A Pérola Negra

•Capítulo 1•

Nour sabia que algo estava errado. Fora dormir na noite anterior sentindo os pelos de seu corpo se arrepiareme calafrios percorrerem sua coluna não a permitindo um sono tranquilo.

            Antes de abrir os olhos ela sentia que alguma coisa estava fora do lugar. Primeiro, achou que fosse o sonho bizarro que teve aquela noite, mas depois ouviu os gritos.

            Ela se levantou tentando não cair com a tontura causada pelo latejar em sua cabeça, e caminhou cambaleado até a janela de seu quarto.

            Ainda não tinha amanhecido totalmente do lado de fora, mas a pouca luz era suficiente para enxergar entre as frestas de sua janela a confusão na rua. Pessoas corriam de um lado para o outro, alguns armados, outros provavelmente atrás de suas armar ou buscando um abrigo.

            Nour suspirou, o que quer que aquilo fosse, não era bom. Alguns saqueadores passaram pela cidade há alguns meses e deixam um rastro de destruição e raiva.

            Eles eram uma aldeia pequena, não tinham muito a oferecer, a não ser algumas famílias ricas que moravam na margem mais distante perto do lago. No entanto, o que quer que fosse aquela confusão, não eram os saqueadores.

            A jovem afastou os fios de cabelo castanho da franja que caiam sobre seu olho enquanto tentava identificar o que exatamente era a ameaça da vez. Em um território misto como Feidón era comum ataques de todas as magnitudes. Conflitos entre humanos e criaturas mágicas era recorrente, e de certa maneira, normal.

            Ela não poderia se envolver, era uma ordem de seus pais, não importava o conflito, se estivesse correndo risco de vida fugiria e não olharia para trás. Nour treinou como a maioria daquelas pessoas, a diferença é que ela não estaria lá fora, lutando com eles.

            Ela se vestiu com sua roupa de caça antes de descer as escadas para a sala, ela não sairia, mas também não permitiria que ninguém invadisse sua casa. Um de seus pais já deveria estar la fora com os outros, Nour sabia que seu irmão mais velho também estaria, já que não estava no quarto ao lado do seu, e suas armas não estavam espalhadas em sua mesa como de costume, ela sabia também, que um dos pais estaria a esperando na sala. Sua mãe era uma lutadora excelente e amava está no meio das confusões, mas naquele dia lá estava ela caminhando de um lado para o outro entre os móveis de sua sala parecendo incrivelmente irritada.

            - O que está acontecendo? - Perguntou assim que desceu o último degrau. A mãe a olhou dos pés à cabeça avaliando o estado atual da filha.

            - Você está horrível querida, deveria estar dormindo. - Nour tentou não retrucar, ela sabia que estava péssima, não tinha um sono bom a mais de uma semana. Sua mãe também não estava com uma aparência muito boa. Os cabelos escuros presos em uma trança atrás da cabeça deixavam todo seu rosto a mostra, havia olheiras roxas e fundas em baixo dos olhos castanhos, sua pele morena e cotidianamente vibrante estava opaca.

            - Não consigo dormir ouvindo toda essa confusão. - Ela já não dormia bem cotidianamente, mas não mencionaria isso a ninguém da família, eles já eram paranoicos demais. A mãe parou de andar por um instante olhando perdidamente para a frente, balançou a cabeça em negação e voltou a fazer círculos envolta do sofá.  - Se continuar andando em círculos vai acabar fazendo um buraco no chão. - Nour esfregou as têmporas sentindo fisgadas em sua cabeça. - E me deixando mais tonta do que estou neste momento.

            A mãe parou enfim lhe lançando um olhar de desculpas. Ela ofereceu a Nour o chá, que exalava o aroma de camomila, que estava na chaleira fumegante sobre a mesa no centro do cômodo servindo as duas antes de se sentar no sofá com impaciência. Ela girava o chá em sua xícara de modo que logo derramaria o conteúdo.