CAPITULO 21

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ayla

— Você não pode bater no amiguinho Marcelo. — meu pai tenta pela milionésima vez explicar que as coisas não podem ser resolvidas assim.
— Mas ele disse que eu não podia jogar no time dele. — meu irmãozinho justifica cruzando os braços e preciso me conter para não rir porque é muito bonitinho ver ele bravo.
— Mas não se pode impor a nossa vontade, se ele não queria então você deveria encontrar outra coisa para fazer.
— Eu quero jogar futebol, o Thales disse que eu sou habilidoso, basta treinar.
Sinto meu estomago revirar só de ouvir o nome dele, é ridículo já que passamos a manhã inteira juntos e já nos beijamos vinte e cinco vezes.
Sim, eu ainda estou contando. E descrevendo.
— Treina com seu irmão. — meu pai aponta para Marcos que está concentrado no jogo de luta no vídeo game.
— O Marcos é ruim. — ele choraminga e não consigo mais conter o riso. — Pai a Ayla tá rindo de mim. — ele aponta para mim e meu pai me olha feio.
— Ayla você não tinha uma louça pra lavar? — meu pai ergue a sobrancelha enquanto me levanto.
— Tudo bem, já estou indo.
Vou para a cozinha lavar a louça enquanto meu pai tem uma conversa de homem para homem com os meninos, sua voz é gentil, mesmo quando ele fica nervoso com as justificativas de Marcelo para bater nos meninos. Ele é um bom pai e tem feito um trabalho incrível conosco, me sinto amada e acolhida no nosso lar e isso é muito mais do que Thales tem.
Meu peito dói ao lembrar a forma como ele estremeceu quando apertei seu braço, conforme imaginei, fez um dia ensolarado e Thales sequer ergueu as mangas da sua camiseta, na saída ele já estava suando tanto que seus cabelos estavam úmidos, mesmo assim manteve as mangas no lugar. Como se pudesse esconder a realidade de mim.
Estou perdida em pensamentos quando ouço a campainha tocar, viro para encontrar meu pai me olhando como se já soubesse quem está na porta, ele vai até ela abrindo-a e deixando Thales entrar. Seco minhas mãos e vou até a sala quando ouço a sua voz. Quando ele me vê o sorriso surge em seus lábios e tenho a sensação de que todo mundo sabe que ficamos nos agarrando na viela hoje cedo.
Desvio o olhar e tento me recompor, mas meu coração parece prestes a saltar do peito e Thales parece mais lindo do que nunca, seus cabelos estão molhados e posso sentir o cheiro do seu sabonete. Thales está usando uma bermuda e um moletom e embora esteja escurecendo lá fora, ainda está calor o que me faz pensar no tamanho do machucado que ele tá escondendo.
— Boa noite Thales, obrigado por ter vindo. — meu pai diz de um jeito formal demais e olho para Thales que desvia o olhar como se estivesse escondendo algo de mim, e eu sei que ele está.
— Sem problemas senhor. — meu amigo fala com tranquilidade.
Olho para meu pai e abaixo a cabeça encarando meus pés descalços. Estou nervosa e isso é o suficiente para que eu compreenda que aquela conversa sobre bebês será pior do que eu imaginava.
— Meninos vão para o quarto. — meu pai diz desligando o vídeo game para desespero de Marcos.
— A Ayla e o Thales vão ficar de castigo pai? — Marcelo pergunta com um sorriso triunfante nos lábios.
— Claro que não moleque! — olho feio para ele que me mostra a língua.
— Marcelo já para o quarto! — meu pai exige e os dois saem de cabeça baixa, as vezes eles são tão parecidos que me deixa transtornada.
Meu pai aguarda até que a porta seja fechada e então ele olha para mim e para Thales e por um instante me sinto na sala do diretor da escola.
— Podem se sentar. — meu pai aponta para o sofá e me sento ao lado de Thales que parece tranquilo demais para o meu gosto.
Meu pai se senta na poltrona a nossa frente e apoia os cotovelos nas pernas dando um ar dramático a conversa que nem começou, mas já tenho ideia do que seja.
Ai. Meu. Deus.
— Bom, eu pedi para você vir aqui hoje porque eu me sinto no dever de ter essa conversa com vocês.
— Pai, vê lá o que o senhor vai falar. — choramingo e me inclino para frente imitando sua postura e escondendo o rosto em minhas mãos, sinto Thales se mover até que seu ombro esteja emparelhado ao meu.
— Milton eu quero pedir desculpas por ter saído do quarto da Ayla essa noite da forma como o senhor viu, não foi minha intenção passar a ideia de que estávamos fazendo algo errado além de ouvir sua filha ler para mim, mas eu quero que o senhor saiba que eu jamais a desrespeitaria.
Por favor Ayla não pense no beco... não pense no beco.
— Eu fico feliz em saber garoto, mas eu sei que um dia o seu corpo vai falar mais alto que a sua promessa.
— Pai... — o repreendo enquanto sinto que posso morrer a qualquer instante de vergonha.
— Minhas promessas são tudo o que tenho senhor, eu jamais as desfaço. — Thales mantem a voz firme e me orgulho em saber que ele não se deixa assustar com a cara amarrada do meu pai.
— Eu sei e fico muito feliz em ver o homem que você está se tornando, mas eu sou pai e meu dever é esse, eu preciso falar com vocês para garantir que nada de errado aconteça.
Thales olha para mim por um instante, o queixo apoiado nas mãos, o cheiro de sabonete me acolhendo como um abraço. Sinto um leve toque do seu ombro no meu antes dele sorrir para mim.
— Desde quando você vem se esgueirando pela janela do quarto da minha filha?
— O que? — resmungo.
— Desde quando tínhamos uns... — Thales me olha novamente e percebo que ele não tem a menor intenção de mentir para o meu pai... okay, lá vamos nós. — Acho que nove anos senhor.
— Nove? — meu pai repete chocado encarando-me completamente horrorizado.
— Pai não é nada disso, a gente só ficava lendo.
— Lendo?
— Sim senhor, as vezes conversávamos até adormecer.
— Adormecer?
— Thales você não está ajudando. — o repreendo.
— O que? Não estávamos fazendo nada demais. — ele ergue os ombros indignado e baixo meu rosto nas mãos.
Senhor me leve, agora, por favor!
— Vocês estão dormindo juntos desde os nove anos?
— Pai!
— Não foi isso que eu disse. — Thales se estica ao meu lado parecendo ofendido.
— O que diabos está acontecendo aqui? Você está passando as noites no quarto da minha filha por todos esses anos?
Meu pai se levanta e começo a sentir um nó se formar em minha garganta quando Thales puxa minha mão para segura-la.
— Até meus dez anos eu não conseguia sequer ler uma frase inteira, eu sempre soube que se juntar bo com la se forma bola, mas eu nunca compreendi uma frase inteira, o que dirá um paragrafo, mas eu tinha vergonha de dizer a meus amigos que não sabia o que estava escrito nos gibis, quando Ayla leu para mim pela primeira vez, foi como se o volume das palavras houvesse sido ligado, eu nunca desrespeitei a sua filha, mas  eu gosto de ouvir ela me contar as histórias que eu era incapaz de ler. — Thales respira fundo ao meu lado e meu peito se enche de orgulho de ouvir ele falar de suas dificuldades para meu pai. — Ayla sempre foi a minha voz, na escola, no campo, entre nossos amigos, estar com ela é natural para mim, aos nove anos quando eu pulava a sua janela, eu só queria ouvi-la...
— E agora? — meu pai pergunta com a voz de um general.
Thales olha para mim, seu rosto salpicado de sardas está corado e posso imaginar que ele está se esforçando para parecer calmo, mas posso sentir sua mão gelada suando sobre a minha.
— Agora eu necessito porque sua voz se tornou minha salvação.
— Jesus Cristo! — meu pai se senta no braço da poltrona e esfrega o rosto.
— O senhor não precisa acreditar em mim, mas o senhor precisa acreditar na criação que deu a sua filha, ela jamais fez nada que o envergonhasse e eu jamais trairia a sua confiança. Mas hoje é diferente.
— O que é diferente? — Meu pai encara o garoto ao meu lado e não consigo decifrar a sua expressão, é algo que nunca vi antes e não tenho certeza se gosto dela.
— Eu gosto da sua filha, como nunca gostei de ninguém e eu sei que somos muito novos para esse tipo de coisa, mas eu juro por tudo que é sagrado, que eu nunca a desrespeitei. — Thales olha para mim e quero morrer porque nesse momento eu me apaixono ainda mais por esse garoto lindo e sincero, corajoso que não tem medo de admitir seus sentimentos por mim na presença do meu pai.
Meu pai retira os óculos e esfrega os olhos, como se não fosse capaz de acreditar no que está ouvindo, ele os coloca de volta eu olha para mim como se esperasse que eu diga algo.
— Ele está falando a verdade papai, nunca fizemos nada de errado.
Não pense no beco... não pense no beco.
Meu pai bufa e tenho quase certeza que ele solta um palavrão antes de começar a falar.
— Certo, é o seguinte... — ele coloca as mãos nos quadris e olha para nossas mãos unidas. — A partir de hoje eu quero que você entre e saia dessa casa pela porta da frente rapaz.
— Sim senhor.
— Nada de dormir, nem de porta fechada, nem de beijos e se eu te ver deitado na cama dela, eu... — meu pai não termina sua ameaça, mas não precisa, porque nós dois sabemos que ele não fará nada que nos machuque, ele nos ama e sentimos esse amor.
— Pode ficar tranquilo, prometo me comportar. — falamos juntos, como se tivéssemos ensaiado essas palavras e quando meu pai revira os olhos e solta um “ Pelo amor de Deus” tenho a sensação de que estou vivendo um conto de fadas.

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