1812
Mariana passou a manhã toda correndo pela casa auxiliando os criados a terminarem de embrulhar as coisas para a viagem. Agora, ela era uma protegida da família, porém, não existe no mundo tempo que fizesse ela esquecer o seu passado. Lady Amélia, a duquesa de Beauhar, sempre a repreendia quando via que Mariana estava fazendo algo que não era considerado adequado para seu novo status, mas a repreensão nunca era grande o suficiente que fizesse com que ela perdesse o desejo de ajudar.
Passou por alguns criados que levavam vários caixotes em direção das carruagens que esperava na porta da casa grande da fazenda. Ela sorriu enquanto se dirigia para o quarto de Elizabeth. Mariana arregalou os olhos ao ver que o caos havia tomado conta do quarto da outra.
Elizabeth estava em pé ao lado da cama tentando dobrar algumas camisolas. Pela expressão de decepção e frustração estampada em seu rosto, Mariana sabia que ela não estava fazendo um bom trabalho.
— Não entendo a razão de nossa partida — Elizabeth falou quando notou a presença de Mariana no quarto.
Elizabeth era a filha mais nova de Lady Amélia e do falecido Lorde Beauhar. Ela era muito parecida com a mãe, os cabelos de um castanho claro e de pele clara, um feito difícil de se manter considerando o calor e o sol que sempre estavam presentes no Brasil. O que diferenciava a mãe e a filha eram os olhos, Elizabeth tem os olhos castanhos do pai, enquanto os de Lady Amélia eram de um azul profundo.
— Elizabeth, já conversamos inúmeras vezes sobre as motivações. Seu irmão já explicou muitas mais. O velho duque não fez um bom trabalho na parte financeira, Pedro precisa organizar isso.
Mariana falou pegando a peça de roupa da mão dela e começando a dobrar.
— Ora, Mariana, não estou falando que não entendo o motivo dele ir, estou falando de precisarmos acompanhá-lo. — Elizabeth se explicou olhando atentamente a forma como as mãos de Mariana trabalhavam ao dobrar as roupas.
— Deveria ter terminado de embalar suas coisas ontem. — Mariana falou franzindo a testa para a gaveta que estava totalmente cheia de roupas. — De qualquer forma, não fique com medo pelas notícias que estão trazendo da Europa.
— Não são só notícias, a família real veio para o império. — Elizabeth levantou os braços — Eles fogem de lá e estamos indo de livre vontade.
— Considerando que não iremos até Portugal, não há razão para se preocupar. A nobreza tem uma boa relação com a Inglaterra, e você deveria confiar mais no seu irmão.
Mariana sabia que Elizabeth pensava em outros argumentos, a ruga que estava no meio da testa dela comprovava isso, porém, nas últimas semanas haviam discutido tanto sobre a partida, que as duas já conheciam os argumentos e contra-argumentos dessa conversa. Elizabeth suspirou frustrada e cruzou os braços ao se sentar em sua cadeira de penteadeira.
Mariana também estava frustrada com a partida, olhando pela janela, ela podia ver todos os locais que fizeram parte de sua vida. Podia ver onde brincava quando criança, onde se escondia quando fazia algo errado e para onde fugia quando queria um momento sozinha. E a parte mais importante, Mariana podia ver uma cruz próxima a uma árvore, o local onde sua mãe estava.
Quando a sua mãe morreu, ela pediu que Mariana colocasse algo para ela naquela árvore, era o lugar preferido da mãe em toda a fazenda, mesmo o corpo dela não estando enterrado ali, Mariana sabia que era a onde o espírito da mãe estava.
— Não se preocupe. — Mariana falou desviando o olhar da janela e indo em direção de Elizabeth. — As coisas tendem a melhorar, Pedro fará isso dar certo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sonhos de Liberdade | Degustação
RomanceEm uma sociedade construída baseada na escravidão, temos a família Beauhar que, com seu novo Duque, optam por mudar os rumos do futuro de suas terras. Assim, em uma quantidade limitada de terras brasileiras, os escravos receberam suas cartas de alfo...