"E sinto que sentes a mim. E tenho medo, porque é real demais, e já não estou mais habituado ao real." — O barulho, João Bartz
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ANDRÔMEDA
O que significa"Dar um tempo"? Para ele, parecia ser algo tão vazio. Tão sem significado. Eu podia ver que doía para nós dois sempre que passávamos em uma rua, um de um lado e outro do outro, apenas dando uma olhada superficial e, em seguida, esquecendo de tudo. Mas a brisa noturna da minha janela me impedia de pensar em qualquer coisa que envolvesse nós dois. Mesmo em um verão quente no acampamento da escola eu sentia frio. Era totalmente necessitada do abraço dele, e, sem isso, a existência do calor não fazia sentido.
— Vocês o quê?! — O tom surpreso de Hirai dentro da barraca fazia com que ela parecesse falar em um microfone. — Demos um tempo, Momo. Foi isso que eu disse.
Já estava acostumada com os berros habituais dela, não era uma surpresa que ela assustasse todas as outras quando abria a boca. De qualquer forma, eu a entendia totalmente: ela se esforçou muito para que meu relacionamento e de Kang Daniel — que hoje parece apenas um desconhecido — enfim desse certo.
— Mas você está bem? — A pergunta preocupada de Tzuyu saiu baixa como seu tom normal de voz.
Demorou um pouco para que eu respondesse. Talvez, no fim, o sorriso que eu colocava em meu rosto e o tom alegre de meus olhos fossem falsos; talvez eu não estivesse tão feliz quanto aparentava enquanto bebia um refrescante gole de chá e observava o céu sozinha à noite. Talvez eu, de fato, não estivesse satisfeita com o "Dar um tempo" que Daniel havia proposto, porque não importava o quão perto de mim ele estava, ele ainda parecia distante. Ele parecia não me amar. Fiquei por uns instantes soprando a xícara de chá quente, perdida em meus pensamentos enquanto tentava achar uma resposta que não parecesse triste o suficiente.
— Se eu dissesse que eu estou bem, eu seria uma mentirosa. Eu prefiro dizer que estou superando lentamente. Mas não se preocupem, meninas, não é algo para se abalar tanto assim.
Naquela noite eu tinha ido dormir pensando novamente em Daniel. Acordei no meio da noite, cansada. Ser líder do meu grupo de acampamento não era fácil, afinal, eram minhas amigas: quanto trabalho mais elas poderiam me dar? Fora a barraca apertada que não contribuiu nem um pouco para que eu dormisse como se estivesse nos céus. Preferi pensar que esses fossem os meus menores problemas. Me sentei sobre uma pedra perto de um penhasco. As estrelas podiam ser bem mais observadas do que na cidade grande, a aura roxa que seguia o mesmo compasso dos brilhantes pontos azuis no céu era tão bonita que nem parecia real. O ventinho levou meus cabelos curtos para sua mesma direção, trazendo consigo o frio de arrepiar a barriga que, ao mesmo tempo em que era gostoso, também parecia me destruir por dentro. Era adorável ficar sozinha por algum tempo. Senti um tecido confortável pousar em minhas costas. Minhas bochechas queimaram levemente ao sentir o cheiro de amêndoas que estavam acompanhando o responsável por colocar o casaco ali. O cheiro dele continuava o mesmo.
