Soulmate

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Um ônibus grande estacionou em frente à um pequeno parquinho que ficava no centro da cidade. Dentro dele, mais de quinze criancinhas olhavam ansiosas para os balanços, gangorras e escorregadores, imaginando as milhares brincadeiras que poderiam ser feitas. Notaram também que havia um senhor vendendo pipocas, sorvetes e brilhantes maçãs do amor. O brilho vermelho fazia suas pequenas bocas se encherem d'água apenas ao imaginar o quão doces elas estavam.

Assim que a professora autorizou que saíssem do veículo, um grupo de estudantes da escola primária usando chapéus amarelos, encheram o parquinho de vozes e gritos animados. Algumas crianças correram para os brinquedos enquanto outras cercaram o pobre senhorzinho que não sabia quem atender primeiro.

— Vô! Um sorvete de morango!

— Eu vim primeiro! Quero dois!

— Sai, sai! Eu quero uma maçã do amor!

Quando conseguiu enfim organizar todos os pedidos, o senhorzinho sorriu satisfeito ao olhar a pequena caixinha de dinheiro cheia com algumas cédulas e moedas. Bendito fosse o apetite das crianças!

Seria uma cena maravilhosa de apreciar, não fosse o garotinho que se mantinha afastado de toda aquela agitação. O menino olhava tudo com bastante expectativa, como se estivesse decidindo onde ir primeiro. Porém, sempre que um de seus pezinhos se movia para a frente, ele recuava, como se estivesse desistindo da ideia. Os pais do pequeno Wang Yibo não estavam em uma boa situação financeira e haviam apenas colocado em sua lancheira dois pedaços de sanduíche e um pequeno suco de caixa. Eles não tiveram condições de dar algum dinheiro para que o filho pudesse comprar lanches no parquinho.

Além de tudo, o garotinho não conseguia se enturmar com os coleguinhas, ficando sempre no seu canto.

Por ser tão novo ainda, apenas sete anos, Yibo não se importava tanto assim com os outros. Ele tinha uma boa imaginação, então decidiu por sentar-se sozinho à sombra de uma grande árvore, tirando da mochila alguns bonequinhos que havia ganho em seu último aniversário. Logo, ele brincava distraído, encenando uma história que tinha criado.

A professora tinha tentando intervir algumas vezes sobre deixar o garoto tão sozinho, mas o resultado era sempre o mesmo, então talvez fosse melhor que o menino tivesse seu tempo, certamente ele faria amizades em algum momento.

Quando deu fome, o pequeno Yibo tirou da lancheira o pote que a mãe fizera. Apesar de simples, o lanche tinha uma boa aparência. Segurando a metade do sanduíche com uma mão e a caixinha de suco com a outra, Yibo começou a comer animado, ainda que seus olhos se desviassem para as maçãs do amor que sobraram no carrinho de doces. Estando tão entretido entre o próprio lance e aquele que tanto queria, não notou quando alguém sentou-se ao seu lado, aproveitando também da sombra da árvore. Teria voltado sua atenção para os bonequinhos espalhadas pela grama, não fosse uma voz tímida soar um tanto receosa.

— Oi, você quer? — O que o garoto desconhecido estava lhe oferecendo era uma das brilhantes maçãs do amor.

Não a metade de uma ou um único pedaço, mas uma inteira!

Yibo ficou alguns segundos de boca aberta, o olhar se desviando entre o doce e o garoto ao seu lado. Ele parecia ser um pouco mais velho, talvez um ano ou dois apenas, e ele estava vestido como aqueles garotinhos que apareciam em propagandas de roupas: uma camisa branca delicada e suspensórios azuis claros, seus sapatos eram tão lustrados que Yibo podia jurar que conseguiria se ver através deles. Mas sentado na grama, ele não parecia se importar em sujar as roupas caras.

— Eu te vi aqui sozinho... e vi que tava olhando as maçãs... mas posso ir embora se você quiser.

Yibo piscou algumas vezes antes de timidamente erguer a mão e pegar a maçã. Nenhum dos outros garotos da sua escolinha se aproximava deliberadamente daquele jeito.

— O-obrigado, Gege — Yibo mordeu o doce com alguma dificuldade — faltava-lhe um dos dentes da frente — e não conteve o sorriso quando sentiu o gosto. Era deliciosa do jeito que tinha imaginado!

Estava tão animado que sequer tinha olhado novamente para o seu benfeitor que também comia, saboreando o doce.

O vento estava bastante agradável e enquanto várias crianças corriam por todo o parque, aqueles dois pequenos garotos desfrutavam da companhia silenciosa um do outro. Yibo terminou de comer com poucas mordidas, apesar de não ter todos os dentes ainda. Limpando a boca com as costas das mãos, ele olhou para o garoto ao seu lado.

— Ei, você quer brincar de guerrinha? — Yibo juntou os bonequinhos que estavam espalhados, colocando-os entre eles — Esse aqui é o general, eu deixo você ser ele.

Assentindo enquanto sorria animado, o outro garotinho pegou o brinquedo e assim os dois acabaram brincando juntos. Ambos pensaram que era uma boa ideia construir um forte e assim, procuraram galhos, folhas e pedras. Juntos, eles remexeram na terra e no final até mesmo as bochechas de Yibo estavam sujas de areia. Até a blusa branquinha do garoto mais velho estava suja de lama e terra. Mas eles eram crianças e não poderiam se importar com aquilo. Eles estavam se divertindo, ignorando as roupas, a lama nas mãos e o suor no rosto. Seus olhos brilhavam e o sorriso de Yibo era tão radiante como nunca antes.

Infelizmente, o sol estava se pondo.

As crianças do jardim de infância tiveram que voltar para seu grupo, então precisavam parar.

— Você pode ficar com o general, cuida bem dele, tá? — Yibo relutantemente disse a seu amiguinho antes de entrar no ônibus.

— Tudo bem, eu vou cuidar bem dele e quando a gente se encontrar de novo eu te devolvo — O sorriso era tão radiante que parecia trazer o sol de volta.

Yibo ficou olhando para o garotinho maior por um momento, então, como se tivesse subitamente lembrado de algo, disse — Ah! Estamos brincando, mas eu não sei seu nome.

O rosto do mais velho se iluminou, sua expressão se tornando ainda mais brilhante. Ele não sabia porque tinha deixado seu grupinho de amigos e ido se sentar ao lado daquele garotinho, mas ele sentia que eles seriam bons amigos, por algum motivo.

— É mesmo... Eu também esqueci disso — Então, estendendo uma das mãos, o garotinho mais velho se apresentou — Meu nome é Xiao Zhan, e o seu?

O outro apertou a mão estendida com seus dedos gordinhos, sem se importar se ambas as mãos estavam sujas — Meu nome é Wang Yibo, mas pode me chamar só de Yibo.

Os cabelos de ambos tremulavam ao vento e as mãos apertadas pareciam selar para sempre aquela amizade.

Aquele havia sido o primeiro encontro e a primeira despedida que teriam.

...

O dia estava claro e quente, a agitação da cidade tornava tudo ainda mais intenso, porém para os dois rapazes que caminhavam lado a lado distraidamente, aquele era mais um dia de calmaria.

— É uma pena que eles tenham construído um prédio nesse lugar, eu adorava esse parque.

Yibo estava com as mãos nos bolsos, enquanto olhava para o rapaz mais alto ao seu lado.

— É verdade, eu sempre achei que pudesse vir aqui com você sempre que quiséssemos, brincar de guerrinha, você sabe — Piscou, rindo em seguida — O vovô das maçãs do amor também não está mais aqui, espero que ele esteja bem — Com um pequeno suspiro, se aproximou mais, segurando discretamente uma das mãos do namorado — Mas nós estamos aqui, Zhan-ge.

Xiao Zhan riu, lembrando-se daquele garotinho que mal falava quando eles brincavam juntos. Lembrou-se também quando se mudou para outra cidade e pensou que não veria mais seu amigo. Porém, quando voltou e o reencontrou, percebeu que nada havia mudado. Então, Yibo se declarou para ele e aquele tinha sido o dia mais feliz de sua vida, afinal tinha seus sentimentos correspondidos.

Ambos compartilharam muitas primeiras vezes: o primeiro beijo, a primeira transa, a primeira briga, a primeira separação, a primeira reconciliação...

Talvez eles fossem destinados a ficarem juntos, como almas gêmeas que independente da situação, sempre estariam unidos um ao outro por várias e várias vidas.

Yizhan -  Bo Jun Yi XiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora