Capítulo um • Duas vezes a mesma pessoa!

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Park Jimin

Jesus havia me abandonado.

Observando-o adentrar tranquilamente a sala, analisando seu andar, contando os segundos exatos entre uma passada e outra das pernas, recebia a confirmação de que Jesus havia, definitiva e irremediavelmente, desistido de seu pobre filho pecador, Park Jimin.

Reajustando meus óculos incontáveis vezes em meu rosto, pela primeira vez duvidava de fato da capacidade cognitiva do meu cérebro de absorver estímulos visuais e devolvê-los à mim de maneira apropriada, pois poderia ter certeza de que estava vendo em dobro ou, até mesmo, delirando. Repensei outras inúmeras vezes tudo o que consumi do início da minha manhã até o momento atual, questionando de forma veemente a qualidade de cada substância ingerida e absorvida pelo meu corpo; para exponenciação de todo meu colapso interno, nada ilícito havia sequer chegado próximo ao meu tato.

Comidas com data de validade vencida, álcool ou alucinógenos de qualquer tipo estão inclusos em todas as coisas das quais fujo persistentemente em nome da minha dieta e bem estar diário, porém, durante aquele mísero segundo, desejei com todos os centímetros de força restantes em mim que tudo aquilo apresentado pelos meus sentidos não passasse de um desequilíbrio induzido das minhas sinapses cerebrais. Quis, como nunca antes, poder denominar-me louco, insano e destituído de plena racionalidade. Gostaria de caminhar até meus responsáveis e dizer: pai e mãe, me rendi tanto à uma paixão colegial típica de cinema que agora, em meus poucos quinze anos, perdi toda a sanidade. submeti-me ao desejo insano por ele e a consequência tardiamente descoberta foi o detrimento de toda minha capacidade mentalmas se eu estava louco, todos os meus colegas de classe certamente compartilhavam do mesmíssimo delírio, pois nenhum passo trilhado por aquele rascunho de anjo caído passava despercebido pelos olhos deles.

Estavam todos perdidos no quão absurdo aquele acontecimento parecia, apesar de não estarem metade tão afetados quanto meu corpo fraco e quase-desfalecido largado à sorte naquele ambiente, arrastando-se pela cadeira em busca de esconderijo, como se de repente esquecesse o significado de matéria sólida e, igualmente de forma repentina, iniciasse seu processo de liquefação cujo, sem nem precisar pensar muito sobre, sabia já ter afetado completamente minhas pernas, porque não poderia me manter de pé nem mesmo tentando muito.

Sentado na cadeira de trás, talvez o único minimamente próximo de compreender a razão da síncope eminente instalada em mim, Yoongi mantinha suas mãos grandes segurando com força meus ombros, como quem tenta dizer sem usar palavras: você tá vendo?, e eu gostaria de responder que sim, estou enxergando muito claramente a silhueta da figura movendo-se bem a minha frente com a maior naturalidade do mundo; Estou vendo o cabelo preto de aparência sedosa e as mãos enfiadas nos bolsos frontais da jaqueta de couro como se fosse um maldito rockstar famoso da atualidade, exalando o ar irritantemente confiante e, ao mesmo tempo, um sorriso singelo no rosto, que ali reside como um marco pertinente da simpatia componho o fundo de sua compostura de bom garoto, obrigando-nos a engolir qualquer preceito maldoso sobre sua personalidade criado a partir de suas vestimentas pesadas e escuras. Estava acompanhando o fim trágico de toda minha estabilidade hormonal e sentimental, sendo lançado ao profundo do inferno, abandonado por Deus e tirando a prova de que o diabo gosta, e gosta muito, de brincar com corações jovens.

Definitivamente o via, era impossível não percebê-lo, mas não podia comunicar ao meu melhor amigo: enquanto meus membros se transformam em gelatina, minhas palavras evaporavam antes mesmo de alcançar a garganta.

Duas Vezes Desejo + jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora