a big infection

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Via os dias passando por diante dos meus olhos, a única coisa que conseguia fazer era comer o que traziam e tomar banho, ficar deitada esperando qualquer sinal, um simples sinal de que eu ainda estava viva, esperando qualquer coisa que me fizesse sentir meu corpo funcionar. Com muita dificuldade, pois meu corpo estava recuando, fraco, indisposto e exaurido. Não tinha noção do tempo, mas agradecia por Brandon não voltar para terminar o que começou. A dor da perda de Thomas, aumentava a cada segundo, me sentia culpada por não lutar, por não ter acabado com Brandon da primeira vez, meu subconsciente trapaceiro, me presenteou com momentos ilusórios do nascimento de Thomas, de como ele seria... O imaginei com fios loiros escuros como o pai, mas com meus olhos azuis. Pequeno, frágil, com a pele macia e quente. Nosso primeiro abraço, queria descobrir o mundo através de suas minúsculas mãos, me ensinando uma nova forma de viver onde me completaria, que seria o melhor amigo de Aspen e meu protetor, que iriamos enfrentar qualquer coisa para protegê-lo. Mas, um momento que me forçava a criar, era eu e meu menino, juntos, finalmente, pele a pele, seus minúsculos dedinhos agarrando meu dedo, como uma forma de me desejar, desejar meu abraço quentinho e beijos completos de ternura. Ele seria perfeito, a soma de todos os meus sonhos e almejos.

Eu não estou conseguindo passar por isso. Quero ser útil, consertar o que foi quebrado, resgatar o que de minhas entranhas foi arrancado tão dolorosamente. Desfazer o que foi feito por minhas péssimas escolhas. Me desprender das correntes que me arrastam e me prendem no fundo deste poço maldito que me engole tragicamente. Quero gritar para que alguém me ouça, quero gritar para que eu acorde desta realidade.

Talvez devesse ter ouvido Jane quando me alertou sobre misturar vingança com corpo e alma, ter me afastado e voltado para minha medíocre vida com Lucke em Monte Carlo. Ter me casado, ter filhos que não tivessem uma vida arriscada e esperar com que o curso se cumprisse. Fui descuidada, errei, me atrapalhei em um alguém que me mudou... Todas as minhas cicatrizes foram reabertas e agora são feridas novamente. Será que ele realmente me entregou? Cai por traição? E mais confianças quebradas e corações partidos.... Incluindo o meu. É, agora eu sei... Como é.

Eu sinto mãe, o que você sentiu todas as vezes que Joe veio e se foi, quando se encontrou perdida o esperando para lhe resgatar. Podíamos ser felizes mas, espero que esteja bem escondida agora... Pois, somos caçadas novamente.. E é melhor que eu esteja aqui, do que você ser maltrada novamente.

Talvez seja esse o decreto dos Greyk's, serem traídos e deixados para morrer, serem caçados pela solidão e infelicidade, até que não sobre nada. E se esse for meu destino, dele eu me deleitarei diante da dor e sofrimento de uma mãe que perde seu filho, uma dor irrevogável, uma ferida que não vai de fechar com o passar do tempo, algo insubstituível.

Aspen Harrison, me ama, ele não me entregaria, ele não me entregou... Eu-e-eu conheço ele... Eu... Eu sei que conheço, eu.... Conheci... Seu coração, eu conheço seu coração. Ele não faria isso, ele não.... Ele não me machucaria desta forma.... Não, eu sei que não. Acho, acho que escolhi alguém que quebraria meu coração... Mas, não assim, não, assim não. E se a culpa foi minha? E se, eu tiver feito minha própria berlinda, o forçando a me entregar... Então, eu me entreguei, ele não faria isso, não! Eu sei que não, eu sei.

Mas, hoje, foi diferente, acordei vomitando muito, sentindo uma cólica terrível que fazia jus ao abundante sangramento que estava tendo, suando frio, tremendo com calafrios, com dificuldades para levantar. Sentia meu corpo fervendo por dentro mas, o frio era absurdo externamente. Ouvi alguém entrando no quarto, estava com tanta dor que não ousei me virar:

- Eu estou tão envergonhado... Mia. - Era Brandon, todo meu corpo estremeceu ao sentir sua presença. - Ohh, meu deus.. Que sangue é esse? - Ele corre para meu lado da cama. - Você está tremendo muito, Mia, está suando demais... - Ele parecia preocupado.

- Me deixe... Aqui.... Para morrer. - Digo pausadamente.

- De jeito nenhum, não... - Ele me descobre fazendo com que eu trema mais, me encolho na cama gemendo com a terrível cólica que não passava de forma alguma. O mesmo me segura em seus braços, saindo correndo daquele quarto.

- Me solte, Brandon. - Pedi, o mesmo parecia desesperado correndo por um corredor longo. Logo, desce as escadas com atenção, me segurando firmemente.

- Chame a enfermeira, chame a ambulância, façam alguma coisa. - Ele gritou apavorado. Me concentrei totalmente em minhas imaginações, só queria encontrar meu filho, de um jeito ou de outro... E eu iria. Fecho os olhos, sentindo um imenso sono, minha vista fica turva e.... Escuro.

...

- Restos placentários, útero perfurado, uma infecção avançando a peritonite. E três costelas fraturadas. - Ouço uma voz ao fundo. - Um aborto mal feito e uma surra? Você quase a matou, Brandon. - A voz vai ficando mais agressiva e mais alta, quando vou retomando a consciência. Abro os olhos lentamente, sentindo-me mais leve, sem dores, apenas pequenos desconfortos.

- Eu não ia matar ela, Shelly. - Brandon diz, sim, ela estava lá, depois de muito tempo. - Não fale comigo desta forma, posso arrumar tudo com sua querida. Então, cuide direito dela. - Vejo ele sair da sala batendo a porta, a mesma parece chorar muito com a mão no rosto, seus soluços surgiram com as lágrimas que não cessavam.

- Eu sinto muito, bebê Thomas. - Ela diz, me emocionando, Shelly foi essencial no começo da minha gravidez, onde estava perdida e desejando que nada fosse verdade.

- Você não teve culpa, Shelly. - Digo, a fazendo se assustar olhando para mim, enxugando seu choro rapidamente.

- Oi, Mia. - Ela sorri de lado. - Me desculpe, eu...

- O que faz com ele? - Pergunto sem rédias.

- Eu estou na mão dele e da Bárbara... Jessy não fez coisas muito certas para ajudar sua mãe, infligiu sua posição e seu distintivo. E qualquer passo em falso, ela pode ir para a prisão. - Ela volta a se emocionar. - Enquanto, ela trabalha com a segurança de Bárbara, eu fiquei encarregada da saúde dos seguranças e emergências de Brandon.

- Ohh... Eu queria poder dizer que sinto muito, mas não sinto. - Digo dando de ombros. - Eu vou ficar bem?

- Ah... - Ela suspirou sem graça. - Esperamos que essa infecção passe logo, que possamos restaurar o útero perfurado e as costelas fraturadas.

- Útero perfurado? - Perguntei em choque.

- Sim, é um caso muito perigoso para se ter junto com uma peritonite. Podemos perder você. - Ela diz. - Não vou deixar isso acontecer, não vou!

- Morrer não seria uma péssima alternativa, agora. - Dou de ombros.

- Não, não... - Ela nega. - Eu não vou permitir que isso acabe assim... - Agora, eu nego com a cabeça.

- Não é você quem decide, sou eu... Eu quem decido se mereço estar aqui, se desejo continuar. - Afirmo com raiva. - Como tem essa coragem de me abandonar, sumir e agora querer decidir isso?

- Eu não vou deixar você morrer em minhas mãos, se quiser... Que seja em outro lugar mas, eu não vou permitir que morra em minha responsabilidade. - Ela pareceu determinada em meio as lágrimas. - Eu posso perder a Jessy, já perdemos o Thomas, eu não vou perder você, Mia. Não vou. - Encosto a cabeca na maca, negando.

Apesar da dor, não é o peso dela que nos afunda mas, sim... A forma como lidamos com ela.

Espírito de RetaliaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora