9. Resposta

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Eu não parava de andar de um lado para o outro no corredor dos armários, não devia ter passado nem meio minuto desde que René ficara sozinha com Heron mas para mim pareciam umas três longas horas. Estava suando e meu coração parecia que iria sair do meu peito de tanto que batia, não sabia se meu desespero maior era por eu ter que contar que sou a Queen of the Clouds se eu quiser saber o que Heron respondeu ou se era porque HERON RESPONDEU.

Meu deus, o Heron ME respondeu.

Encostei as costas nos armários e levei uma das mãos ao peito. Ele respondeu mesmo!
Soltei uma risadinha mas logo me contive, ERA LOUCURA! Ele tem namorada, é amado por toda a família dela e depois da reunião familiar que vi do terraço ontem não duvido que estejam pra casar mesmo.

- O que foi que eu fui inventar? O que foi que eu fui inventar?? O que foi que eu fui-

Meus resmungos foram interrompidos por passos pesados na escada, a escola já estava quase vazia então a cada degrau era possível ouvir um eco.
Os passos cessaram quando René apareceu no pé da escada e olhou para os dois lados com aquele sorrisão de satisfação pura, a puxei pelo braço antes mesmo que ela me visse ali.

- Adrienito, você tá aí - ela sorriu ainda mais - olha o que eu tenho aqui, parece que você me deve uma ajuda com física e...
- Precisamos conversar - disse sério, o sorriso de René se entortou ainda mais.
- Que foi tá querendo dar pra trás agora? Agradeça por eu não ter envolvido dinheiro, e além do mais eu tenho uma longa investigação pela frente pra saber pra quem eu tenho que entregar essa belezinha aqui.

Ela ergueu a carta, engoli em seco.

- René a gente precisa conversar - enfatizei, ela me olhou séria.
- Adrien que cara é essa? O que é tão urgente pra você ficar desesperado assim? 

Respirei bem fundo, seria difícil convencer René só na lábia de fazer qualquer outra coisa que não fosse relacionado a esta carta, a sorte é que o que era tão importante era justamente relacionada a ela.
Sem muita opção, segurei a mão de René e a fui rebocando até minha casa sem dar mais explicações, odiava isso mas não dava pra conversar no meio do corredor ou tudo poderia ficar ainda pior do que já estava, alguém poderia nos ouvir.

Acredito que chegamos em casa em tempo recorde, René não parava de perguntar o que estava acontecendo e muito me surpreendia ela não ter dado nenhum palpite.
Passamos pela porta de entrada e Skye estava no sofá trabalhando.

- Oi mãe, estou no terraço com a René - disse rapidamente indo direto para a escada.
- Oi filho, divirtam-se - ela disse sem tirar o rosto do tablet - você também René.
- Valeu Tia Skye - René gritou dos degraus.

Quando chegamos no terraço finalmente soltei a mão de René que cruzou os braços sem entender o que estava havendo, não a julgo.

- Beleza estou aqui, o que é tão grave que você não podia me contar no colégio e fez esse mistério todo? Se for a aposta você não é obrigado a nada Addie foi só uma brincadeira e-
- Fui eu - Disse de uma vez, René fez uma cara confusa.
- O quê? Foi você o quê? Que brincadeira é essa Adrien?

Respirei fundo com os punhos cerrados na tentativa de controlar o nervosismo.

- A carta, fui eu quem a enviou.

René travou por alguns segundos, estava esperando uma reação dela mas parecia que havia uma tela azul de erro no Windows em sua testa.

- Espera, você tá me dizendo que foi você quem colocou a carta no meu armário?

Assenti com a cabeça encolhido em meus próprios ossos.

- ENTÃO VOCÊ SABE QUEM É A GAROTA? ADRIEN POR QUE NÃO ME FALOU QUE SABIA DA IDENTIDADE DELA? É A KAREN BENNER NÃO É?

Minha boca se escancarou de surpresa, não é possível que René ainda não se ligou do que eu estava querendo dizer.
Ela tagarelava e tagarelava sobre o quanto eu facilitei seu trabalho de busca e que agora que eu "sabia" ela poderia fazer sua matéria de capa, além de citar 500 nomes diferentes de garotas do 1º ano a tias da secretaria.
Foi quando sem pensar muito, segurei os ombros de René e olhei firme em seus olhos.

- RENÉ CLARK GRIFFIN ME ESCUTA - disse, ela piscou duas vezes e me encarou de volta.
- O QUE FOI ADRIEN?
- A GAROTA SOU EU!
- OI? - ela exclamou.
- Fui eu quem escreveu a carta, coloquei em seu armário e agora quem tem que receber a resposta! Sou eu! - diminui o tom.
- MAS QUE P-

Coloquei a mão sobre a boca de René antes que a vizinhança inteira a ouvisse gritar, incluindo Heron.

- Por favor, seja discreta - supliquei libertando René do silêncio.
- Do que diabos você tá falando Adrien Morgan South? Ficou doido? - ela levou as mãos ao topo da cabeça.
- Eu acho que sim! - me sentei na mesa de piquenique no canto do terraço, René se sentou a minha frente.
- Você não pode estar falando sério, Adrien... ADRIEN! - ela exclamava incrédula - então... então o cara que você estava afim e que segundo você não ia dar o que presta era o...
- o Heron, é... - apertei as mãos.
- Adrien eu te subestimei demais VOCÊ É COMPLETAMENTE MALUCO!
- MAS VOCÊ MESMO ME DISSE QUE NINGUÉM ERA INALCANÇÁVEL!
- PORQUE EU ACHEI QUE VOCÊ ESTAVA FALANDO DE QUALQUER OUTRO CARA QUE NÃO TIVESSE NAMORADA!!!!
- SHHHH - gesticulei com a mão para que René abaixasse o volume.
- Desculpa - ela sussurrou, mas se pudesse teria gritado - olha, se você é mesmo quem enviou a carta, quero uma prova.
- Uma prova René? Minhas palavras não bastam???
- Quem me garante que você não está me dizendo isso para proteger a real remetente hein?
- Pelo simples fato de que eu não falo com mais ninguém naquele colégio além de você??? - Disse como se fosse óbvio, e era mesmo se parássemos pra pensar.
- Você tem razão - ela fez uma cara emburrada - mas me diz, o Heron? Por que justo o Heron? Você parecia tão indiferente a ele, e-eu não consigo imaginar você enviando uma carta de amor pra ele.
- Porque não é uma carta de amor.

Ela semicerrou os olhos em minha direção me julgando mentalmente.

- É sério! Foi mais como um agradecimento, ele foi legal comigo na aula de literatura e eu só queria agradecê-lo.
- Então por que o mistério em cima do remetente? Ele parecia ainda confuso sobre a identidade quando me entregou a resposta.
- Porque eu não queria que ele viesse até mim - respirei fundo e olhei para a casa de Heron - sempre que ele está perto eu travo, como se todos os parafusos do meu corpo se enferrujassem de uma única vez e tudo parasse de funcionar, eu tropeço nas palavras e passo a agir como bobo sempre que ele me olha, não dá pra conversar com alguém que me causa todos esses efeitos colaterais.

Olhei de volta para René e ela sorria.

- Não é carta de amor né? Aham, acha que me engana Adrien? Tá escrito na sua testa o apreço que você tem no Hayes e só você não vê! Ou melhor, te conhecendo, vê mas nega até a morte, tô errada?
- Não mesmo -suspirei - mas sinto que não estou fazendo a coisa certa René, a gente não consegue controlar o que sente mas não dá pra se render a algo que é 100% de chance de dar tudo errado e eu acabar me magoando e ainda por cima desestabilizando o que já parece estar nos eixos, consegue entender o que eu estou dizendo?
- Perfeitamente porque eu penso da mesma forma, mas só tem um jeito da gente descobrir se está tudo errado mesmo - René arrastou o envelope até mim por cima da mesa - lendo o que Heron tem a dizer sobre isso.

Peguei o envelope, ele era um pouco diferente dos que entregaram na escola, ele deve ter comprado seu próprio papel de carta apenas para responder a Queen. Eu devia me sentir lisonjeado?
Era um envelope simples como os que entregarem no Gardenia, porém tinha bordas listradas em azul e branco ao invés de vermelho e branco, na parte inferior, no canto direito, estava escrito em preto numa letra desenhada e extremamente caprichada "De: Heron para: Queen of the Clouds" meu coração começou a acelerar, eu devia estar sonhando.

Cartas para Heron HayesOnde histórias criam vida. Descubra agora