Capítulo único

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"Eu sinto muito. Sinto muito por não salvá-los."

Estar aqui era um tanto... Perturbador. As paredes frias de pedra pareciam se encolher a minha volta, lentamente me levando ao abraço gélido da morte. Depois daquele "acidente" as sombras tomaram esse lugar, já não era mais um lugar que me trazia a esperança de um futuro melhor, um futuro onde eu teria muitas riquezas e dias melhores a minha espera.

Ah, eu era tão rebelde... Deveria ter ouvido os conselhos do velho Benny, mas preferi correr atrás das ilusões de um futuro perfeito. Tudo que queria era fugir da miséria e levar a memória do meu pai comigo. Aquela memória gentil e confortável onde ele bagunçada meu cabelo, sorrindo de orelha a orelha enquanto me contava sobre seu trabalho nas minas, e dizendo com orgulho que um dia eu estaria em seu lugar.

Os sons ao meu fundo ficavam mais distantes a medida que descia, seguindo os trilhos que me levavam a um lugar sem saída. Era o fim da linha. Era o meu fim bem ali, junto com os corpos que eu mesmo enterrei em pedras. Afinal, tudo sempre volta para seu lugar de origem.

Olhei para a parede de pedra, sentando encostado na mesma, bem ao lado do corpo de meus ex-companheiros. Eu tossia, sangrando pelo corte na lateral do estômago e pela boca, abrindo espaço para o sangue que corria como uma enchente. Mas como eu não o sentia? Como não podia sentir o que me matava lentamente?

Fechei os olhos, lembrando-me de como fiquei depois que meus sentimentos morreram, depois que eles me deixaram, ficando apenas com a inundação que destruiu minha casa.

Foi uma inundação que destruiu essa casa.

E você causou isso.

Você, Norton. Você causou isso.

"Não... Por favor... Parem... P-Por favor! Não me chamem mais, me deixem morrer!" - Eu gritava mentalmente na tentativa de acalmar as vozes que me chamavam, mas a cada grito interno desesperado elas ficavam mais altas. Mais altas... Mais familiares...

─ Norton! - Andrew esbravejou, me tirando daquela espiral que apenas me levava mais para baixo. O olhei com uma feição inexpressiva, sempre havia sido assim, mas não consegui conter um sorriso cansada quando ele se jogou de joelhos ao meu lado, tocando meu rosto com as mãos enluvadas e uma expressão de preocupação.

Aquilo era real? Andrew realmente veio me salvar ao invés de fugir pelo portão? Oh... Eu não era merecedor de um anjo como ele.

─ Hey, Andrew... - Falei conforme fechava meus olhos, soltando um suspiro cansado para logo depois engasgar em um tosse seca, agora nos braços daquele anjo tão belo. Ele me segurou como se eu fosse tudo, e eu queria ser. - Eu queria ser tudo pra você...

Quando me dei conta, já havia escapado.

─ O quê...? - Sua voz quebrada ecoou nos meus ouvidos, sumindo lentamente. - Norton, abra os olhos! V-Você não pode dormir agora! Por favor, não é hora ainda...

Eu podia ouvi-lo orar enquanto me abraçava, suas lágrimas molhando a curva de meu pescoço até eu tocar seus cabelos. Deus, aquela seria mesmo a última vez que iria tocá-lo?
E então ele se afastou apra me olhar, lábios trêmulos e lágrimas escorrendo por seu rosto.

E só então eu me permiti chorar como ele.

─ Bem, eu já perdi tudo, sou apenas uma silhueta. Um rosto inexpressivo que você vai esquecer.

Sequer tive tempo para prosseguir, logo Andrew me rebateu:

─ N-Norton, não! Eu não vou me esquecer de você... Oh Deus, eu não vou esquecer...

Ele continuava a negar, me dizendo como seria nossa vida depois de eu me recuperar. Uma vida onde ele e eu viveríamos juntos, longe daquela mansão maldita, apenas eu e ele seguindo nossas vidas e sendo felizes juntos. Com certeza ele havia se empolgado com os contos de "felizes para sempre", pois eu infelizmente não via um final feliz ali.

Ele se calou, então, quando meus lábios tocaram os deles por longos segundos.

─ Você sabia que sou sortudo? - Ele não pareceu entender, mas suas lágrimas pararam, e ele me olhou com curiosidade. - Uma vez, meu pai me disse que quem estava apaixonado era muito sortudo, pois a maioria dos homens estavam amargurados demais para amar. E eu, Andrew Kreiss, tive muita sorte por amar você e ser amado de volta.

Meu sorriso não se fechou em nenhum momento, pois depois de todos os sorrisos falsos que já dei, aquele era o único verdadeiro.

─ Eu te amo! Andrew, eu amo você! - Gritei com todo o ar dos meus pulmões, desabando em lágrimas de alegria juntamente com o meu namorado. É, meu namorado... Ele sempre seria meu eterno namorado. - Você é maravilhoso...

Mas eu sempre irei sentir falta dele.

E você causou isso.

─ Youth; Identity VOnde histórias criam vida. Descubra agora