Lenço.

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Cachos dourados.

Cachos dourados como os raios do sol que penetram sua pele e te esquentam em segundos, causando uma sensação boa que te lembra de estar vivo. Cachos dourados assim como ouro que encanta e espanta. Cachos dourados de Park Jimin, que junto de seu sorriso contagiante e íris cristalinas brilharam mais do que uma manhã ensolarada naquele cruzeiro.

Fora numa manhã aconchegante e calorosa em que o vi pela primeira vez. Eu estava sentado em uma daquelas espreguiçadeiras na parte superior do navio, o olhar perdido nos rabiscos que a caneta fazia em meu caderno quando, ao levantar a cabeça para ter mais uma visão da paisagem que desenhava, encontrei sua silhueta de costas para mim. Seus braços estavam apoiados na borda de ferro de maneira que pudesse observar o mar com clareza. O lenço que usava no pescoço voava delicadamente, quase em câmera lenta, à medida que o vento quente batia também em seus cachos dourados, dando-lhe um ar deslumbrante e digno de deus. Observei seu corpo violão por muitos segundos, me perguntando se seu rosto seria tão bonito quanto sua estrutura, recebendo a resposta no mesmo segundo e sentindo-me ficar vermelho quando o rapaz loiro como o sol virou seu corpo. Óculos. Ele usava óculos de sol e, por isso, não consegui enxergar seus olhos charmosos e penetrantes de primeira. Ele levou a mão suavemente até o acessório, abaixando-o até metade do nariz e mirando suas íris nas minhas. Azuis. Seus olhos eram azuis como a água, como o mar em que o navio flutuava. Tão azuis que faziam contraste com os raios de sol que seus cachos dourados tinham.

"Gostando da vista?" Essas foram as primeiras palavras que ouvi vindo dele.

Sua voz era harmoniosa e aguda, sua língua pareceu saborear com prazer aquela frase dita com tanta clareza e afirmação. Ele agia como se fosse ciente do que sua presença causava nas pessoas. Do que causou em mim.

"Muito." Molhei os lábios num impulso, tirando meus óculos de grau redondos e o deixando em cima do caderno já esquecido. "E você?"

"Gosto mais do que vejo agora." Disse se aproximando de onde eu estava, seus passos bem articulados e calculados, suaves como um cisne.

Ergueu as sobrancelhas e levou uma das pontas do óculos até a boca, mordendo esta, o olhar descendo para a espreguiçadeira. Rapidamente afastei minhas pernas e sentei-me, dando espaço para que o loiro de íris cristalinas se aconchegasse ao meu lado de perna cruzada, os dois braços apoiados por detrás do corpo e a cabeça tombada de modo que fitasse o céu quase tão azul quanto seus olhos. O vento balançava seus cachos lindamente, sua boca formada em um bico adorável e chamativo, tão rosa quanto o lenço em seu pescoço. Continuei ali, estático e encarando seu corpo esbelto tomando sol, pensando no que dizer ou perguntar para aquele rapaz estranhamente extraordinário.

"Você desenha?" Sua voz aguda perguntou me dando um pequeno sobressalto, meus ouvidos sendo agraciados pelo pequeno riso que saiu do fundo de sua garganta. Lindo.

"Eu tento." Brinquei. Mais uma vez sua risada soou e se destacou em meio ao barulho das águas e das famílias de férias ao longe. Seus olhos agora se dividiam entre fitar meu rosto e minhas mãos que seguravam o caderno.

"O que estava desenhando?" Perguntou curioso.

"Apenas uns rabiscos, nada demais..." Abri na folha em que desenhei pela última vez e mostrei para ele.

"Você chama essa obra de arte de rabiscos?" O rapaz disse chocado e puxou o caderno de minha mão, me causando risos.

"Deixe de bobeira." Falei tímido puxando o caderno devagar por entre seus dedos, parando quando este não quis soltar.

As íris azuis e intensas penetraram meu rosto, uma sensação estranha subiu pelo corpo e me causou arrepios. Seus cachos dourados voavam em uma dança ensaiada, o brilho de seu sorriso me hipnotizando a cada segundo. Parecia cena de filme.

we were ships in the night [ vmin ]Onde histórias criam vida. Descubra agora