Atenção: Esse capítulo contém descrições gráficas de abuso psicológico, físico e sexual. Foi uma das coisas mais dificeis que eu precisei escrever, mas é importante demais para ser ignorado.
Se você não gosta desse tipo de coisa, só pule diretamente para parte do Presente.
Para aqueles que forem ler, eu apenas gostaria de deixar algumas palavras registradas. Eu acredito firmemente que nenhum de nós nasce monstro. Nós nos tornamos monstros por uma série de circunstâncias que a vida nos impõe. Mas você não precisa fazer o que é descrito aqui para ser o pesadelo de alguém. Então lembre-se de ser gentil, misericordioso, compreensivo, respeitoso com o outro. As coisas boas que espalhamos no mundo deixam marcas, mas as ruins também. Então escolha com sabedoria quem você quer ser o que quer deixar aqui.
Boa leitura.____
- 15 ANOS ATRÁS -
"Mamãe, cadê o papai?"
A mulher caminha de um lado por outro nervosamente. Sui expressão é cheia de um desespero contido, uma tentativa fútil de proteger sua filha de uma realidade que se aproxima com a velocidade da luz.
"Ele deve voltar a qualquer momento, querida." Ela diz distraidamente.
"Você já falou isso mais cedo, mamãe. E ontem também." Diz a menininha.
"Eu sei, Ontari. Mas ele vai chegar logo, tá bem? Eu prometo." No instante que as palavras saem da sua boca, a mulher se arrepende delas. Ela não deveria ter prometido isso, ela sabe melhor que isso. Se ele não voltou até agora, então ele está morto. E se ele está morto, então eles sabem sobre ela e vem busca-la. Seu cérebro pouco a pouco começa a aceitar uma realidade que seu coração se recusa a consentir. Elas precisam fugir. Se não forem agora, Nia vai botar as mãos em sua filha. E fazer coisas horríveis com ela.
Então a mulher age. Ela junta o mínimo de coisas possíveis para viagem ignorando por completo as constantes perguntas da filha. "Aonde vamos? Cadê o papai? Mamãe por que você está chorando?" Não há tempo para isso. Ela precisa agir rápido.
Infelizmente ela não é rápida o bastante.
Ela não os escuta chegar e antes que possa dizer qualquer coisa seu corpo inerte já está caído no chão sangrando. Ela gorgoleja em uma tentativa inútil do seu corpo de não se afogar com seu próprio sangue. Ela luta para sobreviver enquanto seu olhar se fixa desesperadamente em sua filha. Ela estende sua mão tentando encostar-se à criança que a encara sem qualquer reação.
Ontari não reage mesmo quando um soldado enfia, sem cerimônia, a ponta da sua espada diretamente na nuca da sua mãe. Quando a ponta da arma atravessa garganta da mulher, atingindo a madeira do chão, o homem gira a lâmina de um lado para o outro se certificando em fazer o maior estrago possível.
Quando o braço de sua mãe cai duro, seus olhos vidrados e desprovidos de qualquer vida ainda a encarando, Ontari permanece onde está. Ela não chora, grita ou chama por sua mãe. Ela não consegue. Tudo que há é dormência.
A menina sai do seu transe apenas quando olhos penetrantes surgem na sua linha de visão. Uma mulher a encara com uma expressão dura e impaciente. Seus cabelos são castanho-claros e ela tem os olhos mais assustadores que a menina já viu. Ela é como uma caçadora, observando sua presa.
A mulher ergue uma faca em direção à garotinha que não recua e apenas permanece ali, de pé, sentindo seu rosto ser cortado pela lâmina afiada.
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GUERRA INTERNA
RomanceGuerra. Conflitos armados são parte da história humana. Eles têm inicio e fim pelos mais diversos motivos, alguns absurdos, outros trágicos. Cada lado têm seus motivos e justificativas, mas depois de 20 anos de um conflito armado extremamente sa...