Daniel tem cheiro de detergente e sabão em suas roupas quando ele senta perto de mim no sofá. É um cheiro agradável, mesmo que ele esteja sentado muito perto. Ele sempre faz as coisas 'muito' quando se trata de mim. Eu me acostumei com isso.
Eu estava debruçada sobre uma revista de moda, circulando um vestido bonito com uma caneta de brilho rosa, enquanto o barulho de um filme qualquer enchia a sala, e eu não estava preparada para o que ele disse.
"Eu te amo, Ma."
Eu congelo, como se houvessem pedaços de gelo trancando minha garganta. Ele não deveria estar dizendo aquilo. Durante tanto tempo, eu olho para ele e vejo a coragem e a bravura em seus olhos, e isso sempre me surpreendeu. Ele nunca afirmou nada com todas as sílabas, ele sempre tentou me fazer perceber as coisas com gestos, mas eu sempre ignorei os sinais. Pelo bem da nossa amizade.
Meu rosto começa a queimar e eu agarro as bordas do sofá como se estivesse caindo. "Daniel..." Seu nome sai em um tom abafado de desespero. Eu me levanto e me afasto do sofá com as mãos para cima como se tentasse evitar algum tipo de ataque.
Ele não se mexeu ainda, está apenas olhando para o chão. "É verdade." As palavras parecem me atravessar como punhais. Ele olha para cima e seus olhos são, ao meu ver, vazios de emoção, mas cheios de dor. Eu fiz isso com ele. "Eu te amo."
Eu balanço a cabeça, porque mesmo que eu já soubesse que Daniel é apaixonado por mim (não é como se ele tivesse tentado esconder), nada me impediu de fingir que não sabia. Mas agora era algo dito em voz alta. Agora era real. E eu não posso mais fugir. Sempre pensei que ele fosse encontrar alguém que o amasse também antes que esse dia chegasse e que tudo ficaria bem, mas não ficou.
Balanço minha cabeça novamente e olho pra ele. Ele está me dando tudo dele e eu estou quebrando seu coração ao apontar para a porta. "Por favor, vai embora." Eu quero que ele saia daqui, eu quero ficar sozinha. Eu não quero Daniel, e eu não quero que Daniel me queira, porque isso só fica mais difícil.
Eu olho para ele, mas Daniel ainda não se mexeu. "Por que?" Sua voz falha e seus olhos parecem tão úmidos que quase encobrem o verde bonito que eu vejo todos os dias.
Eu não sei o que dizer. Eu não sei porquê quero que ele vá. Não posso lhe dar nenhuma explicação. Eu estou machucando ele. O silêncio se torna longo e pesado e eu olho para longe novamente. "Eu não posso fazer isso, Daniel."
"Por que não?" Ele se levanta e fica na minha frente. Ele ficou tão alto. Suas mãos estão ao seu lado como se ele não tivesse mais forças. "Por que não?" Ele repete quando eu não respondo. Eu não posso responder.
Balanço a cabeça mais uma vez. "Eu não sei, Daniel, eu não sei. Você sabe que eu me importo com você..."
"Não, eu não sei!" A explosão repentina me fez saltar. Eu nunca ouvi Daniel gritar antes. Mas sua expressão não parece com raiva, apenas machucado, e seus ombros caem em derrota. "Eu sou paciente, eu sou bom, eu te trato com respeito, eu tenho sido seu melhor amigo a anos. Apenas me diga, Marcela, o que eu fiz ou o que eu não fiz..."
"Eu não sei! Eu não sei!" Agarro meus cabelos enquanto evito olhar para ele. Ele está machucado e a culpa é minha.
"O que eu estou fazendo de errado?" Sua voz se torna um oco de emoções. "Eu não sei o quanto você se importa porque você nunca me diz. Jesus. Marcela, eu te amo mais do que qualquer coisa, eu nunca quis alguém tanto quanto eu te quero, eu não entendo porque você não retribui esses sentimentos."