunca cansara de dizer, esquisita. Ela era uma estranha. Nenhuma pessoa normal morreria o tanto de vezes que ela morreu, isso é fato. Isso a incomodaria mais tarde se ela tivesse sobrevivido a uma última morte, mas nem mesmo gatos têm 7 vidas. Se lhe perguntassem, então, como ela morreu, Lily responderia o seguinte:
A PRIMEIRA VEZ QUE EU MORRI foi durante meu primeiro ano em Hogwarts, algum momento após 1° de setembro do ano 1971. Onde e quando, especificamente, não sei informar. Eu não estava ciente da minha situação, até demorei alguns anos para notar que morri. Talvez seja justo dizer que eu virei um fantasma, porém isso não me parece muito melhor, para ser sincera.
Eu ainda estava presente em vida naquela época, mas a Lily Evans que eu era, querida irmã de minha irmã, Petúnia, tinha morrido. Aquela Lily entrou no Expresso de Hogwarts, deixando pais e irmã na Estação King's Cross de Londres, e jamais voltou ao mundo depois disso. Eu queria... muito poder saber exatamente o momento em que ela morreu, queria aproveitar um pouco mais ela antes dela ir embora. Machucou perder ela, eu acho. Tanto em Tuney quanto em mim. Uma coisa boa veio dessa experiência: foi assim que eu soube que a morte doía.
A SEGUNDA VEZ QUE EU MORRI aconteceu no meu quinto ano de Hogwarts, o estressante ano dos NOMs. Junho de 1976. A data específica nunca consegui lembrar, nem o horário, mas lembro de todo o resto. Eu costumava recordar o momento por horas e horas na madrugada, deitada na cama do quarto que era meu há quase meia década. Tinha sido tão rápido, tão fácil, morrer... Coisa de menos de um minuto inteiro. E doeu, mas eu também sabia que podia seguir em frente.
Talvez você não tenha entendido porque eu disse que saber que a morte dói foi uma boa coisa. É por eu ter descoberto isso antes que minha segunda morte foi mais rápida e mais fácil. Não posso, no entanto, dar todos os créditos para uma experiência tão distante da segunda. Parte do motivo foi a eficiência de Snape, quem matou essa Lily. O outro, foi ela. Essa Lily era a última parte da primeira Lily e Severo, Sev, era o último resquício da eu que eu deixei morrer. Eu fui forte porque queria ser Essa Lily, eu não queria morrer. Não de novo. Segurei essa Lily Evans com tudo o que eu tinha, independente do quanto ela queria ir.
Apesar da minha relutância, eu precisei deixá-la. Foi uma boa decisão, ótima até. Eu não mudaria por nada. Talvez, e acredito muito nisso, tenha sido aqui que eu percebi que a morte não é o fim.
A TERCEIRA VEZ QUE EU MORRI foi depois da minha graduação em Hogwarts. Muito aconteceu nos anos que procederam os NOMs de Hogwarts. Eu já não era mais uma estudante, mas parte da Ordem da Fênix e minha vida estava longe de ser ideal ou o que eu tinha sonhado para o meu futuro. Crianças são ingênuas e a guerra não é lugar para elas. Eu já tinha enterrado alguns desses sonhos, mas não o de que nossa luta acabaria. Eu nunca desisti do final feliz.
Honestamente, eu precisava da esperança de dias melhores para viver. Nada disso impediu minha terceira morte, infelizmente. Tínhamos deixado Hogwarts há talvez dois anos, talvez menos, quando eu descobri que estava grávida. Não me entenda mal, mas não foram boas notícias. Saber da minha gravidez não matou James, mas me matou. Eu queria fugir, abandonar todos, meus sonhos, valores, tudo.
Eu nunca quis morrer. Eu entrei para a Ordem porque acreditava no que fazíamos. Eu esperava que conseguíssemos mudar o curso da guerra, melhorar o futuro. Não pela violência, pelo poder. E tampouco me faltava coragem, mas eu nunca quis ser auror ou quebradora de maldição. Eu aceitei a luta porque era algo que alguém precisava fazer.
Eu também não tinha sequer cogitado a ideia de ser mãe, James e eu nunca tínhamos conversado seriamente sobre isso. Não era o momento. Existe uma diferença entre sobreviver e ter que sobreviver. Por um futuro que eu não tinha escolhido.
Foi um pesadelo. A Lily que eu era não sobreviveu, então precisei mudar. Algo em mim realmente morreu, embora eu realmente não consiga dizer o quê. Levou muito tempo até que eu estivesse melhor sobre a ideia de ser mãe, mas eu amei meu filho.
A QUARTA VEZ QUE EU MORRI... Foi uma morte diferente. Uma que eu jamais mencionaria em ocasiões normais, dado sua insignificância. Um ano depois que Harry nasceu, já em 1981, e o verão tinha passado, meus pesadelos começaram a se tornar reais. Pensando agora, talvez fossem sinais, avisos de alguma coisa ou alguém que sabia melhor e queria mudar o futuro. Talvez, se destino existe e o universo tem senso de humor, fossem uma piada. Ou então eram apenas coincidências, que, por acaso, marcariam minha história para sempre.
Tudo começara no Natal. O de 1980 foi meu último. Eu acordei 3 vezes na madrugada por 7 dias, perseguida por meus pesadelos. Vi inúmeros amigos e rostos de conhecidos morreram, ora queimados, ora enfeitiçados. Ás vezes só via os corpos ensaguentados, olhos vidrados com algo que eu sofria querendo jamais conhecer. Com um filho de apenas meses de vida, escondida e isolada em Godric's Hollow com meu marido como companhia, não era nenhum mistério o porquê de eu estar tão estressada. Eu poderia dizer que melhorou e seria verdade, mas não por muito tempo. Piorou também em alguns momentos, como em março, abril e agosto de 81.
Uma semana antes da minha quinta morte, tive um desses pesadelos. Um que me deixou fria e febril, doente depois de experienciar mais horrores em uma noite que em toda minha vida. Em meus sonhos, A Morte achava eu e minha família. Primeiro Petúnia, seu marido e menininho que era seu filho, vestidos com as roupas que usavam no cartão de Natal que recebi. Eles tinham sido encontrados porque estavam me procurando. Era minha culpa, mas não acabava aí.
Petúnia sabia onde eu estava e contava, tentando proteger o filho, implorando pela vida dele. Mesmo assim, todos eles morriam. Nós éramos os próximos. James pedia que eu tentasse fugir e corria para o primeiro andar, onde um comensal mascarado o esperava. Ele não estava com uma varinha. Eu corria para ajudar e não conseguia fazer nada além de assistir enquanto seu corpo queimava. Nada acontecia comigo então. O sonho pulava para outro momento, comigo no chão e Voldemort com meu bebê em suas mãos. Eu estava machucada, sem forças para me mover. Ouvi cada soluço, grito e choro saindo de Harry enquanto a Maldição Cruciatus preenchia o ar. No final, ele jogava o corpo de Harry na minha direção e eu simplesmente... morria.
Acordei com o choro de Harry e, quando fui ao quarto do bebê, um James calmo o embalava. Não sei como parei de tremer depois do pesadelo, mas, em algum momento e no abraço de James, voltei a dormir.
A QUINTA VEZ QUE MORRI foi a última. E, por não ser um pesadelo, foi a pior de todas. Nada naquele dia poderia ter me dito que eu iria morrer. Eu estava chateada por estar passando outra comemoração presa em casa e James também. Não recebíamos notícias de Peter, Sirius ou Remus - ainda que este último fosse suspeito para Sirius, eu não achava justo desconsiderá-lo - há um mês e da Sra. Bagshot há quase uma semana. Não era nada incomum, mas, na falta do que com o que pensar e fazer, isso estava nos deixando inquietos.
Infelizmente para nós, sair escondido também estava fora de cogitação, agora que Dumbledore tinha posse da Capa da Invisibilidade de James. Passei o dia tentando me distrair com alguns doces e praticando duelos com James, o que deixou um adorável Harry impressionado. Ele tinha muito mais contato com magia do que um bebê bruxo normal, acredito, já que não fazíamos muita coisa sem girar a varinha. Depois de deixá-lo confortável no berço, deveríamos ter tomado um banho e ido descansar.
Minha quinta morte, a última, foi a pior.
Nada no mundo poderia me fazer esquecer o sentimento de pânico que eu senti quando ele chegou. Voldemort não fez questão de esconder que estava ali. Meu pesadelo começou a tocar e nunca parou. James desceu as escadas correndo, eu ainda tinha Harry nos braços. Quase paralisei ali quando o escutei cair.
Não doeu. Não doeu morrer. Eu morreria de novo se pudesse ter impedido James. Eu morreria todas as vezes para salvar Harry, meu bebê. Nada teria sido o mesmo se eu pudesse mudar. O que doeu foi não poder ter feito mais nada, mas tempo nunca existiu. Sempre foi uma ilusão.
