Natacha
Eu continuava tentando me desvencilhar daquele homem, e os meus gritos pareciam não ser ouvidos por ninguém, o meu desespero estava aumentando ainda mais, ele me prensou em uma parede falando coisas que eu não conseguia entender.
— Solta a garota! — alguém ordena, viro meu rosto vendo a silhueta da pessoa, mas a voz não era da minha irmã.
— Saí daqui! Não está vendo que estou ocupado? — o bêbado fala e eu tento empurra-lo.
— Eu mandei soltar a garota! — ouço um barulho e o homem me solta ao cair no chão, a pessoa pega no meu braço e me leva de volta para a calçada.
— Você o matou? — arregalo os olhos ao ver o taco de beisebol em sua mão, era uma mulher que aparentava ter uns trinta e poucos anos, e vestia roupas elegantes que pareciam caras.
— Ele vai acordar com uma dor de cabeça amanhã, mas não o matei, ele merece morrer de uma forma mais dolorosa — responde.
— Não tem vaga também! O que aconteceu com você? Seus cabelos estão uma bagunça só — Beatrice me observa assustada.
— Um homem me puxou para o beco escuro e essa mulher me salvou com um taco de beisebol — aponto para ela.
— Eu não mandei você ficar atenta?
— A questão não é ficar atenta, essa rua é muito perigosa à noite — a mulher fala.
— Muito obrigada por ter salvado a minha irmã, mas agora nós precisamos ir — Beatrice pega na minha mão.
— Ei, esperem! Vocês estavam querendo uma vaga no abrigo?
— Sim, mas não tem, agora vamos ter que encontrar um lugar seguro para dormir na rua mesmo — respondo e minha irmã me olha brava.
— Por que vocês não vão para a minha casa?
— Por que a senhora hospedaria duas pessoas desconhecidas na sua casa?
— Porque eu não vou me sentir bem ao ir pra casa e imagina-las dormindo na rua, correndo perigo. Vocês podem ir para lá, dormir e amanhã irem embora, não precisam nem se despedir — respondeu.
— Tudo bem, nós só vamos aceitar porque dormir na rua não é uma escolha sensata — Bea diz.
Ela nos leva até o seu carro e seguimos para sua casa, que na verdade é um belo apartamento. Olho em volta vendo o cômodo da sala de estar que dividia com a cozinha estilo americana, era tudo muito organizado e moderno.
— A senhora é rica? — pergunto observando a vista pela janela de vidro.
— Não, mas eu faço bons investimentos que me dão lucro. Vou pegar toalhas e shampoo e condicionador para vocês tomarem banho, infelizmente eu não tenho um específico para cabelos cacheados.
— Não tem problema, nós nunca usamos produtos específicos para os nossos cabelos — nos sentamos no sofá.
— Qual é o nome de vocês?
— Beatrice e Natacha. E o seu?
— Vocês podem me chamar de Madame.
— Madame? — franzimos a testa, confusas.
— Sim, as minhas meninas me chamam assim, e vocês também podem. Eu vou pegar as coisas para vocês se banharem — entrou no corredor.
— Assim que amanhecer, nós vamos embora, não existe pessoas boazinhas como essa mulher, com certeza ela já tem algo em mente quando nos convidou para vir pra cá — concordo com a cabeça.
Em muitas vezes eu penso que Beatrice é amarga assim por causa do abandono da nossa mãe, ela se sentiu responsável por mim e pelo meu irmão quando ela foi embora e isso a deixou receosa quanto a aproximação das pessoas, ela deve pensar que se der uma chance a alguém, vai ser abandonada novamente.
Dia seguinte
Dormir em uma cama macia estava tão bom que só acordamos quando a Madame bateu na porta do quarto perguntando se estávamos bem, nos arrumamos e saímos indo para a cozinha, onde tinha uma mesa pronta do café da manhã.
— Eu imaginei que fossem acordar com fome, então encomendei várias coisas porque não sei do que gostam — ela explicou.
— Obrigada! Parecem deliciosos! — me sento à mesa, pegando um croissant recheado.
— A gente agradece pela hospitalidade, mas nós temos que ir — Beatrice pega o meu braço, para que eu me levante.
— Sente-se, eu quero conversar com as duas — Madame se sentou e minha irmã suspirou fazendo o mesmo — Vocês moravam aonde?
— Em um orfanato. Eu saí de lá anteontem, nossa mãe nos largou sozinhas em casa e nunca mais voltou, tínhamos um irmãzinho pequeno que deixamos com uma senhora boa, e neste dia na volta para a casa passamos em frente ao lar de crianças, que nos acolheu.
— Eu sinto muito por serem tão novas e já terem passado por tantas coisas.
— Sim, todos sentem. Mas agora precisamos ir, de verdade — Madame não deixou Bea se levantar.
— Eu tenho uma proposta de emprego para vocês.
— É mesmo? Nós estamos precisando!
— E o que seria? Eu e Natacha não temos nenhum curso, ela ainda nem trabalhou.
— Eu sou dona da Mansion de Plaisir, e... — minha irmã a interrompeu.
— Eu conheço esse lugar e eu não quero trabalhar nele, se fosse para virar prostituta eu já teria feito isso antes.
— Minhas meninas não são prostitutas, eu sei que muitas pessoas pensam assim, mas elas tem uma vida ótima, um lugar para morar e elas trabalham na noite por opção delas, eu nunca obriguei nenhuma a dormir com cliente ou dançarem na casa noturna, e todas recebem salário e estudam, assim que se formam e conseguem emprego saem da Mansion para viver a vida que desejam.
— Eu quero! — abro um sorriso.
— O quê? Você não quer nada, Natacha! Está louca? Quer virar uma mulher da vida? — Beatrice me olha, incrédula.
— Se vocês não quiserem trabalhar na noite, podem ficar responsáveis pela parte da limpeza, eu estou precisando mesmo de pessoas para limpar a Mansion.
— E quem garante que a senhora não vai nos obrigar a trabalhar na noite?
— Tudo bem que vocês não me conhecem, mas eu lhe dou a minha palavra, só vão trabalhar na noite se quiserem. Vocês pretendem fazer faculdade?
— Sim, eu quero ser juíza e Beatrice delegada.
— Muito bom! Então se vocês aceitarem o trabalho nós vamos hoje mesmo fazer a matrícula na faculdade, e também vamos no salão de beleza arrumar os cabelos.
— Não vamos alisar nossos cabelos.
— E eu nunca que pediria isso! Esses cachos precisam ser hidratados e também vamos comprar produtos próprios para eles — sorriu.
— Precisamos pensar — minha irmã fala por fim.
Madame nos convidou para um passeio enquanto pensávamos na sua proposta, por mim estava aceita, mesmo não a conhecendo eu sabia que era uma pessoa que não mente para conseguir as coisas, e o que eu mais quero é estudar e ter uma carreira na área jurídica. Durante o caminho conversamos e minha irmã aceitou trabalhar na Mansion na parte da limpeza, e Madame decidiu nos levar para conhecer a faculdade onde irá nos matricular.
O prédio era lindo, parceria um museu por fora, eu estava encantada com os detalhes e resolvi dar uma volta pelo lugar enquanto Beatrice e Madame foram buscar informações. Andava distraída pelos corredores observando tudo quando acabei trombando em alguém, olho para cima me deparando com um par de olhos azuis, ele sorriu de lado, e eu me afastei rapidamente, me desculpando e saindo andando, morrendo de vergonha. Olho para trás e vejo que ele me acompanhou com o olhar, minhas bochechas esquentam, sorrio sem graça voltando minha atenção para o corredor em minha frente.
Será que ele é aluno daqui ou só um visitante? Se eu vier estudar aqui, posso encontrá-lo novamente, não? O que eu estou pensando? Eu só trombei em um cara! Deve ser carência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vidas Cruzadas | Spin-off Trilogia Amores
Romance(+16) Natacha Florence, uma mulher que desde cedo aprendeu a se virar sozinha, sem pais presentes ela e sua irmã Beatrice decidem tomar uma decisão difícil ao ter que deixar o irmãozinho com alguém desconhecido, mas no mesmo dia elas ganham a chance...