Park Jimin
Eu estava esperando todo aquele fulgor dissipar, mas acontecia somente o amenizar sutil daquele agito alojado em meu peito, fumegando em mim e me fazendo disperso como fumaça.
Após as duas horas de aula, minhas pernas finalmente acordaram para sua função de pernas e pude uma outra vez gozar de algum controle sobre estas, mesmo que ainda estivesse incerto de sua firmeza. Senhora Kim, como de costume, desfruta dos últimos trinta minutos de aula que ainda restam para tirar dúvidas pertinentes e reforçar os lembretes sobre nossas atividades.
Cutucando incessantemente minha coxa através da calça jeans, sentindo as unhas lixadas agirem como uma válvula de escape para toda a energia acumulada em mim, eu esperava ansioso pelo término da classe de literatura.
Durante a aula, as horas se passaram sem que eu sequer notasse, já que estava imerso demais em delírios particulares para captar qualquer informação que minha professora tentava, muito atenciosamente, passar a mim e ao resto do pessoal. Mas ali, enquanto faltam exatos vinte e oito minutos para o fim, o tempo que passou voando anteriormente volta a dar as caras, enfiando-se entre cada zeptosegundo restante, prolongando os acontecimentos logo agora que estou tão próximo da minha liberdade.
Repetidas vezes também, Yoongi me lembrava que é audível quando sacudo os pés embaixo da mesa, um pouco irritado por ter de dizer a mesma coisa mais de uma vez.
— Os assentos são pequenos, dongsaeng. Se não parar, eles vão perceber nosso desequilíbrio.
E eu sabia que sim, mas o meu corpo inteiro se recusa a seguir não apenas os conselhos do meu melhor amigo, mas a metade consciente de meu pensamento também.
Deus havia me lançado em um labirinto insidioso, sem saída, cujo limiar desemboca numa direção única: os gêmeos, um caminho traiçoeiro, atrativo o suficiente para que seja quase impossível não trilhá-lo com o olhar. O esforço que me demanda manter meus olhos longe daqueles dois se torna evidente por conta do meu rosto ardendo intensamente sob a luz branca da sala de aula, cuja sensação não abrandava nem mesmo no clima frio que nos revolve, e aceitar o peso daquela palavra — gêmeos —, tornando ainda mais real a ligação dos dois, justificando dolorosamente a forma assustadora como são idênticos, tornava tudo duas vezes mais complicado.
— Eles já perceberam, hyung. Você não o viu sorrindo para mim?
— Qual deles?
— O Jungkook, hyung.
— O Tweedledee. Ele realmente sorriu.
Outra vez, eu também tinha conhecimento desse fato. Apesar do mundo real não estar se apresentando para mim como realmente concreto, mas sim como uma difusão de todas as ideias mais toscas que o universo um dia já teve para a narrativa da vida de alguém, sabia que aquele sorriso era mais do que real. Era ludibrioso e como fruto de uma aposta ardilosa entre ele e o destino sacana — ou melhor, Deus, que tem agora revelado o fim de toda sua misericórdia antes voltada para mim.
Se um dia me apoiei em resquícios de sorte, implorando em pensamento por alguma piedade, por só mais uma chance, percebo que não disponho de mais nenhuma regalia desse gênero. Esgotei cada gota da paciência divina Dele para comigo e eu não faço ideia de como começar minha oração de redenção. Não sei como sequer iniciarei minha prece arrependida.
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Duas Vezes Desejo + jikook
Fiksi Penggemar[EM ANDAMENTO] Jungkook era a chama ardente instalando caos em toda rotina padrão de Jimin. Como polos opostos largados a propósito em um mesmo ambiente, Park foi atraído ao outro de maneira inevitável. Seu encontro transmutou toda e qualquer certez...