Capítulo 04

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Mirella POV

Meu corpo se estremecia a cada segundo pelo frio intenso da tarde que cessava e minha preocupação se faz ausente por um momento qual sei que devo aproveitar. Ficar longe do meu padrasto e da minha mãe por uns dias gera uma sensação de alívio que me preenche, mesmo sabendo que posso apanhar igual a uma condenada quando retornar pra favela. Raissa havia ligado o ar quente dentro do carro e me mantive em silêncio durante um bom tempo processando tudo dentro da minha cabeça com questões que me enchem de incertezas.


- Você bem, Mirella? - A pergunta de Raissa tirou-me do momento de distração e rapidamente elevei minha atenção para a mais velha que dirigia concentrada após ter conversado com alguém no telefone que para falar a verdade eu nem reparei quem era ou deixava de ser.

- Um pouco, mas eu vou melhorar. Só preciso de um tempo pra mim. - Respondi com sinceridade e sem saber exatamente oque pensar até porque não posso depender dos outros pra sempre e eu sei disso.

- Você precisa denunciar o seu padrasto, isso não é saudável e esse homem não pode ficar dando palpite na sua vida, Mirella. - Ouvia tudo em silêncio, brincando com as minhas unhas e suspirando em frustração.

- Eu sei disso, mas é tudo injusto nessa vida e a polícia só defende quem tem dinheiro, Raissa... Eu tô cansada e eu vivo com tanto medo, porquê o Dynho foi para a cadeia por você ter colocado um dedo na situação, e se ele for solto eu nem sei oque vai ser de mim. - Pressionei meus lábios um contra o outro. Sentindo o quão desesperada estou me sentindo por dentro, ferrada e enrolada em uma verdadeira teia de aranha.

- Amiga calma, vai dar tudo certo e você vai sair dessa. Você é forte, guerreira e tem muito pela frente ainda pode ter certeza disso. - Um sorriso fraco se formou em minha expressão e por um segundo me senti mais tranquila.

- As vezes eu só queria ter alguém para estar do meu lado nos momentos bons, nos momentos ruins e que me fizesse sentir segura, que se me levasse para outro país... Eu nem iria reclamar, de verdade. - Dizia de forma espontânea, sem me preocupar com o fato de estar sonhando demais, a final isso não mata ninguém.

- Quem sabe um dia isso não acontece, amiga? A vida tá aí pra isso, pra gente quebrar a cara e aprender com tudo oque acontece. Tem pessoas que saem das nossas vidas pra abrir caminho e tem outras que chegam por algum propósito e reclamar não muda nada. - Assenti com a cabeça em silêncio com as palavras de Raissa e abaixei a cabeça refletindo sobre a conversa que estávamos tendo. - Não existem pessoas boas e pessoas ruins, Mirella, mas tem como nós arrancarmos o pior ou o melhor de alguém.

Raissa soa bem filosófica as vezes e isso é uma das coisas que me fazem ficar tranquila ao lado dela, eu posso não levar tantas coisas a sério, mas eu sei diferenciar tudo em seu determinado momento, oque me tranquiliza. Parar para pensar nisso tudo mexe demais comigo e me faz sentir no mundo da lua, tanto que eu nem reparei quando Raissa entrou com o carro em um condomínio fechado e que me surpreendeu ao ver tantas mansões de luxo dentro do mesmo.

- Caralho, Raissa quanto casão, putz... - Exclamei hipnotizada pela vista, já que de longe estou acostumada com uma visão dessas e me faz até sentir em um filme.

- Quem pode pode, né amiga? Até eu confesso que sinto um pouquinho de inveja. - Raissa brincou soltando uma risada amigável, enquanto continuava a observar.

Estava tão encantada com a visão que pude arquear as sobrancelhas ao reparar quando Raissa estacionou o carro de frente a uma puta mansão enorme que me deixou de queixo caído. Eu vou tirar uns dias de descanso ou de férias? A gente sonha enquanto pode, né?

Cria de Favela (Sterella)Onde histórias criam vida. Descubra agora