Capítulo 1

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Após receber a notícia decidi voltar para casa.  Como o IMPA fica no Rio e eu era do interior de SP, ainda não estou acostumada a viver aqui e  o estado do RJ não mudou muita coisa de dez anos atrás quando estava sob comando militar, não me sinto confortável na cidade grande, sim eu sou um bicho do mato. Eu preciso pegar um uber para chegar em casa, que na verdade é um apartamento.

Não, eu ainda não visitei a praia, minha vida é resumida ir do instituto para o apê e do apê para o instituto. Essa é a vida de uma matemática  e eu também não gosto muito de calor. Aqui eu não tenho nenhum amigo, então mais um motivo para não sair, não sou do tipo que se socializa fácil. Sim eu tenho um amigo virtual, mas é algo meio distante, não posso dizer que é uma grande amizade, na verdade eu não sei, ele mal tem falado comigo.

O evento da Fields ocorre em julho deste ano tenho dois meses para organizar tudo, comprar passagens, hotel e ver estadia. Claramente isso vai acontecer de forma rápida,  seu eu não me enrolar. Provavelmente farei isso hoje.

Meu professor disse que eu poderia levar um acompanhante comigo, só quem que levaria? Meus pais já estão em uma idade mais avançada, meus irmãos trabalhando e minhas amigas ocupadas, o jeito é ir sozinha. Pelo menos lá o Jung Yong posso pedir para ele ser meu guia turístico. Não posso esquecer de avisá-lo.

Depois de comprar as passagens resolvo tomar um banho e lavar meu cabelo, as madeixas cacheadas estão uma bagunça e esse calor do rio não ajuda, talvez eu precise comer também já são quase uma três horas e eu ainda não almocei, alguém estava tão empolgada de comprar as passagens que acabou se esquecendo.

Ótimo, só tem miojo no armário, quando foi a última vez que fiz compras? Essa pesquisa vem consumindo a minha vida, se bem que escrever um livro de matemática para o ensino médio também não está ajudando. A eu trabalho em casa mesmo, na maior parte do tempo, as vezes vou no instituto para conversar com meu orientador ou pegar mais livros na biblioteca, mas antes quando não estava aqui eu dava aulas.

O jeito é ir ao mercado reabastecer o estoque de comida de gente normal.

Eu deveria ter um carro, mas tive que vende-lo após me mudar para ajudar a pagar o apartamento, na maior parte do tempo ando de Uber ou ônibus, porem como o supermercado é perto do apartamento dá para ir a pé.

 Entro no no estabelecimento e já pego um carrinho grande, essas compras tem que durar uns dois meses. Não tomo café da manhã, só almoço e janto, as vezes um dos dois. Eu sei, não é saudável, mas em alguns momentos não da tempo. Arroz, feijão e coisas básicas, confesso que eu sou uma pessoa que come bastante besteira, mas como vou viajar o jeito é economizar para poder gastar lá.

Ando pelos corredores meu desnorteada, o carrinho já esta quase cheio, tenho certeza que isso vai sair uma fortuna. Chego perto do caixa 5, porque um tão específico? Porque nele tem um cara muito gentil  e podemos dizer, agradável aos olhos.

- Boa tarde Tessa, CPF na nota? - ele me olha com os olhos caramelos e o dente brancos a mostra, retribuo o sorriso.

- Boa tarde, não precisa Júlio.

- Vejo que alguém anda meio ocupada, como você está ? - levanto a minha sobrancelha, parece que alguém reparou em mim.

- Bem, muito bem alias, não é todo dia que se é indicada como uma das melhores matemáticas.- digo fingindo me gabar.

- KKK humilde eu diria, meus parabéns! Era de se esperar algo do tipo de você. - ele nem me conhece ao certo, mas tudo bem.

-Obrigada, bom vou indo tenho que terminar algumas coisas, até mais.

Ele fica meio sem graça, acho que queria conversar mais , eu disse não sei me relacionar com as pessoas, mas acena novamente e sorri.

Alias, enquanto caminho para casa carregada de coisas, percebo que devia ter voltado de uber, tá meio complicado carregar todas essas coisas, porque que eu comprei tudo isso mesmo? Eu nem preciso de comida, sente a ironia.

Depois de me rastejar lentamente até em casa, ligo para meus pais e dou-lhes as boas noticias, minha mãe chorou óbvio e disse que iria contar a todos da família, isso significava que meus irmãos, tios e tias ficariam sabendo, bom pelo menos eu não iria precisar contar para eles, não que eu fosse.

Ah, Jung Yong me ligou imediatamente para me dar parabéns depois de eu te mandar uma mensagem, nem sei que horas eram na Coreia pra ele me ligar. Perguntou quando eu iria e quantos dias ficaria, disse que estava muito ansioso para me conhecer pessoalmente e queria me contar algo quando eu estivesse lá. 

Essa parte final me deixou curiosa, mas relevei, não deve ser nada demais e  foi estranho ouvir  a voz dele carregada de sotaque depois de alguns meses. Jung é um ano mais velho do  que eu, por isso ele me faz o chamar de oppa, que segundo ele é como se fosse um irmão mais velho por mim. Bem, na época que tive uma queda por ele anos atrás isso foi um choque, mas como eu sabia que um relacionamento a essa distancia não daria certo comigo, não que algum dê, eu não  o questionei. 





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