Não é sua culpa.

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_ Minha mãe disse que eu não vou passear com ela e o papai nas férias. Disse o pequeno Stefano.

_Por que não? perguntei.

_Ela disse que vou para um lugar onde eu vou brincar com vários meninos come eu. disse ele com voz triste.

Como você? perguntei.

_ Sim, meninos que comem muito, como eu, ela diz que todo mundo precisa saber comer. 

_Mas, você é tão pequeno, vai ficar longe deles, ela podeira organizar sua comida.

_Ela diz que não sabe, e também não quer que os meninos fiquem rindo de mim e me chamando de baleia. disse ele com os olhos cheios de lágrimas.

_ Disseram isso com você Stefano? perguntei e ele respondeu positivamente com a cabeça.

Assim como os pais, muitas crianças aprendem a ser preconceituosas, me chateia saber que alguns pais, não corrigem seus filhos quanto a isso, tornam-se cruéis e machucam outras crianças. 

_ Eu como demais, por isso vou ficar longe da mamãe. disse ele.

Não é sua culpa querido, ela não entende, e você é um garotinho forte, vai conseguir fazer o que quiser, independente de ser gordinho ou magrinho, além disso você é lindo, tem um coração bondoso, é carinhoso e mesmo que os meninos digam qualquer coisa com você não preste atenção, tudo o que eles querem é ser como você e não podem, faça o seguinte enquanto eles ficam como bobos rindo de você, faça amizade com as meninas, elas adoram meninos carinhosos e lindos como o Stefano. Falei apertando um pouco suas bochechas.

_ Verdade? perguntou sorrindo. 

_Sim.  Respondi abraçando-o.

Não gostava muito de confrontar os pais dos meus alunos em relação à maneira que criavam os filhos, mas como havia feito muito isso com os pais de Ana, resolvi tentar com os pais de Stefano. 

_Senhora Paiva, desculpa, mas a senhora não acha que Stefano ainda é muito pequeno para ficar longe dos pais. Perguntei.

_É de pequeno que precisa aprender professora Antoniete, além do mais é somente um acampamento de férias, lá ele vai passar por um reeducação alimentar. Disse ela.

_ E a senhora não pode fazer isso em casa, afinal se ele é "mal educado" na alimentação a culpa também é da senhora. Falei um pouco temerosa.

_ A senhora está dizendo que eu tenho culpa de meu filho está acima do peso? disse ela.

_Claro que sim. Respondi

_ Tenho culpa sim, admito, por isso que estou correndo atrás do prejuízo. disse ela depois de silenciar por uns segundos e me fazer pensar que iria me esbofetear.

Não adiantou muito argumentar com a senhora Paiva, ela e o marido estavam realmente decididos a mandar o garoto para o acampamento. Não nego que eu ao final de nossa conversa, sem conseguir dissuadi-la da ideia, tive vontade de esbofetear a cara dela.

***

Eu estava me dedicando á dança e estava me sentindo muito melhor, mais segura e minha auto estima estava melhorando, além do mais eu precisava perder uns quilinhos antes da próxima semana, pois felizmente, recebi uma ligação do Imperium e fui aceita para trabalhar na recepção, a entrevista foi ontem pela manhã e apesar do nervosismo consegui a vaga.

... Onde está você meu querido pijama? Aqui. Amo ficar a vontade em casa, esse é um lado bom de não ter namorado, você não precisa se preocupar com isso, ninguém para reclamar do teu hálito, da depilação atrasada, do cabelo sujo e outras coisas, tem um lado negativo, mas não quero pensar nisso agora.... Quem será a essa hora. pensei ao ouvir a campanhia.

_Arthur?!  Nem em trezentos mil anos eu imaginaria ver aquele homem à minha porta.

_Antoniete, posso entrar? perguntou ele calmamente.

... Claro que não, seu esnobe, bombado, onde está sua namorada linda e perfeita? pensei.

_Sim, claro. Abri a porta.

Perguntei-lhe como havia achado meu endereço, ele disse que pediu ao meu irmão. Ele parecia distante no início, mas aos poucos, depois que lhe servi um copo de suco de Abacaxi com hortelã, foi ficando um pouco nervoso e sem graça. Depois de me perguntar como eu estava e que lhe fiz a mesma pergunta ele soltou:

_Antoniete, me perdoa!

E o mundo explodiu! senti meu passado se estilhaçando, uma onda de satisfação tomou conta de mim, era como se eu tivesse uma ferida muito grande e agora repentinamente tivesse sido curada. 
Aquelas palavras foram as que eu quis ouvir por muito tempo, a falta daquelas palavras em minha vida tiraram um pouco de mim, me trouxeram medo e por muito tempo tristeza. Mesmo que eu houvesse aceitado o fim de tudo, nunca o tinha perdoado por ter sido egoísta. E continuou:

_ Me perdoa, por tudo o que te fiz passar, por não ter cuidado de você, por não ter te defendido, eu tinha seu amor e te amava tanto, mas fui um otário.

... Foi sim.

Eu em silêncio assitia aquele homem desabafar e até mesmo chorar, o que não imaginei ver. Confesso que senti pena, e não tinha como não perdoá-lo. Até que ele me olhou com os olhos vermelhos e disse:

_ Desde que te vi àquele dia lá naquele negócio das pinturas...

... Ai meu Deus! Eu sabia que ele não estava entendendo nada da obra de arte.

_Que eu não paro de pensar em você.

...O que? Como assim pensar em mim?

_ Eu ainda te amo. Disse ele.

... Ai que m... justo agora que eu estava me sentindo bem sozinha me acontece um negócio desse, só pode ser a tentação do meio dia como diz minha mãe, quanto mais a gente reza mais assombração aparece.

_Eu não sei o que dizer Arthur, isso que a gente viveu já faz tanto tempo, é claro que te perdoou, já superei isso na adolescência. Falei sem jeito.

...Mente que dói o dente.

Impulsivamente ele se aproximou enquanto eu ainda estava falando e me beijou. Ele me apertou fortemente e ainda pude sentir o gosto de suas lágrimas, eu também quis muito aquele beijo ardente, mas isso foi antes. O beijo era diferente, o sentimento também. O empurrei. 

_ O que foi? Você não me ama mais? perguntou ele um pouco contrariado.

_ Claro que não Arthur! Gosto de você e te perdoou, não posso apagar nossa história da minha mente, mas muita coisa mudou, eu sofri, aprendi e você também tem sua namorada. Falei me afastando.

_Ela terminou comigo, nós dois terminamos, nós estávamos em mundos diferentes, ela e os amigos sempre conversavam sobre arte, leitura e sei lá o que, até riam de mim, quando eu não conhecia fulano das pinturas não sei de que. Disse ele chateado.

_Por isso você veio pedir perdão não foi,  passou pelo mesmo que eu, e ela não te defendeu quando os amigos riram? Perguntei.

_Sim, percebi o quanto te machuquei. disse ele.

_ Tudo bem Arthur, você tem meu perdão e minha amizade se quiser, mas assim como eu aprendi, você também terá que aprender com as experiências ruins.  Falei.

_Eu te acho muito linda Antoniete, sempre achei, mas fui levado pela opinião dos outros, eu sou o burro dessa história, você não tem culpa de nada. Sei que você sofreu muito por minha causa, o quanto chorou e se sentiu culpada por não ser magrinha, Lêda me disse. Eu vou te reconquistar minha doçura, porque hoje eu te aceito do jeito que você é. Disse ele me olhando com olhar de cão que se perdeu do dono.

...Tá doido, só pode ser. minha doçura?! Era assim que ele me chamava quando estávamos juntos.

Depois disso ele pediu desculpas novamente e disse que não ia me incomodar mais, beijou minha mão quando saiu. Fechei a porta e me perguntei se aquilo era real. Chorei de alegria, parecia que tinham tirado um peso de minhas costas, passei o tempo todo tentando me encaixar e ser uma mulher que ele olharia, fiz dietas loucas, quase fiquei doente com isso, e agora quando eu decido me aceitar como sou, o universo conspira ao meu favor e me recompensa com essa paz e essa alegria tão grande. Obrigada Jesus! 













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