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Um silêncio sereno caiu sobre a igreja naquela manhã de domingo. O pastor que lia um versículo da bíblia sobre o amor de Deus, abriu bem os braços enquanto sorria para todos que estavam bebendo cada palavra que saía da boca do homem.

Em vez de prestar atenção ao que o pastor estava dizendo, Jungkook se perdeu em seu próprio mundo. Seu olhar estava fixo no vitral atrás do pódio em que o pastor estava levantando as duas mãos, como se estivesse falando com o próprio todo-poderoso.

Os raios do sol estavam brilhando por trás dos vitrais, fazendo raios de luz colorida rastejarem para dentro da igreja e Jungkook se perguntou como seria se o mundo fosse tão colorido e brilhante, como nos livros de histórias. Seria como olhar através de um caleidoscópio. Imagens e cenários se acumulam na mente do menino e ele não consegue perceber os olhos de ninguém sobre ele, até que Seokjin, que estava sentado ao lado dele na primeira fileira, cutuca-o nas costelas, fazendo o menino pular alto e soltar um gritinho com o susto.

Seokjin pigarreou tentando abafar a risada quando as pontas das orelhas de Jungkook ficaram em um tom profundo de escarlate quando ele se levantou e se arrastou até o pódio, quase tropeçando em suas vestes. Ele corou quando ouviu algumas risadinhas por causa de sua falta de jeito, era algo pelo qual era conhecido de qualquer maneira. De pé no pódio, o garoto engoliu em seco enquanto seus olhos refletiam sobre as pessoas expectantes, mas depois de um tempo, eles falharam em deixá-lo nervoso, não quando ele teve que repetir algo que ele havia estudado inúmeras vezes antes.

Com um suspiro interno, Jungkook começou. As palavras saíram de sua boca, mas sua mente estava ocupada em outro lugar. E pensar que um dia as pessoas vão olhar para ele em busca de conselhos, agora isso o deixou nervoso. Ele seria responsável pela vida e pelo futuro das pessoas. Um erro e tudo desmoronará em escombros. Ele falou monotonamente até chegar ao fim de sua pequena pregação e cambalear para baixo e de volta ao seu assento ao lado de Seokjin, que sorriu brilhantemente para o mais novo.

O pastor estava de volta ao pódio.

- ...A misericórdia de Deus ainda está viva hoje, Deus ainda salva aqueles que confiarão nele. - Disse ele com tanta emoção que Jungkook meio que esperava ver algumas lágrimas caindo.

O senhor Jeon sorriu satisfeito quando a mesa foi limpa dos pratos e utensílios. Ele olhou para sua esposa, que sempre foi obediente a ele, e seu filho, Jungkook, que ele sabia que estava seguindo o caminho certo que havia traçado para ele. O Jeon estava muito contente com sua família perfeita.

- Como estão suas notas filho? - Ele perguntou e Jungkook ergueu os olhos do livro que estava lendo, enrolado no sofá. - Os resultados serão divulgados na segunda-feira. Mas acho que me saí bem. - Ele respondeu suavemente virando a página de seu livro.

O senhor Jeon encarou Jungkook. Essa é a única coisa que não gostava em seu filho. Ele não era muito confiante de si mesmo e temia que isso pudesse se tornar o pior, onde seu filho poderia ser manipulado facilmente. O mais velho fez uma anotação para falar com Jungkook sobre o assunto. Jungkook estava frequentando uma universidade normal porque o senhor Jeon queria que ele aprendesse a tolerar pessoas diferentes, o que ele achava que seria útil mais tarde na vida. Afinal, pessoas são criaturas engraçadas.

O senhor Jeon franziu a testa em distate. - Os novos vizinhos realmente quebram a tranquilidade que temos desfrutado até agora. - Disse ele enquanto puxava as cortinas o suficiente para olhar para seus vizinhos. Uma mulher estava carregando caixas para dentro, gritando com alguém por cima do ombro. - Eu me pergunto que tipo de pessoas eles são. - Disse a senhora Jeon, enquanto se sentava ao lado do marido.

- Não é nosso tipo minha querida, eu vi seu filho. Ele era um menino nojento, com tatuagens e piercings. - Disse o senhor Jeon como se estivesse falando de lixo e não de um humano. - Para piorar, seu cabelo é horrível, loiro, e ele anda naquelas motos barulhentas.

- Ah. Isso parece deprimente. - Sua esposa respondeu. - Mas isso não é o pior. - Disse o senhor Jeon virando-se para sua esposa, que ergueu as sobrancelhas em dúvida. - Ele é um seguidor do diabo. Eu o vi hoje de manhã. - Aqui ele pausou e baixou a voz. - Beijando... um garoto. - Ele terminou balançando a cabeça em desgosto enquanto a senhora Jeon engasgava e Jungkook erguia os olhos de onde estava lendo um livro enrolado no sofá.

- Jungkook, não se associe com aquele garoto. Ele irá contaminar você. Deixe-o sofrer a punição para sua espécie no inferno. - Disse o senhor Jeon. - É claro que você não falaria com ele, já que eu o criei de maneira excelente. - Terminou sorrindo orgulhosamente para o filho enquanto desenrolava um jornal.

Jungkook colocou seu livro no sofá e puxou a cortina para espiar a casa ao lado. A mulher estava repreendendo alguém de novo, mas ele não conseguia realmente ver quem na escuridão, exceto por uma silhueta áspera. Depois de um tempo, ela pisou para dentro e a figura bagunçou o cabelo e se abaixou abrindo uma das caixas. "Este deve ser o filho", pensou Jungkook mordendo seu lábio inferior, apertando os olhos para ver o rosto da figura, mas ele não podia na luz fraca da lua, especialmente porque uma árvore balançava ao vento, seus galhos lançando sombras no rosto do garoto.

O garoto caminhou um pouco em direção à luz e Jungkook viu metade de seu rosto, mas ainda não estava claro. De repente, ele olhou para cima e encontrou os olhos de Jungkook, que piscou perdido porque os olhos do outro estavam brilhando intensamente, e seus olhos se encontraram. Jungkook foi arrancado de seu devaneio quando viu a parte ligeiramente visível dos lábios do garoto se curvar em um sorriso malicioso quando deu a Jungkook um meio aceno.

Jungkook puxou a cortina de volta ao lugar e sentou-se no sofá novamente. - Eu nunca me associaria com um queer como aquele pai. - Ele disse em um tom cheio de desgosto. - O senhor Jeon, que estava observando seu filho, sorriu em aprovação. - Claro que não. - E voltou para seu jornal, discutindo um artigo com sua esposa assim que Jungkook escapuliu para seu próprio quarto.

Uma vez fora de vista, ele mordeu o lábio e colocou a mão no coração que batia rápido. Suas palavras contradiziam suas emoções, que gritavam para ele dar outra olhada no garoto loiro. Abrindo as cortinas, Jungkook fez um beicinho quando viu que os novos vizinhos pareciam ter entrado para dentro.

icarus interlude ✗ vkookOnde histórias criam vida. Descubra agora