Yotunn

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 São nesses momentos que repenso minha escolha de profissão. Nasci na Flórida, um lugar quente e agradável, agora estou aqui no meio do nada com mais quatro pessoas, numa cabana de madeira no sopé de uma montanha da Noruega, congelando até os ossos. Sei que temos sistemas de aquecimento, mas eu odeio frio com todas as minhas forças, sou meteorologista, e estamos aqui estudando as tempestades de neve, de forma a descobrir maneiras de otimizar os meios de comunicação com esse tipo de interferência.

 Ao todo somos em cinco: Ellie, uma moça baixinha e rechonchuda, um amor de pessoa, a única capaz de manter o bom humor depois de meses no meio do nada monitorando tempestades, acho que ela consegue porque nasceu e cresceu no Alasca, então ponto para ela. George, nova-iorquino chato e extremamente metódico, fica ajeitando aqueles óculos sobre seu nariz pontudo a todo momento. As vezes eu e ele discutimos, mas Ellie sempre nos faz baixar a bola, afinal já estamos a três meses nesse lugar isolado, ninguém mais aguenta olhar um para cara do outro. Anna, britânica, e a única visão agradável aqui em meio ao gelo, ruiva de cabelos ondulados e sardenta, ela é a mais jovem de nós, e a única casada. Brincamos com ela sobre isso, pois se um pesquisador meteorológico tem tempo para um relacionamento, está fazendo seu trabalho errado. Ludvik, o único nativo, por assim dizer, é norueguês, um velho bode rabugento, cabelos e barba grisalhos e quando discute conosco sai xingando em norueguês para não o entendermos. Mas verdade seja dita, o homem é experiente no serviço, corrige alguns erros que cometemos e acaba fazendo a maior parte do serviço braçal. E eu, Albert, reclamando pelo menos duas vezes por dia do frio nos últimos três meses.

  Essa noite começou com mais uma tempestade forte, ligamos todos os aparelhos, as antenas irão captar as condições atmosféricas e transmitirão para os nossos computadores, resta esperar a tempestade passar para analisamos todos os registros feitos. George ficava observando os computadores enquanto os dados chegam, isso me dava nos nervos, porque de nada adiantaria verificar antes da hora, mas a ansiedade patológica daquele chato de galocha era incontrolável. Anna havia saído no meio da tempestade para calibrar alguns medidores por precaução. Porém quando ela voltou para dentro, parecia incomodada com alguma coisa, "não é nada, pensei ter visto alguém lá fora na tempestade" respondeu ela, "só uma silhueta andando perto do galpão, era bem alto, mas quando cheguei perto não vi ninguém".

 "Os Yotunns vieram nos pegar" falou Ludvik em tom ameaçador e sarcástico, seguido de uma risada debochada que virou tosse (maldito fumante). "Quem?" indagou Ellie rindo, "É uma história que meu pai me contava quando eu era pequeno, espere um momento" disse ele indo até o seu alojamento, em alguns instantes ele voltou com um pequeno objeto em mãos. "O que é isso? Seu sabre de luz?" indaguei debochando dele, Ludvik me olhou feio, mas de fato aquele objeto realmente se assemelhava com o dos filmes, porém era feito de osso ao que parecia, talhado com runas e com imagens de animais em estilo de desenho nórdico. "Meu pai contava que ele e meu tio mataram um Yotunn uma vez, e tomaram isso aqui dele".

 "Mas que raio é um Yotunn?!" indagou Ellie agora curiosa, ao dizer isso, as luzes se apagaram e em dois segundos se acenderam de novo, provavelmente algo acontecera com o gerador de energia principal, o de emergência foi ativado. Ludvik sorriu maliciosamente "os yotunns são descendentes dos gigantes de gelo, algumas lendas dizem que são a mesma criatura, bobagem digo eu, pois eles se adaptaram e se assemelharam a nós para fugir".

 "Fugir do que?" indaguei, adoro histórias, olhando para mim seriamente ele respondeu "dos deuses logicamente, Odin, Thor, Tyr, todos eles. Os Jötunns eram hostis sim, mas em sua maioria haviam poetas, artesãos, nobres. Suas mulheres eram muito belas, tanto que Odin exigiu que uma se deitasse com ele, ela nada pôde fazer contra o deus déspota, dando a luz assim a Thor, este também traía sua mulher Sif com gigantas e gerou seus dois filhos delas. Odin também os obrigou a construir um muro ao redor de Asgard para proteger os Aesir dos próprios Jötunns". George bufou lá no fundo, como se a história de Ludvik estivesse atrapalhando seu trabalho, mas ele o ignorou e continuou "Odin quis apaziguar a fúria deles, levando um dos Jötunns para morar em seus salões no Valhalla, Loki era seu nome, e Odin o considerava um irmão, pelo menos isso que o acordo de sangue exigia. Mas Odin um dia se cansou dos caprichos do gigante, matou seus filhos e o prendeu com as entranhas das crianças, deixando uma serpente para torturá-lo. Ks Jötunns ficaram irados com o ocorrido e iniciaram uma rebelião contra os deuses".

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⏰ Última atualização: Nov 17, 2020 ⏰

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