A mata escura, com grandes e densas árvores das mais diversas espécies, não há pássaros nem animais, o silêncio seria absoluto se não fosse o som de meus pés já em carne viva tocando rapidamente o chão, e minha respiração ofegante. Quando meu corpo dolorido toca em algum galho ou espinho pode então se ouvir o eco de meus gritos desesperados.
O suor misturado com sangue e lágrimas evitam que minha boca seque.
Não quero olhar para trás, tenho medo de ver seu rosto perto de mim, tento sentir algum sinal de sua presença, preciso saber se está perto de mim ou longe, mas não ouço seus passos e nenhum outro som, talvez ele se mova pelo ar, mas se é assim, como ainda não me alcançou? Mas eu sei, a criatura está atrás de mim, não posso parar, tenho que correr cada vez mais, até encontrar algum lugar seguro.
Meu braço ou o que restou dele, vai deixando marca de sangue pela mata, isso será uma pista para me encontrarem, ou encontrarem meu corpo.
A criatura me quer morta, eu sei disso.
Quando estou prestes a desistir e meus passos vão diminuindo o ritmo, quando quase me viro para encará-lo, uma caverna então surge a poucos passos de onde estou, poderá ser minha salvação, ou o meu fim, mas preciso tentar.
Misteriosamente, assim que coloco meus pés dentro dela e olho para trás, não há mais a porta de entrada, estou trancada aqui, felizmente sozinha, consegui uma pequena vitória, deixar aquela coisa ou pessoa do lado de fora.
Sentada no chão gelado da caverna, sinto um alívio no cansaço, mas meu corpo todo começa me oferecer uma dor insuportável, olho para meu braço esquerdo, a partir do cotovelo há apenas pedaços de carne caídos e o osso exposto, fecho os olhos tentando lembrar como isso aconteceu, mas minha mente esta vaga, nem ao menos sei quem eu sou, não lembro meu nome, nem minhas características. Passo minha mão teoricamente saudável pelo meu rosto, e percebo que está encoberto de lama e sangue, meu cabelo esta totalmente emaranhado, a terra seca nele me faz perceber que minha permanência nesta floresta não é algo tão recente assim. Encosto minha cabeça na parede gelada da caverna tentando esquecer tudo e relaxar por alguns momentos.
Minha paz dura pouco, começo a ouvir o barulho de algum objeto de metal passando pelas pedras do lado de fora da caverna. A julgar pelo barulho imagino que seja uma faca ou qualquer outro objeto pontiagudo.
Se for, então há grande chance daquilo que me persegue ser um humano, e não algo sobrenatural.
Minha teoria é dissipada assim que começo ouvir o som de milhares de pessoas gemendo e gritando de forma desesperadora, vozes com vários sons, homens, mulheres, crianças, todos gemendo forte, gritos de socorro parecem ecoar pela mata toda, me encolho ainda mais, sentindo o xixi quente escorrer por entre minhas pernas, molhando minha camisola surrupiada, que deixa minhas pernas magras quase que totalmente a mostra.
Alguns minutos e o som de gritos de humanos cessam, e então começam latidos caninos e o uivar de lobos seguido de choro de crianças, aquilo é um pouco menos desesperador, mas os latidos são extremamente irritantes e o choro de crianças angustiante demais.
Levo minha mão até um dos ouvidos e a outro pressiono sobre a parede na tentativa de amenizar os sons, é inútil, eles só pioram, agora posso ouvi-los todos de uma vez, choros, gritos, latidos, uivos e a faca passando pela parede.
A caverna é úmida, sem ventilação alguma e totalmente escura.
O cansaço é tão grande, que por segundos consigo cochilar, mesmo com os sons malditos que agora não me causam mais medo, já se tornaram algo natural aos meus ouvidos. Sou acordada pelo cheiro horrível que vem até minhas narinas, cheiro de carne podre, isso me assusta, mas também desperta minha curiosidade.
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MENTE EM FUGA
Short StoryDe quem você esta fugindo? Quem, ou o que te quer morta? Corra, não pare, mesmo que seus pés sangrem, mesmo que que não haja mais forças, fuja. Só cuidado, as vezes tentamos fugir do que está dentro de nós.