A lista

573 71 36
                                    


Desisto. É isto.

Eu sou um ômega condenado a nunca ter um alfa.

- AQUELE IMPRESTAVEL VÁ PARA O INFERNO – Grito assim que abro a porta do meu apartamento; preciso descarregar toda a minha frustações românticas com as paredes da sala ou eu vou acabar ficando louco.

- CALA A BOCA CACETE! EU ESTOU ESTUDANDO SEU PIKACHU ARROMBADO – Meu colega de apartamento, mais conhecido como Katsuki Bakugou, o alfa mais gentil da face da terra, recrutou o meu surto com um dos seus surtos de raiva – NINGUEM MANDA SAIR DANDO PARA QUALQUER IMBECIL!

- EU PENSAVA QUE ELE ERA DIFERENTE – Provavelmente os vizinhos vão reclamar mais uma vez sobre os gritos constantes do nosso apartamento, mas eu estou com coração partido e Bakugou não colaborava com sua voz exaltada. Eu não vou sair do sofá confortável, entre as almofadas recém lavadas, para fazer escândalo no quarto do meu companheiro. Meu plano consiste em ficar chorando, levantar para pegar um pote de sorvete na geladeira e imitar qualquer cena de drama dos filmes de romance ao qual Mina me obriga a assistir.

- Sero apostou que você chegaria do seu encontro fajuto antes das três – Quase pulo do sofá como um gatinho assustado quando o meu olfato captou o cheiro apimentado do alfa, acompanhado da voz – agora num tom consideravelmente mais normal - invadindo a sala de estar – São quatro horas – Vi aquele famoso sorrisinho orgulhoso surgir nos lábios avermelhados enquanto observava os ponteiros do relógio próximo a televisão.

Por que a gente possuía um relógio de ponteiro? Katsuki provavelmente é o único ser humano ao qual consegue desvendar os códigos desses pontinhos mudando de lugar toda hora.

- Eu, aqui, sofrendo por macho e vocês, meus amigos, mais que isso, meus brothers, fizeram uma aposta sobre meu encontro fracassado? – Questiono incrédulo – Eu não sou o palhaço, eu sou dono do circo para vocês.

- Primeiro, se você tivesse tirado seu ouvido do cu e me escutado, você não estaria sofrendo por macho – Droga, quando Bakugou começa a pontuar as coisas, é pressagio que eu vou ter que aceitar verdades nuas e duras – Segundo, você não é o dono do circo, porque se você não conseguisse nem administrar sua vida amorosa, imagina um negócio – Aperto a almofada entre os meus braços e fiz a minha melhor cara de cachorrinho abandonado, porém, a única reação ao qual eu consigo do alfa sem coração, foi um crispar de lábios e uma revirada de olhos – E terceiro, a ideia da aposta foi daquela beta louca e eu não tenho culpa se todas as minhas deduções sempre estão certas.

- Se eu tenho amigos assim, imagina meus inimigos – "Um bosta fudido que nem você não tem inimigos", foi a reposta de Katsuki antes de sair da sala e ir em direção da cozinha. Escuto ele abrindo as geladeiras, entretanto, não me importava com nada além de fazer drama por mais um boy.

Já era o meu quinto encontro do ano e o meu quinto relacionamento frustrado. Ashido vivia dizendo para eu não pegar qualquer um se eu estava procurando um relacionamento para casar-se. Kirishima parecia um couch, sempre dizendo para eu me valorizar mais e não cair em qualquer relação toxica. Sero dizia para eu cuidar da minha saúde mental antes de qualquer coisa e Bakugou...

Ele adorava esfregar na minha cara o quão merda eu sou.

- Aqui – Minha linha de raciocínio foi quebrada pela visão de um hambúrguer posto na mesinha do centro – Por que está me olhando com essa cara de pateta? Você vai ficar choramingando a semana inteira, pelo menos com o hambúrguer sua boca fica ocupada e eu não preciso ouvir seus dramas.

Ok, Bakugou sempre me consola com seu jeitinho bruto e sua culinária perfeita.

- Obrigado Kacchan – Observo o tique nervoso na sua sobrancelha começar por causa do apelido "Kacchan", a única coisa que Katuski faz é voltar para o seu quarto murmurando xingamentos. Provavelmente quando meu coração desolado estiver pronto para um próximo round, ele vai me bater por isso.

Sorri com a imagem mental disso acontecendo.

- Kacchan idiota.

#@@#

- Mas que porra é essa!? – Talvez eu não tivesse medo do perigo, porque todo o ser humano ao qual conhecia Katsuki Bakugou, saberia que invadir o quarto dele em qualquer situação, principalmente enquanto ele está estudando para alguma prova importante de medicina, era suicídio. Entretanto, eu tinha acabado de ter uma ótima ideia e eu realmente preciso compartilhar isso com meu companheiro de apartamento.

- Antes de me matar, eu tenho uma coisa para te falar, quer dizer, dez coisas – Os olhos escarlate me fitaram confusos e eu quase ri da cara adorável de idiota  – Eu tenho a solução para parar de ter decepções amorosas! – Falei com os punhos levantados e os olhos brilhando esperançosos como se tivesse achado a cura para todas as doenças do mundo.

- Não ter uma vida amorosa? – Respondeu com escarnio, mas eu estou muito determinado para seu sarcasmo me abalar.

- Eu tive a ideia perfeita – Mostro o meu caderno de anotações ao qual teoricamente é para ter anotações sobre a faculdade, sendo que na verdade é meu caderno de desenho quando eu estou entediado na aula em 99% do tempo – Eu criei dez medidas antes de eu entrar num relacionamento. São dez qualidades que o meu alfa tem que ter antes de eu me relacionar com ele – Entrego o meu caderno aberto na página para o alfa.

Katsuki pega desconfiado o caderno, certamente pensando na merdas que eu possa ter escrito, porém, não é dessa vez. Eu coloquei toda a minha inteligência e minhas dores nesse pequeno pedaço de papel e-

- Por que você está rindo!? – Pergunto ofendido. Bakugou ria como se eu tivesse dado um livro humorístico invés de uma ideia brilhante – É perfeito!

- Exatamente caralho! É perfeito! – O alfa repetiu risonho, ainda tentando controlar sua respiração – Por que não aproveita e pede para o seu alfa vim num unicórnio trazendo uma mansão nas costas porra? Essas medidas são ridículas – Caçoou, não aguentando mais segurar os risos debochados na sua garganta.

- Me dá! Você que está exagerando! Eu não exagerei tanto assim... – Recruto meio incerto. A possibilidade de eu estar errado e ele está certo é mais alta do que eu gostaria.

Mas eu não exagerei...exagerei?

Pego o caderno das mãos do alfa e começo a ler de novo meus tópicos.

1) O alfa tem que ser bonito por dentro e por fora (cansei de boy lixo).

2) O alfa tem que ser engraçado espontaneamente (não quero ter que ouvir pela centésima vez as mesmas piadas prontas sem graça).

3) O alfa tem quer ser inteligente (De burro da relação basta apenas eu).

4) O alfa tem que saber cozinhar (porque se ele acha que só porque eu sou ômega eu sei mexer em alguma coisa na cozinha, ele vai morrer de câncer de tanto miojo de galinha digerido em apenas uma semana).

5) O alfa tem que ser estiloso (eu não vou andar com um cara que anda com as mesmas roupas do meu avô).

6) O alfa tem que ser responsável (eu não vou aturar um alfa dando uma de "macho do role" sem um pingo de consciência para cima de mim, logo eu, que não sei falar não).

7) O alfa que me surpreenda (de monótono já basta a minha vida).

8) O alfa tem que ser menta aberta (Deus me livre ter um alfa preconceituoso).

9) O alfa tem que mimar como o príncipe que eu sou.

10) E é claro, o alfa de tem quer bom de cama.

- Boa sorte procurando alguém assim, com certeza vai morrer solteiro – Katsuki comentou e rodou a cadeira para voltar a sua atenção na aba aberta do seu computador – Essa sua ideia é mais estúpida do que seus planos de cola com o cabelo de merda.

- Eu vou encontrar esse alfa e vou esfregar ele na sua cara, guarde minhas palavras.

Guarde minhas palavras. 

As dez medidas (Kamibaku)Onde histórias criam vida. Descubra agora