Dolce&Gabbana - oneshot.

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Era esquisita aquela sensação da festa o encurralando e pouco a pouco o preenchendo com aquele gosto da diversão, que todos falavam que sentiam sempre. Era uma coisa nova, as pessoas se debatendo na pista fazendo o que chamavam de dança, enquanto abriam alas nos cantos das paredes para que casais ou desconhecidos se beijassem. Eram visíveis aqueles copos descartáveis, sujos e provavelmente ainda com suas bebidas, quentes e cheias de gás, talvez algum narcótico entorpecente — os jovens de hoje em dia são malucos.

Jaemin apenas observava tudo aquilo, as íris coloridas e bem desenhadas encaravam de vez em quando o pequeno acúmulo humano na sala da casa do amigo, voltando logo em seguida para o copo que segurava uma metade de água, zumbido e chacoalhando com o som esmurrante e ensurdecedor daquelas músicas sujas, repletas e cobertas de malícias. As malícias que os jovens gostavam. Tudo estava repetitivo e era como se estivesse vivendo os mesmos cinco minutos para sempre, desde a entrada naquele lugar até o momento em que se encontra, parado, estático apenas encarando as cores neon que se misturavam abaixo da luz negra suspensa de mal jeito no teto.

Mordeu o interior das bochechas e ouviu o rufar de tecido perto, ali, usando a estática para atiçar os pelos dos braços descobertos juntamente aos da nuca. O cheiro, homônimo a brasas leves e queimadas com a leve mistura de gotas de mel o inundou completamente as narinas. E num virar tranquilo de cabeça os olhos puderam encontrar aquilo que tanto vinha a buscar, por muito, muito tempo, tanto tempo que mal podia se contar nos dedos; o tempo que se repetia e repetia com o medo que voltava a preencher o peito rápido de mais, pare pare, o frio que fazia cócegas delicadas na barriga justo naquela região sensível abaixo do umbigo.

“Hey!” foi a única coisa que ouviu antes do cérebro desligar, a pele delicadamente bronzeada, bem contornada com as marcas das bochechas maciças e os olhos repletos de amarelo incandescente. Os lábios grossos, cheios de vermelho, um vermelho que mal se podia ver misturado nas luzes roxas fracas e mal posicionadas.

“Hey.” respondeu assim que pode, voltando a manter aquilo dentro de si controlado e sob as rédeas.

“Não aja como se não soubesse quem sou.” e com oito palavras sucumbiu ao desespero o entorneando lentamente o puxando para o fundo, o fundo daquela consciência que não queria que existisse. “Eu sei quem você é Jaemin. Eu nunca poderia me esquecer de você..” então o amarelo se iluminou e os lábios bonitos e beijáveis se curvaram numa linha tênue e completa, causando mais um daqueles sorrisos que despedaçavam jaemin por completo.

“Você sabe, não é como se fossemos nos esquecer tão facilmente.” o garoto bonito disse tirando a gravata borboleta já desmanchada, a jogando em algum lugar sobre aquela poltrona de couro rude.

Aquele desejo maçante e carnal que apenas os dois entendiam, apenas os dois sabiam que existia e era possível se ver, na forma que se olhavam, se tocavam, na forma que se falavam. “É o nosso fim.” recitou tranquilo, o pomo de adão subindo a garganta num ato de engolir um punhado de saliva inexiste.

A risada ecoou os tímpanos e mais uma vez, o cheiro das brasas quentes e queimadas mistas ao meu de forma delicada, um cheiro inesquecível, inconfundível. O que queima e ao mesmo tempo cura, como saliva ácida na pele, ou uma mordida na garganta.

“Se esse é o nosso fim, faremos com que seja inesquecível.” o gosto esquisito, os lábios que se tocavam, as roupas que caiam aos poucos e os ruídos que ninguém poderia ouvir. O suor, as peles, os toques, a paixão. um amor ardente e flamejante, como uma vela que nunca se apaga.

A não ser que haja um sopro, um sopro que vive em sincronia com esta vela, o único capaz de apagá-la.

“Eu senti sua falta.” suspirou e se aproximou, podendo ter uma melhor visão daquele tão bonito, tão bem feito pelas mãos dos deuses.

“Muitos anos se passaram. muitos milênios..” sorriu e se tornou mais próximo, de uma forma calculada e perigosa. “Como soube que eu estaria aqui? eu sei o quanto você odeia esse tipo de socialização.” o copo com um líquido rosa foi deixado no balcão, uma pequena cereja caramelada no fundo, adornada por pequenas bolhas de ar.

O líquido balançou um pouco e por pura sorte pode tocar os lábios, que sabia que eram macios e suaves. “Eu sonhei. Sonhei contigo por um longo, longo tempo. Sempre no mesmo lugar, na mesma pose, o mesmo drink, o mesmo bar, a mesma casa.. A mesma data.” as íris inquietas, se mexiam, para lá e pra cá tentando catar pouco a pouco cada um daqueles detalhes que se perdiam com os movimentos e a luz escura.

“O que importa agora, é que eu estou aqui.. E não, não é um sonho.” o copo deixado mais uma vez no balcão meio empoeirado e sujo pelos rastros de outras bebidas, a mão quente e delicada tocando a bochecha fina, a palma convidativa que trazia consigo aquele perfume gostoso Dolce&Gabbana que sempre espirrava por todo o dorso.

“Você ainda cheira a Dolce e Gabbana Jeno.” comentou fechando os olhos sorrindo com o sopro do ar quente contra seu rosto, podendo sentir a pele, perto, perto, perto demais.

O riso grave, mas tão suave e delicado o preencheu o ouvido de forma audível, enquanto as bochechas se roçavam. “Me acostumei muito cedo, a me arrumar para quem eu amo.”

Os corredores largos e bem abertos, pareciam apertados demais naquele ponto. Longos e compridos, como se nunca tivessem um fim, as portas se emaranhadas, dificultando a procura de qualquer uma que não segurasse ruídos atrás de si. O cheiro suave de laranja com algumas batidas de canela exalava de cada um dos poros de jaemin, queimava, ardia, fazia ruborizar em calor e excitação. Assim como jeno, que exalava o próprio odor agindo como um entorpecente para o outro que era meses mais novo.

Finalmente quando se encontram um lugar, a porta é fechada e trancada e assim como da última vez, às roupas despencam em qualquer lugar do chão. As camisas no tapete, calças e cintos batendo no assoalho de madeira fria, um baque meio preocupante enche o ouvido dos dois mas deveria ser apenas o celular de Jeno.

E daquele jeito, meio descontrolado e animalesco, repleto de uma vontade e de um gosto escondidos por mais de milênio os dois se amam de novo como se tudo se repetisse em um filme, meio antigo e borrado com as peles se chocando, o suor grudando e os sorrisos idiotas dados entre gemidos.

O amarelo incandescente e o vermelho âmbar se misturam, como tintas em uma paleta, pintando lentamente uma tela vazia que era apenas uma reprodução daquela que havia sido feita antigamente.

Um novo passo talvez? nunca saberemos. Mas a calmaria que veio depois, com um dardo tranquilizante no peito dos dois garotos era algo maravilhoso. Um pedido silencioso para que aquilo não acabasse ali, mesmo que amanhecesse e um dos dois, tivesse de ir.

“Eu.. Eu posso te marcar?” nublado, condensado, um pensamento denso demais para se atravessar com algo racional.

“Pode.” uma palavra, quatro letras, capazes de definir um destino adiante.

Um rugido baixo, o chiado fraco e as presas finas e brancas que eram visíveis com a luz da lua que espiava o pequeno romance, a linha de sangue, pela cruz de madeira da janela. Os olhares apaixonados e um te amo disfarçado ali no escuro e nos corações que batiam forte, correndo como cavalos de corrida no peito.

“Está pronto para voltar pra casa?” o mais velho perguntou, encarando a sombra alheia erguida contra o único fio de luz presente no quarto, encarando o farfalhar dos cabelos e o tracejado iluminado da pele clara e suada.

“Eu sempre estive pronto.” um movimento e os olhos brilharam mais uma vez, antes do último selar de lábios e um sono profundo.

Nunca saberemos o que irá acontecer depois, mas mesmo assim, torcemos para que venha o melhor. Por que Jaemin, nunca mais vai querer deixar de sentir aquele específico e meticuloso cheirinho de Dolce&Gabbana que apenas Jeno tem.

Dolce&Gabbana. [no.min]Onde histórias criam vida. Descubra agora