Treinado para destruir

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Minha vida era horrível. Mas relativamente normal.

E com "relativamente" eu quero dizer que é extremamente complicada.

Há anos vim para o Tibet com os meus pais. Ficamos alojados em uma pequena vila por, mais ou menos, um mês.

Todos os dias, logo após o nascer do sol, meu pai se sentava em uma escrivaninha pequena que ele mantinha no quarto, e ficava estudando um livro estranho. Ele tinha uma capa de couro, com algumas inscrições num idioma que eu desconheço e aparentava ter, pelo menos, umas 700 páginas.

Vi meu pai ler e reler aquelas páginas amarelas e sujas durante dias a fio.

Durante a tarde, eu e minha mãe saíamos para comprar coisas da casa e procurar informações sobre os arredores, enquanto meu pai permanecia estudando.

Duas semanas depois da nossa chegada, minha mãe e eu fomos para nossa caminhada de sempre, logo após o almoço. Dessa vez, resolvemos explorar uma espécie de bosque que tínhamos visto no dia anterior. As árvores estavam cobertas de neve e criavam uma vista linda. Obserevei-as por alguns minutos enquanto minha mãe tirava fotos do horizonte.

Uma brisa suave cortava o lugar, e eu estava tendo uma espécie de déja-vù, apesar de não identificar direito onde tinha tido uma experiência tão incrível quanto aquele lugar.

Fechei os olhos, apreciando o frio.

Quando abri novamente, vi pequenos brilhos vermelhos em volta da árvore à minha frente. Segui a trilha luminosa com o olhar e notei que quanto mais ela se movia, maior ficava.

As luzes vermelhas tremeluziam em destaque com a neve que caía vagarosamente. Um dos brilhos estava tão perto de mim, que quase pensei em tocá-lo, mas interrompi o gesto quando vi uma luz maior, mas da mesma tonalidade, um pouco mais para dentro do bosque.

Fui na direção da luz e parei a alguns metros. No meio da moldura vermelha brilhante, uma espécie de filme passava.

Vi uma garota, com os cabelos tão escuros que chegavam a parecer azuis. Seus olhos, por sua vez, tinham um lindo tom de azul que lembrava um céu limpo de verão. Vestia uma blusa branca com um broche de lírio cor-de-rosa, uma calça jeans também rosa com a barra dobrada e usava uma sapatilha do mesmo tom.

A menina era linda, mas chorava descontroladamente em cima de uma cama. O travesseiro tinha uma mancha circular de, pelo menos, 15 centímetros de diâmetro, causada pelas lágrimas constantes. Vozes vinham de um alçapão no piso do quarto, mas não consegui entender nada do que diziam.

Alguns segundos depois, ela levantou da cama e desapareceu atrás de uma porta na extremidade esquerda do lugar.

A cena mudou. Dessa vez, eu via meu antigo quarto, da mansão onde vivíamos em Paris antes de nos mudarmos para cá. A garota estava no quarto, o que era estranho. Não me lembro de conhecê-la, muito menos dela no meu quarto.

Ela estava de pé, apoiada no piano. Parecia prestes a chorar novamente, mas segurava firmemente as lágrimas. Tinha um sorriso contagiante no rosto, e me perguntei como ela ficaria se estivesse realmente com vontade de sorrir.

Aparentemente, tinha alguém tocando o piano. A garota parecia concentrada nas teclas à sua frente. Às vezes, balbuciava alguma coisa que eu não compreendia, ou dava um sorriso triste.
No que pensei ser o refrão, ela olhou fixamente para quem quer que estivesse tocando e eu senti um arrepio na espinha.

Uma lágrima desceu pelo rosto da garota, e a visão se dissipou quando ouvi minha mãe me chamando de volta.

Retornei à ponta do bosque e as luzes vermelhas tinham se dissipado completamente. Minha mãe segurava duas joias que eu nunca tinha visto: um anel negro e um broche que lembrava a cauda de um pavão. Estremeci. Antes de vir para o Tibet, estava empenhado em terminar todos os livros e gibis que estavam ocupando as estantes do meu antigo quarto, já que não poderia levar todos.

Em um deles, encontrei uma lista de mitos gregos. Um deles dizia que Hera, a mulher de Zeus, tinha ficado com raiva de um de seus servos, que tinha olhos espalhados por todo o corpo. Como vingança por um trabalho mal feito, a deusa arrancou os olhos do homem e os colocou na cauda de um animal. Dessa forma, haviam sido criados os pavões. Desde então são os animais sagrados de Hera.

Eu não gostava dessa história. Nem de Hera. E, certamente, não gostei daquele broche.

— De onde saiu isso, mamãe?

— Ah, filho, não se preocupe! Logo conversaremos sobre isso.

Assenti, relutante.

Voltamos para casa em silêncio.

No dia seguinte, nosso passeio tomou um rumo diferente. Fomos até uma clareira afastada da vila. Minha mãe estava com uma sacola grande, que apoiou num tronco cortado na extremidade do lugar. Me pediu para esperar e saiu na direção de uma pequena floresta a oeste.

Alguns minutos depois, ela retornou com um coelho vivo e um punhado de lenha. Tive um mal pressentimento quanto àquilo, mas não disse nada.

Ela fez uma espécie de cela para o animal com algumas ripas de madeira e deixou as sobressalentes empilhadas ao lado.

Da sacola, puxou as duas joias que havia encontrado no dia anterior e meus instintos gritavam corra! a plenos pulmões.

Ela estendeu o broche de pavão para mim e disse que eu deveria prendê-lo à camisa. Perguntei por que não podia ficar com o anel. Ela hesitou por uns segundos, parecendo refletir. Por fim, prendeu o broche ao vestido e me entregou o anel.

Assim que o pus no dedo, uma criatura negra voadora surgiu à minha frente. Olhei, alarmado, na direção da minha mãe, que sorria triunfante para uma criatura também voadora que surgira à sua frente. Se parecia com um mini pavão.

As criaturas estavam com medo e se amontoavam juntas, tentando manter distância de nós dois.

Minha mãe pareceu finalmente notar meu pavor e disse, calmamente a mim:

— Você, meu filho, nasceu para o poder. Seu pai acha que pode controlá-lo, impedir que o destino se concretize. Mas o futuro precisa que você governe.

Eu a encarava, completamente atordoado e sem ação.

— D-do que está falando?

— Estou falando de um mundo em que você deve se apossar do destino. Deve abraçar as determinações feitas antes mesmo do seu nascimento. Você, meu filho, e só você.

Ela me olhava atentamente, e os bichinhos voadores tremiam. Não sei se de frio, ou de medo.

— Mas o seu reinado não deve ter interferências. Inicialmente, achei que o miraculous do pavão lhe daria o poder necessário para resolver esse pequeno problema. Então eu poderia lhe guardar usando o miraculous do gato negro. Mas você me fez refletir. O controle pode apresentar falhas. Pode ruir. Mas a destruição é permanente.

Ela se virou bruscamente para as criaturas voadoras.

— Esses são Plagg e Duzuu. São kwamis e nos darão os poderes necessários para nossa tomada inicial. Precisaremos estar em nossa forma etérea para que o destino seja feito. Plagg é seu kwami, e irá ensiná-lo a chegar na transformação.

O kwami negro, Plagg, me explicou sobre palavras mágicas e tantas outras coisas. Por fim, consegui ativar a joia. Minha roupa se transformou em um traje de couro negro. Uma máscara estava fixa em meu rosto e acessórios de couro faziam com que eu parecesse alguém voltando de uma festa a fantasia.

Minha mãe também estava com uma roupa diferente. Um macacão azul marinho, também de couro a fazia parecer mais alta. Um leque parecido com o broche se projetava do cinto do traje.

— A partir de hoje Adrien, eu vou treiná-lo. E você destruirá seu pai.

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Olá, leitores!

Parei um pouco de postar por causa de alguns trabalhos do ead e também porque minha criatividade tava um pouco precária hehehe
Cap com narração do Adrien porque eu precisava situar vcs antes da bomba estourar. O próximo também vai ser narrado por ele.

Boa leitura!

O Brilho Nos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora