SABEDORIA, GENTILEZA E JUSTIÇA

56 8 6
                                    


23 de Agosto, 1975.

Riverson, Condado de Cumbria, Inglaterra.

Thomas Waters segurava a filha no colo, cantarolando uma música que tocava o tempo todo nas rádios não-magicas. Ele sorria enquanto rodopiava pelo quarto. A neném gargalhava sempre que ele fazia um movimento de ir e voltar de repente, pulando um pouquinho. Desde que a filha nascera, oito meses antes, ele alcançara um novo tipo de felicidade, e ouvir aquela coisinha pequena rir tanto que preenchia toda a casa, lhe aquecia o coração e fazia pensar que não havia como se sentir mais completo que aquilo. Ele era pai de uma garotinha linda e com um temperamento ótimo para um bebê. Olhando para ela, rindo e rindo, Tom não notou que alguns bichinhos de pelúcia pulavam em suas posições. Atrás dele, um ursinho flutuava e a criancinha em seu colo esticava uma das mãozinhas, tentando atrair o bichinho para si, sem sucesso. Thomas pegou o brinquedo de pelúcia no ar e chacoalhou-o, um pouco nervoso, na frente da filha que sorria banguela e maravilhada com o brinquedo. Aquela havia sido a primeira vez que Kate manifestara seus poderes, apenas oito meses depois de nascer.

Agora, ela tinha quinze anos e, algumas vezes, Thomas tinha dificuldade de encontrar aquela garotinha que ele pegara no colo na mulher que ela se tornava a sua frente. Ainda mais naquele momento, treinando duelos com sua mãe, Emma, as duas pulando entre as galinhas da fazenda e gritando feitiços que se saíam em forma de luz conduzidos por suas respectivas varinhas. Kate resistia à avó por mais ou menos quinze minutos. Lee, o cachorro da família, observava a cena da porta do celeiro, deitado com a língua para fora, bem acostumado com a movimentação.

-Depulso!

A mais velha foi atingida e jogada para trás por uma força invisível, atordoando-a por alguns segundos e possibilitando que Kate a desarmasse. Emma soltou um grito de satisfação. Thomas chacoalhava a cabeça e se aproximava da mãe com um cronômetro, escondendo um sorriso. A menina correu até eles que discutiam o treinamento. Emma se virou para ela e estendeu uma garrafa d'água para a neta.

-Bom bloqueio do meu feitiço de corpo preso, sua velocidade já está melhorando bastante, uma semana atrás eu teria pego você, mocinha!

Emma beliscou a bochecha da neta que sorria satisfeita.

-Seria interessante se treinasse feitiços não verbais, filha, seria mais rápida para lançar seus feitiços do que falando, como está acostumada.

A mais jovem assentiu e Emma concordou com o filho, dando dois tapinhas no ombro dele antes de sair pela porta do celeiro em direção à casa.

Aquele tipo de coisa havia se tornado uma rotina, os treinamentos de feitiços e duelos com Emma. A mulher havia sido campeã duelista em Ilvermorny durante dois anos seguidos quando frequentou a escola de magia estado-unidense e era uma ótima tutora para a neta. Ela quem fora responsável por maior parte da educação da menina desde os conhecimentos mais básicos, como leitura e escrita, chegando a técnicas de jardinagem, preparo de poções e prática de feitiços.

Havia aproximadamente um mês que os treinos de Kate se intensificaram. Corridas pelo vale com Lee, lançamento de feitiços e azarações, novas práticas de poções e lições de transfiguração que pudessem ser úteis. Katherine e a avó nunca trabalharam tanto. A mais jovem se frustrava com frequência e Emma se sentia culpada em alguns momentos por pressionar a neta, como com a insistência de que ela praticasse lançar feitiços não verbais -o que seria trabalhado na escola apenas no próximo ano- e sobre a dificuldade da garota em executar um patrono corpóreo.

Rudolf, o avô, nunca estivera tão agitado, andava para cima e para baixo pela casa e passava o tempo todo no escritório da casa da fazenda, tanto que Katie nem mesmo se recordava da última vez que tivera uma conversa real com seu avô, a não ser aquela vez, uma semana atrás, em que ele sugeriu que ela devesse tornar-se uma animaga.

UNDER BLACK WATERSOnde histórias criam vida. Descubra agora